Desde 1995, quando foi lançado o primeiro “Toy Story”, a parceria entre Disney e Pixar virou um sinônimo de animações de qualidade. Por mais que as outras produtoras, especialmente a Dreamworks, melhorassem os seus trabalhos, nada se comparava, pelo menos ente as animações em CGI, aos espetaculares filmes da parceria das empresas fundadas pelos geniais Walt Disney e Steve Jobs. Porém, depois de usar todos as ideias possíveis, desde insetos e peixes falantes, passando por ratos cozinheiros e até mesmo um romance de robozinhos futurísticos, o poço acabou ficando mais seco e, para atender a demanda de um filme por ano que as produtoras vinham fazendo, as sequências acabaram sendo inevitáveis. Essa ideia deu certo com “Toy Story” (tanto que acabou virando não uma trilogia da Pixar, mas A trilogia do estúdio), mas a sequência do á não tão aclamado “Carros” não agradou nem as crianças. Os roteiristas então tiveram a ideia de fazer uma pré-sequência do filme que mais dava pano para manga, e assim acabou saindo, em 2013, “Universidade Monstros”.
O cenário do filme é interessante. Uma realidade paralela, com uma sociedade formada por monstros que só interagem com os humanos para assustá-los, com o objetivo de fabricar energia. A sociedade dos monstros só funciona com o medo da sociedade dos humanos. Esse filme mostra como os monstros chegaram ao ponto do primeiro filme, quando eles ainda eram universitários.
É impossível não se fascinar com a perfeição das animações da Pixar. Os caras se superam a cada filme! Logo na introdução, o espectador já fica deslumbrado com os detalhes das sequências. Dá para contar as folhas das árvores e da grama da universidade. O jogo de iluminação nos movimentos é espetacular, onde dá para perceber como a luz incide em cada escama dos monstros. As cores estão mais vivas, exatamente para dar um aspecto mais alegre afinal é uma universidade, de monstros realmente, mas ainda assim uma universidade. A trilha sonora, ainda que idêntica às dos outros trabalhos da Pixar, cai como uma luva no filme.
Esse filme, assim como outros do estúdio como “Up” e “Wall-E”, aposta em uma introdução marcante para encantar logo de cara o espectador. Aqui, o menino Mike Wazowski tem o seu primeiro contato com o mundo dos sustos. Fascinado, ele insiste que um dia será o monstro mais assustador de todos, mas ninguém o leva a sério, com exceção de um monstro que, impressionado com suas façanhas, lhe diz que será um grande assustador. Então a história começa com Mike chegando na universidade, tendo o contato com os monstros que o acompanharam pelo resto da vida: Sullivan e Randall.
É notável a criação e o desenvolvimento das personalidades, principalmente porque o espectador já sabe, pelo primeiro filme, como cada um vai acabar. Mike, que era tratado no primeiro filme como um chato metódico aqui é apresentado como um metódico, que se vê obrigado a abrir mão de seu carisma pelo fato dele ser considerado inútil para assustar. O diretor criou uma cena interessante, justamente sabendo que o espectador conhece os personagens. No momento em que Mike abre a porta do seu quarto, surge a silhueta de Randall, vilão em “Monstros S. A.”, acompanhado de uma música tensa. Só então ele sai da sombra e mostra como era o jovem Randall: um nerd inseguro e com a autoestima lá embaixo (a sua capacidade de ficar invisível serve de analogia para essa insegurança). Apesar dele ter um papel relativamente pequeno nesse filme, é marcante a construção de sua personalidade, abandonando o que ele realmente é para estar em um lugar acima dos outros. O mesmo pode-se dizer da relação dos que viriam a se tornar melhores amigos Mike e Sullivan. A antipatia que um sentia pelo outro é notada logo na primeira cena. Mas, ao longo do filme, eles percebem que na verdade eles se completam em suas qualidades. Essa união entre eles se dá por um torneio que eles são obrigados a competirem, juntamente com um grupo de outros monstros bem pouco monstruosos. Eis o ponto fraco do filme: sua previsibilidade. Já está na cara, desde o início que aqueles monstros fraquinhos e bonzinhos vão acabar vencendo a competição, mesmo que no final se tenha uma pequena reviravolta. Os personagens novos possuem lá seu carisma, em especial a diretora casca-grossa, que possui uma presença de cena muito boa.
Apesar de não chegar perto da qualidade vista em “Ratatoille” e “Wall-E”, esse filme é melhor que o primeiro, apesar da longa duração. Como todo filme da Disney/Pixar, existe uma série de mensagens em “Universidade Monstros”. Há quem veja essa relação sociedade dos monstros e da sociedade dos humanos como uma analogia da história das relações entre os países ricos e as nação pobres, em que a riqueza dos ricos é movida pelos gritos de desgraça dos pobres, desde que eles, assim como as crianças no filme, não tentem enfrenta-los.
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