“ALGUNS PÁSSAROS NÃO NASCERAM PARA VIVER EM GAIOLAS. SUAS PENAS BRILHAM DEMAIS...”
- Red
Como todo fã de cinema, desde sempre gostei de discutir sobre os filmes que assistia. Expressar minha opinião. Dizer que um filme era simplesmente "bom" ou "ruim" nunca me bastou. Eu sempre precisei saber o porquê de ser bom ou ruim. Há dois anos conheci o Cineplayers e me identifiquei demais com o site, principalmente com a equipe. Então, quando decidi começar a participar da sessão de comentários para compartilhar minha opinião sobre alguns filmes (opinião essa que não passa disso, uma opinião, já que não tem embasamento técnico algum, já que não tenho conhecimento nenhum além daquele que qualquer um tem ao assistir um filme) sempre tentei esmiuçar o porquê de gostar ou não de determinado filme, sem me restringir ao simples "bom" ou "ruim".
Eis que decidi falar (escrever) sobre um dos mais difíceis filmes de se comentar sem fugir do simplesmente "bom" ou "ruim". Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redention, 1994) é, simplesmente, BOM por si só. Bom não, ótimo, sensacional. Praticamente perfeito.
Baseando-se no romance "Rita Hayworth and the Shawshank Redention" de Stephen King, o diretor e roteirista Frank Darabont (À Espera de Um Milagre e O Nevoeiro - também baseados em obras de King) nos apresenta um dos melhores filmes dos últimos 50 ou 60 anos. Um filme movido à base de um sentimento essencial a todo ser humano: a esperança.
Editado por Richard Francis-Bruce, o filme conta a emocionante trajetória do culto e sensível Andy Dufresne (o ótimo Tim Robbins), vice-presidente de um grande banco que, em 1947, foi condenado a duas penas de prisão perpétuas subsequentes por, supostamente, ter assassinado a sangue frio a esposa e seu amante, mesmo sem testemunhas ou a arma do crime ter sido encontrada. Na prisão, ele conhece Red (Morgan Freeman), conhecido prisioneiro capaz de conseguir itens de fora da prisão. Red já havia cumprido 20 anos de sua prisão perpétua e já perdera as esperanças de conseguir uma condicional. Logo, Red e Andy tornam-se amigos e o ex-banqueiro, que se diz inocente, usará toda sua habilidade em economia para fazer novos aliados e atingir seus objetivos.
A interação entre Andy e Red, através das muito boas interpretações de Tim Robins e Morgan Freeman, torna o filme um dos mais prazerosos e agradáveis exercícios de cinema do século XX. É quase impossível não se envolver no drama de Andy, pois mesmo que por boa parte do filme não saibamos realmente se Andy é ou não inocente, a prisão de Shawshank não parece ser o seu lugar no mundo. Andy parece, desde seu primeiro instante na prisão, saber que jamais passaria o restante de sua vida naquele lugar. A esperança de retomar sua vida e a aparente certeza de sua inocência perece mantê-lo vivo e de pé por anos a fio.
Mesmo sem tal pretensão, Andy assume um papel que, por vezes, não nos damos conta de que está sendo desempenhado: o de um elemento aleatório inserido contra a vontade em um determinado ambiente e acaba por alterá-lo por diversos pontos de vista diferentes, seja física ou emocionalmente. A cena dos detentos bebendo cerveja com os guardas no telhado e a cena da música erudita tocada no auto-falante no pátio são dois momentos apoteóticos que ilustram muito bem essa condição do personagem.
O modo como Andy lida com determinadas situações, como o violento e desumano Capitão Hadley (Clancy Brown, bom ator) e o corrupto e cruel Diretor Norton (Bob Gunton) nos fazem acreditar que aquele homem se alimenta de uma força sobre-humana e nos faz torcer para que ele abandone sua conduta centrada e concisa e revide à altura. Coisa que Andy nunca faz. Não. Andy é maior do que isso. Andy é inteligente. É racional. Andy sonha com sua liberdade. E sonha acordado. Diferentemente do que aconteceu com Brooks (James Whitmore) e do que parece estar começando a acontecer com Red, Andy luta parar não se tornar parte do meio em que vive, algo inerente e quase incondicional aos seres humanos, seja uma este ambiente seu trabalho, seu meio social ou mesmo uma prisão. O mundo não é mais lugar para estes homens. É difícil mensurar o tamanho de sua dívida com a sociedade, mas é certo que o mundo continuará sua cobrança até que sua vontade seja saciada. Pelo menos, naquela época.
Desta vez, apesar de considerar o título original bem mais apropriado, a tradução para Um Sonho de Liberdade se encaixou muito bem na proposta do filme. Parece que desta vez alguém assistiu ao filme antes de entitula-lo. Um Sonho de Liberdade não é só um dos melhores dramas de todos os tempos, mas também um dos grandes clássicos do cinema.
“Certa vez, eu vi um automóvel quando era criança. Mas, agora, eles estão por toda a parte....”
- Brooks
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