AÇÃO DESENFREADA DE BOA QUALIDADE EM UM GRANDE SUCESSO DA DÉCADA DE 90
Se hoje Keanu Reeves e Sandra Bullock são reconhecidamente maus atores, 21 anos atrás eles formavam um dos casais mais queridinhos da América. Tanto que Reeves emplacou uma série de superproduções do calibre de Matrix, Constantine, Advogado do Diabo e o desconhecido Johnny Mnemonic e Bullock uma incontável quantidade de filmecos de segunda categoria (Enquanto Você Dormia, Miss Simpatia), mas garantia de público, que acabaram alçando a atriz ao posto de musa de Hollywood. A produção responsável por tamanha fama do casal na época foi Velocidade Máxima (Speed, 1994), dirigido por Jan de Bont e roteirizado por Graham Yost, um filme de ação de primeira linha, mesmo cedendo à quase todos os lugares comuns do gênero.
O filme traz Reeves no papel de Jack Traven, agente especial do esquadrão anti-bombas de Los Angeles que se encontra no encalço de Howard Payne (Dennis Hooper), um terrorista que parece conhecer tudo sobre bombas e suas contramedidas. Jack acaba a bordo de um ônibus que carrega uma bomba que o impede de transitar abaixo dos 50km/h, ou os explosivos serão detonados.
Não tentando se vender como aquilo que não é, Velocidade Máxima assume-se como um legítimo filme de ação desde o início, sem trabalhar demais seus personagens nem seus propósitos, pois não teremos tempo para assimilá-los por causa da ação. E esta ação se da de forma crescente e ininterrupta. O filme mal começa e, de repente, já estamos em meio ao confronto com o terrorista que ameaça explodir um elevador repleto de trabalhadores de um edifício comercial e a partir daí o filme não pára mais. Até quando Jack dá uma pausa para um cafezinho uma cena explosiva (não resisti) acontece. E o mais bacana de todo o filme é que ele literalmente se assume simplista. Em um diálogo entre o protagonista e o vilão, este diz que até gostaria de ser motivado por algum ideal maior e mais nobre, mas no fim das contas é só pelo dinheiro mesmo. Não sei se foi intencional ou não, mas que deu um tom legal para o filme, isso deu.
E mesmo que algumas cenas sejam absurdas e nada verossímeis, elas não só são divertidas como também recebem um pouquinho de atenção por parte da direção e do roteiro. Quando o ônibus precisa fazer uma curva muito fechada, por exemplo, o protagonista pede para que todos os passageiros desloquem-se para o lado direito do veículo (o mesmo lado da curva) para evitar que ele vire. Outras, como o salto, não recebem tamanha atenção pelo simples fato de serem impossíveis de serem realizadas, mas funcionam impressionantemente bem. É notável o que o filme conseguiu fazer com tão pouco. Para se ter uma idéia do excelente trabalho feito aqui, eu tenho certeza que a maioria daqueles estão lendo esse texto agora conhecem muito bem este filme. E caso alguém não lembre, em 1994 chegaram às telonas algumas obras um tanto reconhecidas, como Pulp Fiction, Assassinos Por Natureza, Um Sonho de Liberdade, O Profissional, Priscilla – A Rainha do Deserto, Forrest Gump, O Rei Leão, e por aí vai. Então, um filme de ação pura e descompromissada come este se destacar em um ano tão rico para a história do cinema é de se aplaudir de pé.
Embora as situações convenientes e forçadas permearem desde o primeiro ao terceiro ato (a arma ficar sem munição na hora “h”; não interditarem o aeroporto mesmo com a situação apresentada; deixar Annie (Bullock) exposta em meio à ação policial e o fato de nenhuma via, seja rodoviária ou férrea, estar terminada), a boa direção – que não nos dá tempo para pensar nisso tudo – e as boas atuações do elenco sustentam Velocidade Máxima sem problemas até o final. Reeves e Bullock estão em uma sintonia absurda e suas gags funcionam com uma fluidez impressionante. Jeff Daniels, como sempre, está fantástico como coadjuvante de peso (é uma pena que um ator tão bom como ele não tenha tido uma carreira melhor reconhecida) e Dennis Hopper está daquele jeito que já estamos acostumados: completamente pirado em cena, mas de cara um pouco mais limpa devido ao não uso de drogas (por parte do personagem).
Jan de Bont, antes um bom diretor de fotografia de filmes de ação de peso (Caçada ao Outubro Vermelho e Duro de Matar estão em seu currículo) parecia ter um início de carreira promissora, mas depois deste, só entregou bombas estratosféricas como Lara Croft: Tomb Raider, A Casa Amaldiçoada, Twister e a pavorosa seqüência Velocidade Máxima 2 (já reconhecida por Bullock e Willem Dafoe como o pior filme de suas carreiras) e acabou por ser riscado do mapa das grandes produções.
Velocidade Máxima é isso. Ação pura e descompromissada que não se leva a sério, mas muito competente e que cumpre tudo aquilo a que se propõe. Provavelmente,se fosse lançado hoje o filme não faria nem metade do sucesso que fez, devido ao tom completamente descontextualizado para os tempos atuais, que exigem seriedade até mesmo nas animações da Disney, mas esse é também um dos charmes do filme: a nostalgia de uma época que se assumia como leviana e até inocente.
O meu filme favorito de ação.
Não chega a ser o meu favorito, mas é um dos grandes do gênero. E é impressionante como sua Tim licidade e agilidade ainda funciona até hoje. Valeu, Luiz!
Grande Elaine, muito obrigado.