Por momentos fico imaginando como seria o cinema sem que Georges Méliès nunca tivesse entrado em sua história. Talvez os filmes nunca iriam existir. Ou talvez sim, mas tardiamente e muitas obras-primas que conhecemos nunca seriam realizadas. As respostas nunca saberemos, mas uma coisa é certa, tudo começou com Viagem à Lua. Não que este tenha sido o primeiro filme realizado, muito pelo contrário, sequer foi o primeiro filme de Méliès, que já havia roteirizado, dirigido e atuado em vários outros curtas. Portanto a capacidade de contar histórias, seja ela verídico ou fictício, através de filmes já havia sido percebido por Méliès, mas todo o formato narrativo foi criado e desenvolvido a partir de Viagem à Lua.
Criado a partir das concepções científicas de como era o satélite natural da Terra. No início do século XX, inúmeras teorias de como era a Lua rodeavam os cientistas, que reuniram um grupo propondo uma viagem ao local para comprovar suas teorias. Chegando lá, percebe-se que o lugar é habitado por seres pre-históricos e exóticos, onde há várias tripos e um rei.
Tudo isso acontece em apenas 10 minutos, com todos os acontecimentos de forma rápida e acelerada. Acredito que Méliès não tinha noção do tamanho da obra que havia criado, já que este é considerado um dos filmes mais importantes da história de todo o cinema. Seu intuito era apenas expandir seu pensamento, sua criatividade, e compartilhar as emoções através de uma simples tela. O ideia inicial do cinema não mudou muito, apenas se adequou de acordo com sua época, mas continua com a mesma capacidade.
Dizer que Viagem à Lua é o filme mais importante de todos os tempos talvez não seria o apropriado. Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) e O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), por exemplo, tiveram contribuições imensuráveis para a sétima arte, realizando modificações e inovações narrativas importantissimas, do mesmo modo que Viagem à Lua fez, portanto dizer que estes dois monumentos cinematográficos são menos importantes do que o filme de Méliès é baba (ou um fato a ser discutido, mas o argumento de que os dois não iriam existir caso não fosse Viagem à Lua não convém).
O fato de Méliès exercer a profissão de mágico antes (e durante) de suas produções com certeza auxiliou na concepção do cinema na capacidade de criar algo surreal, inimaginável, ilusório. Portanto os primeiros traços do cinema criados foram a partir de ideias mágicas, literalmente. Logo estes traços nos lembra um grande gênero cinematográfico, a ficção cientifica, sendo Viagem à Lua um dos primeiros filmes do gênero já realizados. O pioneirismo de Méliès o fez ser um dos primeiros a realizar qualquer coisa relacionada ao cinema, inclusive na animação, sendo que uma das cenas finais do filme é composta por animações.
Méliès não tem o seu devido valor e reconhecimento nos dias de hoje. Para um homem considerado o responsável por idealizar uma das mais conhecidas artes, as homenagens são poucas. Mas recentemente ele recebeu (juntamente com seus filme) uma belíssima homenagem de um grande diretor, Martin Scorsese, em A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011). Independente de sucesso, criatividade, duração, cor, etc. os filmes de Méliès sempre serão eternos, assimo como ele, que sempre esteve a frente de seu tempo e sempre será um dos cineastas mais importantes da história.
Vi só esse e outro filme dele, Joana D'arc, eu acho. Mas este está muito a frente de seu tempo pela criatividade, que anda em escasses nos dias de hj - nem ficaria supreso se anunciassem um remake desse-.
Mas um remake desse não seria de todo mal, já que Viagem à Lua influenciou todo tipo de filme sobre vida fora da terra; um remake somente iria atestar mais ainda a importância desse. De todo modo, "refilmagem" é um termo comercial; "refilmagem" não existe, e qualquer obra é única, mesmo que tentem copiar quadro a quadro. Podemos encarar filmes como Alien - O Oitavo Passageiro, Avatar, O Planeta dos Vampiros, O Enigma do Outro Mundo e etc como novas ~versões~ (ou "refilmagens" - para uma melhor compreensão) de Viagem à Lua? Sim, creio que sim, e isso é honroso, pois são grandes obras que seguiram o legado de Méliès, e esse será refletido em qualquer filme sobre o tema. O incrível da arte é o poder de transformação (nada se cria, afinal) ao longo dos tempos (milênios), e tudo o que surgiu sobre o tema depois de Viagem à Lua foi uma transformação do que o cinema em seu estado de embrião fez, um ciclo. Enfim, divaguei demais, rs, mas serviu para mostrar meu ponto de vista.
Entendo o seu ponto de vista Victor, mas eu, particularmente, detesto "remakes". São realizados apenas com o intuito comercial, sem preocupar-se em superar o original em momento algum, assim passando uma imagem ruim à aqueles que ainda não viram o original. Quando você diz que Alien, Avatar, etc são novas versões de viagem à Lua, discordo, são frutos do genero cinematografico criado por Viagem a Lua, portanto participam apenas de um mesmo grupo com determinado tema, onde há abismos de diferença criatividade entre a maioria e o filme de Melies. Refilmagem vem ao oposto da concepção criada por Melies, em utilizar filmes para criar, inventar, expandir a capacidade imaginaria.
Mas venho tendo boas experiencias com "refilmagens" em meu genero preferido, onde há desgastantes temas, e a dificuldade e criar novas histórias. Falo do Western, onde, para uma tentativa de ressurgimento, novas versões vem sendo "frequentemente" (entre aspas porque não tão frequentemente assim) realizadas, acredito que seja dificilmente ressurgir apenas com remakes. Precisamos de mais "Tarantinos", que vem de encontro com o que Melies sempre propos com seus filmes.
Bom, mas as experiencias com Os Indomaveis, Bravura Indomita, e Django Livre foram mais do que validas.