Videodrome - A Síndrome do Vídeo
Videodrome (1983)
(Texto postado no blog Uma Dica de Cultura. Link: http://umadicadecultura.blogspot.com.br/2015/11/videodrome-1983.html)
No início dos anos 80, foi lançado um filme difícil de digerir, um filme feito para pessoas que têm o estômago forte: Videodrome. É aquele tipo de filme que você precisa rever de vez em quando, pois o seu conteúdo e as suas mensagens são implícitos e revestidos de metáforas em boa parte do tempo. À medida que vamos amadurecendo, nós podemos compreender melhor o que ele quer nos passar.
A protagonista de Videodrome é interpretada de modo impecável pelo ator James Woods: é um pequeno empresário das comunicações chamado Max Renn, que, na companhia de seus dois sócios, possui um pequeno canal de televisão, a Civic TV, que tem, na sua grade de programação, apenas programas sensacionalistas, boa parte dela voltada para a veiculação de conteúdo erótico, o chamado “soft porn”.
E é justamente essa veiculação de “soft porn” que deixa Max insatisfeito quanto aos rumos de seu negócio: ele quer transmitir alguma coisa pesada, que choque os seus telespectadores e aumente a sua audiência. Por isso, no início do filme, chegam a ser engraçadas as cenas em que Max negocia com alguns empresários a aquisição de filmes pornográficos, inclusive com empresários japoneses, que lhe oferecem um conteúdo “soft”, que dá uma vergonha alheia de tão ridículo.
Falando assim, a impressão que fica é que Max é uma pessoa sem escrúpulo algum, capaz de qualquer coisa para prender a audiência e, como consequência, obter lucro com a sua atividade. Mas, ainda no início do filme, como participante de um programa de debates, Max, ao entrar em pauta o mal que ele supostamente representaria para a sociedade, enuncia os seus pressupostos: na verdade, ele seria um bem para a sociedade, pois expõe o seu público à vida como ela é, com toda a sua miséria e violência; com isso, as pessoas ficariam mais confortáveis com os seus próprios males da alma e estariam mais preparadas para enfrentar o mundo lá fora.
Um discurso bastante convincente, né? Mas, até então, o nosso anti-herói não tinha sido apresentado a um conteúdo que mudaria os seus paradigmas. Certo dia, Harlan (Peter Dvorsky), o cara que operava o sinal de satélite da Civic TV e tinha a capacidade de interceptar sinais de transmissão de todo o mundo, de forma clandestina, intercepta um sinal vindo da cidade de Pittsburgh, Pensilvânia, em que pessoas eram torturadas e assassinadas, aparentemente de verdade, em cenas de sexo pouco convencionais.
Max fora apresentado ao Videodrome. Muito curioso para conhecer a origem daquele programa perturbador, Max vai a Pittsburgh, onde tem contato com o mercado negro da pornografia e faz contato com Bianca O'Blivion (Sonja Smits), a belíssima filha do Professor Brian O'Blivion (Jack Creley), que estivera com Max naquele programa de debates, por videoconferência, defendendo a ideia de que a televisão se sobreporia à realidade um dia.
E é mediante esse contato com Bianca e Brian que Max desvenda a essência do Videodrome: ele é um programa capaz de alterar a percepção da realidade de quem assiste, gerando danos cerebrais irreversíveis por meio de um tumor; em última análise, ele teria o objetivo de entrar na mente da população, com o intuito de controlar a América do Norte (que crítica social!). O Professor Brian O'Blivion teria sido o seu criador e primeira vítima, tendo morrido alguns anos antes.
Agora, Max está infectado pelo Videodrome e passa a ser vítima de uma conspiração, que tem como objetivo utilizar o seu pequeno canal de televisão para disseminar aquele conteúdo assombroso. Mas quem estaria por trás disso tudo? Será que o nosso anti-herói consegue evitar que o Videodrome entre no lar das pessoas? Aqui, as alucinações de Max contam com a ajuda de efeitos especiais muito bem feitos para a época e com um trabalho de maquiagem impecável realizado por Rick Baker (Planeta dos Macacos, 2001).
Bom, essa é a minha dica de cultura de hoje. E não deixem de assistir ao Videodrome, mas tomem cuidado para que ele não domine a sua mente! E, ah, o filme Videodrome foi escrito e dirigido por David Cronenberg, cineasta canadense responsável por muitas obras-primas do gênero do terror; e ele conta com cenas de sadomasoquismo entre Max e Nicki Brand (a maravilhosa Debbie Harry), uma radialista com quem Max discute naquele mesmo programa de debates.
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