Os filmes de ficção científica voltados para as aventuras no espaço se tornaram um gênero interessante, ou propício, para diretores e produtores fazerem uso das possibilidades de recursos de efeitos especiais disponíveis atualmente no mercado cinematográfico. O resultado é a apresentação, cada vez melhor elaborada, de regiões e criaturas alienígenas, imaginadas por seres humanos, envolvidas em narrativas – aventuras ou dramas – que nos soam distantes no espaço e no tempo, mas que, ainda assim, nos reconhecemos nelas de alguma forma.
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, um caro filme de Luc Bresson, é uma ficção científica que conta a história dos agentes (espaciais) Valerian e Laureline na luta em defesa da Terra e de seus aliados. A história se passa no século XXVIII, mas, logo no início, o filme procura apresentar, rapidamente, uma espécie de linha do tempo para nos mostrar o surgimento e evolução da estação espacial (e sua povoação) que divide o título do filme com o nome do agente espacial.
Até então tudo bem, porém a condução narrativa do restante do filme deixa bastante a desejar, e nem fazendo uso de todos aqueles recursos de efeitos especiais (dignos de elogio!), o filme consegue se erguer para um patamar favorável. A já batida crítica à dupla de atores que protagonizam o longa deve ser (e creio que sempre será) evocada em primeiro lugar. Há quem critique a tentativa (forçada?) de o filme fazer um par romântico naquele contexto, entretanto, essa abordagem é praticamente comum em filmes do mesmo gênero. Se olharmos do mais antigo – e clássico – Star Wars, ao recente Guardiões da Galáxia, encontramos algum relacionamento amoroso (complexo, de todas as formas) entre os protagonistas e valorizados na história.
De fato, o problema em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas nos parece, verdadeiramente, a dupla de atores, não seus personagens. Basta atentarmos para a primeira cena, quando eles discutem, tentando denotar o aspecto complexo do relacionamento, que percebemos suas limitações. Alguém bastante gozador ou inteligente poderia afirmar que a encenação chega a ser vexatória. Na falta de um ou de outro, afirmemos apenas que a cena não ficou boa e que os atores são fracos.
Não avalio o roteiro como de todo ruim, pelo contrário, depois dos efeitos, é nele que considero possível apontar alguns méritos. Primeiramente, penso que praticamente todas as “pequenas histórias” dentro do filme se “casam bem”, exceto, é claro, o relacionamento dos protagonistas e, talvez, a relação cármica de Valerian com a princesa do povo Pearl. Por outro lado, a história do planeta Mül, a do Comandante Arün Filitt e de Alfa (a cidade de mil planetas) foram bem exploradas e encadeadas a contento.
O filme de Luc Besson também procurou fazer com que o espectador se reconhecesse de alguma forma. Podia-se notar que a cidade de Alfa era uma conotação para um local onde a diversidade se abriga de forma harmoniosa e próspera. O planeta Mül parecia um “novo mundo”, onde uma civilização vivia em harmonia consigo mesma e com a natureza. Enquanto o Comandante Arün Filitt se revelava como um chefe disposto a fazer de tudo pelo seu governo e economia, enfim, pela supremacia governamental da qual fazia parte (ele chega a afirmar: “prefeririam arriscar destruir nossa economia devido a um bando de...” “Selvagens?”, completa Laureline, percebendo o grau do preconceito do comandante.)
Em relação às lacunas no roteiro, precisamos, antes de tudo, reconhecer que o filme foi baseado em uma história em quadrinhos francesa, presente na infância do diretor, certamente por isso notamos um vácuo na composição dos protagonistas, como se faltasse a eles algum tipo de construção dentro da própria história (parecem mais é que estão no enésimo episódio de uma série que protagonizam – e talvez o seja!). Já em relação às atuações, sobretudo da dupla de protagonistas (ao passo que me eximo de falar dos demais, inclusive Rihanna), talvez alguns atores tenham sido escolhas infelizes para o filme, o que comprometeu consideravelmente na qualidade da película.
Ouso comparar esse filme de Bressan com O Destino de Júpiter, dos Wachowski’s (ainda que reconheça mais acertos no de Bressan), ambos se propõem a uma aventura espacial, explorando bastante os efeitos especiais, estruturada em uma crítica ao poder das elites em detrimento dos menos favorecidos e protagonizados por um casal de atores limitados (ao menos em suas atuações nos filmes em questão). Como resultado, ficaram dois filmes extremamente marcados pelas críticas negativas. O estranho é que poucos espectadores parecem ter notado os reflexos negativos das atuações no desenvolvimento desses filmes, assim como a maioria parece nem ter se importado com a tentativa de crítica, nada velada, à forma como somos, ou podemos ser, vítimas de pessoas ou entidades governamentais poderosas que, ou nos usam, ou quase nada se importam com nossos modos de vida.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário