Desde Aristóteles, na Grécia Antiga, que a ciência vem se desenvolvendo exponencialmente. Ao assistirmos Viagem à Lua é como se cultuássemos toda a construção intelectual do homem ao longo da história, seus sonhos e ambições. Georges Méliès escreveu seu nome na história como pioneiro do cinema e da Sétima Arte ao conceber, através de uma obra isenta de som, os sonhos dos homens que, um dia, conseguiram chegar lá. O pouso na lua ocorreu sim. Neil Armstrong em 1969, junto com milhares de pessoas, se orgulhou de ter deixado a marca de sua bota no argiloso solo lunar. Esse feito histórico para a humanidade influenciou e influencia várias pessoas até os dias de hoje, tamanha a magnitude que proporcionou.
O argumento histórico pode facilmente ser delineado quando se faz uma análise desse curta datado de 1902, porém os aspectos técnicos e narrativos merecem ser pincelados.
De modo a especular, pela primeira vez, a hipótese de vida extraterrestre, Méliès buscou clara e farta inspiração nos contos de H. G. Wells e os incorporou na sua obra. Os elementos da ficção, como as naves espaciais e os trajes tecnológicos, apareceram aqui pela primeira vez, sob uma perspectiva lúdica de quem vê o mundo com olhos de criança. Como se o universo fosse oriundo de um conto de fadas, Méliès brinca e insere referências múltiplas e acessíveis em sua obra mais conhecida até hoje, diria até mesmo atemporal.
Com uma veia artística aguçada, o francês responsável pela obra arquitetou bem trajes e trilha sonora, como num mundo mágico e experimentalista. Sua preocupação não é com a tipologia das personagens, muito menos com as problemáticas de seu pouco roteiro, mas sim com o delírio visual, o frenesi louco. Ainda que tenha se expressado de um jeito simplista ao abordar os inventos e anseios do ser antropológico, o diretor mostrou-se a frente de seu tempo, colocando a imaginação para falar mais alto. Existem alguns problemas, sim, como a montagem deficiente e os problemas de edição, porém, mesmo preto e branco, Viagem à Lua é uma viagem sem sair de casa. É uma passagem para o campo onírico e musical do sideral, tudo concatenado na mente do mentor Méliès.
Imagine um professor que convence seus alunos e colegas para uma viagem a um satélite natural da Terra? Isso pode parecer loucura, mas lá o negócio é pior ainda. Quando em território lotado de crateras eles chegam, se deparam com alienígenas que somem em forma de vapor com um simples toque de guarda-chuva, sem contar aquela cara engraçada da Lua. Tudo ambientado num cenário fantástico, repleto de cogumelos, seres e flores. Talvez exista até inspiração em Lewis Carroll ou Júlio Verne, mas a verdade é que nada é minimalista, tudo é previsto com o maior zelo e cuidado.
Um dia, quando criança, nós fomos questionadores, nos perguntamos a respeito de tudo. Hoje, talvez a melhor resposta para essas nossas inquietudes passadas seja assistir Viagem à Lua e esquecer que tudo existe. Fazer da vida uma poesia.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário