Há filmes que, por exagerarem no melodrama, acabam tendo um resultado final decepcionante. Há filmes também que, por serem baseados em obras de outros atores, como é o caso de ''Um Sonho de Liberdade'', cujo enredo foi adaptado de um livro de Stephen King, acabam desagradando a muitos. Mesmo apostando em uma padrão clássico narrativo, o diretor Frank Darabont convence nos detalhes e nos poderosos diálogos nesta obra tão amada do cinema.
''Um Sonho de Liberdade'' conta a história de Andy (Tim Robbins), preso acusado de ter matado sua esposa. Na prisão, ele conhece Red, agora prisioneiro como ele, que o ajuda a superar os traumas de viver atrás das grades.
Logo de cara, nos primeiros minutos de filme, somos ''jogados'' para dentro da tela. É como se pudéssemos sentir na pele o mal-estar do protagonista entrando numa verdadeira masmorra. O sentimento é de claustrofobia. A partir daí, o dia a dia na prisão é angustiante, e esse sentimento caminha com o espectador. As celas são escuras, há pouca luz. Uma metáfora. Sem luminosidade, não há liberdade. Esse clima pesado lembra muito o de "O Expresso da Meia-Noite", de Alan Parker.
Se há um personagem tão importante quanto o principal na trama, esse é Red, precisamente interpretado por Morgan Freeman. Sem exageros, a atuação dele é brilhante em todos os aspectos. Seja nos momentos em que ele incorpora um Red mais realista, seja nos momentos em que ele defende seu amigo Andy de outros companheiros de cadeia, seja na hora de tirar forças da onde não tem. Equilibrado e centrado, ele vai conquistando a confiança de Andy, até então um pouco ressabiado. Os dois se completam ao longo do filme, no sentido cooperativo da palavra.
A construção da amizade se faz presente ao longo dos 142 minutos de filme. Duração esta que é pouca para tanto sentimento flertado com o espectador. Mais do que um história de redenção, uma lição de vida. Se para muitos um enredo como esse é simples, para aqueles que já conferiram a obra de perto, viram que tamanha é a complexidade dessa coisa chamada relação humana. A amizade como formadora de caráter, como ferramenta para superar obstáculos.
Com uma bela fotografia e uma direção sem riscos, ''Um Sonho de Liberdade'' não apela para ângulos ousados de câmera, muito menos para trejeitos. Não há meios-tons aqui. A trilha sonora acompanha de forma linear a trajetória de um homem que passa mais de 30 anos preso, que conquistou um amigo e que teve de lidar com inúmeros percalços para quem sabe sair daquele ambiente opressor e provar que é inocente. É óbvio que Andy vai encontrar muitas desavenças até o clímax do filme, mas aos poucos ele vai conquistando a confiança de outros presos e até mesmo do diretor do presídio. Andy também vê de perto presos como ele, aparentemente inseguros, sofrendo abusos e torturas dos carcerários. Ele também é corajoso e não tem medo de falar o que pensa, mas é claro, sempre ouve os conselhos de Red, seu fiel escudeiro.
As injustiças são muitas nesta história, mas elas estão ali como estímulo para superá-las. Quem vê no problema uma desmotivação, nunca terá coragem para recomeçar. É aí que está a chave desta poderosa obra, que aposta na simplicidade e em diálogos realistas, que convergem com a nossa rotina. É difícil não se identificar. Em muitos momentos na nossa vida passamos por dificuldades e temos de procurar a força no outro, afinal, sozinhos não somos nada. Somos rejeitados. Caímos. Novamente ficamos de pé. Todos com certeza tem um Andy dentro de si, mesmo que lá no fundo da alma, no inconsciente. Afinal, já diria Mário Quintana: "A amizade é um amor que nunca morre". E disse tudo!
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