David Fincher é um dos meus diretores favoritos. Dentro do currículo do cineasta estão grandes obras primas como Clube da Luta, A Rede Social e Seven, e também algumas pequenas obras primas como O Quarto do Pânico e Zodíaco. Então foi com uma grande de entusiasmo que eu assisti ao filme menos conhecido de Fincher, intitulado The Game – ou aqui no Brasil, numa “tradução” péssima: Vidas em Jogo.
O enredo acompanha Nicholas, um homem bem sucedido financeiramente, porém, emocionalmente frágil, já que o suicídio de seu pai o assombra diariamente. No dia em que completa quarenta e oito anos de vida, Nicholas recebe de presente de aniversário: Um jogo exclusivo para cada jogador, que envolve questões físicas e psicológicas. E assim, a partir do dia em que seu jogo começa, Nicholas acaba entrando num verdadeiro desafio de rato e gato, que contém diversos mistérios e enigmas.
A trama é ótima. Mesmo que o roteiro pouco explore a empresa que proporciona esse tipo de divertimento (Serviços de Recreação do Consumidor), tenho que admitir que a premissa se encaixa perfeitamente dentro da carreira de David Fincher. Tramas paralelas, investigações policiais, muita ação, tentativa de homicídio, e um excelente personagem principal. Tudo isso está presente em Vidas em Jogo, o problema é que a qualidade que destacava os melhores trabalhos do diretor não está aqui.
Estão falando de envolvimento. O roteiro pouco permite que o público se envolva emocionalmente com o protagonista, e muito menos, com seus desafios. Assim, é fácil achar o filme desinteressante á partir de seus quarenta minutos, pois depois daí tudo começa a desandar e isso é culpa do roteiro.
O script ainda tem alguns furos grotescos que não ajudam em nada o desenvolvimento da história. E assim, ao chegar ao final vemos as inúmeras falhas que o roteiro tem, e a maioria delas estava ali desnecessariamente, com a função (apenas) de tentar manter o expectador intrigado com o mistério. E mesmo que tenha uma curta duração comparada á outros filmes de David Fincher, os 128 minutos se estendem ao máximo, criando uma exaustão irritante.
Mas, o roteiro tem várias qualidades – mesmo que os defeitos se destaquem. Os primeiros quarenta minutos são ótimos, porque constroem Nicholas e ainda consegue aguçar a mente da platéia – e é uma pena que isso se perca mais pra frente, já que o desenvolvimento (tanto de personagem, quanto de história) dá lugar á cenas agitadas e que no fim, não fazem muito sentido.
Comandado por Fincher de maneira ótima, Vidas em Jogo conta com uma direção eficiente, que apesar de não criar espetáculos visuais (uma das marcas registradas do cineasta), consegue elevar o nível de tensão e assim, fazer com que o expectador roa as unhas – mesmo não sabendo o que está acontecendo diante de seus olhos.
A produção ainda obtém sucesso num quesito essencial: O Elenco. E nisso Vidas em Jogo realmente se destaca. Além de contar com Sean Penn, um dos melhores atores em atividade no momento num papel com poucas falas, mas em um papel crucial, o longa ainda usa do potencial de Michael Douglas, que cria um personagem repleto de conflitos internos, que tornam a personalidade de Nicholas ainda mais “palpável”, e ainda, o ator consegue dar um ar de superioridade intelectual para o personagem nos primeiros minutos, para á seguir, mostrar que na verdade, Nicholas é uma criatura frágil e confusa.
Mesmo com todos os seus méritos, Vidas em Jogo não se mostra mais uma obra prima de Fincher por causa de seu roteiro esburacado. Tudo isso é comprovado em seus minutos finais, após uma cena PERFEITA, que deveria encerrar a história de maneira brilhante, o roteirista resolve continuar e assim cria falhas brutais.
Vidas em Jogo não chega perto de ser um filme ruim, ótimas atuações, um roteiro ora ótimo ora ruim, e uma direção muito boa. Mesmo assim decepciona. O porque?
ESSE É UM FILME DE DAVID FINCHER.
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