[Até que ponto é legal conceber um filho apenas para salvar um outro de uma grave doença?]
É a partir dessa premissa que o diretor norte-americano Nick Cassavetes constrói Uma Prova de Amor. Em linhas gerais, a história nos conduz a um julgamento prévio das personagens, que, por fim, é jogado por terra num final surpreendente, tocante e comovente. E parece que o cineasta vem se especializando em trabalhar com temas controversos… foi assim com Um Ato de Coragem, em 2002, e Alpha Dog, em 2006. Na nova empreitada, Cassavetes vai mais longe: coloca em cheque o desenvolvimento de seres humanos para fins discutíveis e nos posiciona de frente com o dia-a-dia de um doente em estado terminal (sem ser apelativo, vale lembrar).
O grande lance do longa, além de todos os entraves morais nele contido, é, como já disse, o julgamento das personagens. Cassavetes coloca o espectador contra a parede num grande dilema. Ficar do lado de quem? Talvez quem já tenha seus próprios filhos entenda a causa daqueles pais desesperados, que veem a morte de sua cria se aproximar sem poder fazer nada. Ao mesmo tempo, é impossível ignorar os sentimentos da menina mais nova, que, além de ser concebida só para salvar outra pessoa, ainda teria seu cotidiano afetado para o resto da vida. Complicado, né? O diretor vai fundo na ferida de todos nós: o egoísmo! O ser humano é egoísta por natureza, sentimento que é difícil de lidar e admitir. Contudo, Cassavetes saca um final alternativo da cartola, que foge da mesmice ao ignorar o happy end ao mesmo tempo que defende seus personagens de um apedrejamento moral.
Nesse quesito o roteiro se sai muito bem. Consegue esconder a sete chaves o ponto crucial da trama e deixa para o final a cereja do bolo. No entanto, há alguns pontos que gostaria de destacar (ao meu ver negativos). Temos no início uma pequena história sendo contada em off… na sequência, vemos mais e mais offs com imagens das pessoas ao fundo. Para mim, o uso excessivo desse tipo de recurso prejudica um pouco o andamento do longa, pois os diálogos acabam ficando em segundo plano. Há também o uso um pouco exagerado de flashbacks… nada contra, mas aqui, eles aparecem de uma forma mal organizada. O espectador menos atento demorará a entender que se trata de um período de tempo anterior ao da narrativa. Nada, no entanto, que prejudique a leitura da trama… muito pelo contrário: com o tempo percebemos que os flashbacks agregam muito ao enredo.
Apesar dos contras, trata-se de um bom roteiro. Mesmo as diversas subtramas ganham colorido especial, jamais aparecem como mero enfeite ilustrativo. Contribui com isso, é claro, um elenco inspiradíssimo. Li em algum lugar que Cameron Diaz está apática e pouco consegue representar uma mulher guerreira, a verdadeira leoa que deveria tomar conta da filha e contornar todos os problemas. Achei ela perfeita, auxiliada por uma ótima maquiagem – que a deixou com uma cara de acabada, típica de quem passou noites e mais noites em claro revirando na cama. Quem também merece destaque é a já famosa Abigail Breslin – a mesma que foi indicada ao oscar de melhor atriz coadjuvante por Pequena Miss Sunshine. Ela nos traz sensibilidade, humor e alegria como poucas… é uma atriz de grande futuro.
Por fim, Uma Prova de Amor é daqueles filmes que aparentemente ninguém da nada por eles. Confesso que comprei meu ingresso meio reticente. Drama estrelado por Cameron Diaz? Quase fugi correndo! Bom… felizmente me surpreendi, com ela e com tudo… isso que importa! O longa faz emocionar com simplicidade, com uma história bonita, de amizade, lealdade, companheirismo e amor de família. Recomendo a todos!
Curiosidade: Na história, Anna é apenas um apelido. Seu nome verdadeiro é Andrômeda. Na mitologia grega, Andrômeda era a princesa da Etiópia, que foi acorrentada num rochedo como sacrifício para salvar seu povo de um monstro enviado por Poseidon. No filme, Anna (ou Andrômeda) também é ’acorrentada’ e oferecida ao sacrifício, só que para outro fim – salvar a vida de sua irmã.
www.moviefordummies.wordpress.com
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