A Crise Generalizada.
Expoente do neo-realismo italiano, Victtorio De Sica dedicou algumas de suas obras a abrangência de questões que rodearam a sociedade italiana nas décadas de 40 e 50, mais precisamente sob os efeitos da segunda grande guerra, Umberto D é uma destas obras, e é injustamente colocada na sombra de Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette,1948),filme de mesmo objetivo ideológico do diretor. O cenário em Umberto D é um país em crise, sociedade insatisfeita refletindo em protestos pelas ruas, e esse tom é imposto desde os primeiros segundos, ainda durante os créditos iniciais. Mas fica claro que nem todas as pessoas sofrem as conseqüências de um colapso econômico – eficiência de De Sica em situar esta parcela -, a corda arrebenta no lado mais fraco e Umberto (o Umberto D. do título) está neste lado, e junto a ele grande parte do país também, que é de onde parte o ponto de vista desejado pelo diretor. A narrativa elabora bem a apresentação da situação, a passagem no hospital público deixa claro este desespero em conjunto, pessoas chegam a perder os limites simulando doenças e até mesmo fé religiosa para terem uma cama e um prato de comida, nem que seja por uns poucos dias, além da venda de bens de valor para arrecadar quantias insignificantes. Há um contraponto eficiente que coloca Umberto como refém da pobreza que lhe resta, enquanto também é testemunha de um mundo de luxo que não poderá ter, apenas observar, como se as janelas de seu apartamento fossem vitrines para o universo que lhe é apresentado mas não pode alcançar.
A Crise Individual.
Em meio à conturbação geral, e a corrida desesperada por emprego ou simplesmente um aumento, assim como em Ladrões..., Umberto D embasa sua narrativa nas investidas de um personagem no seu dia-a-dia, com um olhar realístico das ruas onde a pobreza às vezes é predominante e onde também o homem da vida real caminha sem plano ou destino, abordando cada oportunidade que lhe surge até culminar num estado de abandono que se torna cada vez mais natural. O comportamento de Umberto denota um paralelo bem mais que apenas temporal com a historia da supracitada obra de 1948, assim com pai e filho lá, aqui homem e cão (que seja exaltado que há um carinho genuíno nesta relação) percorrem juntos, chega-se a um ponto onde ele coloca o bem estar do animal como uma das suas prioridades, chegando ao estado de De Sica encerrar sua historia, diga-se de passagem, sem um fim definido, com cão e dono numa caminhada sem propósitos, num momento de despreocupação.
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