"A gente sempre pensa que é um super-homem. Que faz tudo. Que pode tudo. Que resolve tudo. Até o dia que você leva um pé na bunda."
José Renato (Irandhir Santos) viaja porque precisa. Porque é geólogo, então sua profissão o obriga a atravessar o sertão nordestino brasileiro para avaliar as localidades por onde um desvio de água de um rio da região passará futuramente. Cerca de trinta dias de viagem com a companhia apenas de seus pensamentos, seus sentimentos, o rádio tocando aquelas músicas bregas que tão bem representam ambos (“ela é um morango aqui do nordeste”) e as pessoas que cruzam seu caminho naquela região tão particular de um país que de tão cheio de regiões particulares mais parece um continente dentro de outro. Trinta dias de distância – por que o tempo vira medida de distância em certas ocasiões - é tempo pra caralho pra quem ama, e tudo em que José Renato pensa é voltar para os braços de sua “galega”. “A única coisa que me faz feliz nessa viagem são as lembranças que tenho de ti”, diz em dado momento, se referindo a moça. Viaja querendo voltar, porque ama sua “galega”.
José Renato viaja porque precisa. Porque o pé na estrada parece a única maneira de entrar em contato consigo mesmo e quem sabe aliviar a dor do pé na bunda que tomou de sua “galega”. “A única coisa que me deixa triste nessa viagem são as lembranças que tenho de ti”, diz em dado momento, se referindo a moça. Trinta dias de viagem é pouco tempo pra curar um coração partido. Quando uma “vida lazer” lhe é tirada nem toda música de dor de corno (nem mesmo a maestria de um Noel Rosa versando sobre "nosso amor que eu não esqueço", que "morre hoje sem foguete/sem retrato e sem bilhete/sem luar, sem violão") ou sexo com prostitutas de olhos alegres ou tristes é suficiente para curar as fissuras que já não são mais do solo que examina, mas do seu peito. Viaja porque não quer voltar, porque ainda ama sua "galega".
E o amor é universal, todos sabem. Tão universal que é particular de cada um e sempre parece diferente e igual. É tão universal que nem precisamos ver o rosto de José Renato em nenhum instante da produção que estrela, apenas fotografias estáticas e filmagens em super 8 que parecem captadas por ele próprio, para imaginar claramente a sua expressão ao dizer que "não aguenta mais tentar esquecer" seu amor. E será(emos) ele (nós) capaz(es) de esquecer um amor? Ou apenas, como em todo bom road movie, precisa(mos) se(nos) adaptar aos próprios sentimentos e aprender com a jornada a conviver com eles e seguir a vida? Por que todos queremos uma "vida lazer", claro, mas a vida de outra forma também não é válida?
No fim, José Renato parece descobrir que, sim, é válida. Que ao contrário de um road movie com duração determinada ou uma viagem onde se contam os dias, a vida segue por um tempo indeterminado e as dores, tal qual os amores, fazem parte do caminho. São solos prontos para serem apreciados. Ou pessoas prontas para serem conhecidas. Ou... Qualquer metáfora que queira, enfim... O que não é metáfora, apesar de parecer, é a coragem necessária para se jogar de um rochedo e mergulhar não na água, mas na vida que grita para ser vivida. "Galega" que diga às "pessoas amigas" que "lamenta e chora a separação" de José Renato. "Galega" que diga às "pessoas que ele detesta" que "ele não presta/que seu lar é o botequim". Ele (nós) segue(imos) em frente. Vive porque precisa e quer. Volta porque ama. Porque não ama. Porque quer. Ou nem volta. O que importa é que vive.
Cara, preciso ver esse. Só o título já instiga a gente.
FIlmaço, Cristian. O título é lindo e o filme tbm 😎