"Aqui estamos nós, com nada além de nossa inteligência e nossa vontade de salvar o mundo! Então, vamos ficar e lutar!"
O primeiro (e sensacional) Vingadores era um filme de origem. Sim, cada personagem já tinha sido apresentado ao espectador em suas aventuras solo, mas a equipe surgia ali, então a aguardada sequencia dos personagens lutando lado a lado ficava reservada para o final, em um plano sequência que empolga até os que não são fãs dos super-heróis. Nesse Era de Ultron a pegada é outra. Já conhecemos bem aquelas figuras e elas se conhecem bem. Nos primeiros minutos do filme já temos um novo plano sequência com os Vingadores ainda mais entrosados lutando em grupo, como a equipe que são, cientes de seus pontos fortes e fracos. Aí tudo se desenha até chegar o ponto que torna os heróis, bem, heróis: o ato de se levantar mais forte após a queda. Por que um herói não é forjado quando descobre seus poderes, mas quando sofre sua primeira queda e precisa se levantar, ciente de suas fraquezas e, paradoxalmente, por isso ainda mais forte.
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E se a ação explosiva logo no início poderia fazer pensar que o filme ia deixar tudo de lado para se dedicar às explosões e poderes, o engano logo é corrigido e recebemos um filme que apesar do número elevado de personagens, sempre encontra espaço para desenvolver as figuras que habitam seu universo. Assim, se no primeiro filme o Gavião Arqueiro era colocado para escanteio ao longo de quase toda a narrativa e Loki parecia um daqueles vilões loucos e genéricos, aqui todos, heróis e vilões, encontram espaço para brilhar, tornando o próprio Gavião Arqueiro o grande destaque da produção, mas jamais o único, já que os novos e antigos aliados - Visão, Feiticeira Escarlate, Mercúrio e Máquina de Guerra -, os heróis que já nos habituamos a ver - Homem de Ferro, Thor, Capitão América, Viúva Negra e Hulk -, e mesmo o novo vilão, que empresta seu nome ao título, encontram espaço para brilhar. O resultado disso é uma aventura muito mais madura, mas que jamais perde aquela combinação de comédia, ação e referências para os fãs que marcam os filmes da Marvel Studios.
Mas, a pegada é outra aqui. Existe um sentimento de urgência que faltou em diversos filmes da Marvel até então. Você realmente sente que a qualquer momento um dos heróis pode falhar, pode ser morto, e quando isso acontece - algo que a Marvel vinha desenhando desde os primeiros longas e finalmente teve coragem de concretizar -, você se pega segurando as lágrimas e entendendo que o que importa ali não são os poderes envolvidos, mas a disposição ao sacrificio. Pelos companheiros ou pelos inocentes que assistem uma batalha que mal podem dimensionar - como o Gavião comenta em dado momento, às vezes nem os heróis podem, ou faz algum sentido um homem lutar com arco e flecha contra robôs e alienígenas?. É a essência do herói, portanto. E muito disso é em função do robozão Ultron. Ok, Loki é um personagem interessante e divertido e Tom Hiddleston é o ator ideal ali, mas Ultron é outro nível, alcança um ar ameaçador que o asgardiano nunca arranhou (muitos méritos na conta de James Spader e sua dublagem sensacional, por favor) e motivações que convencem muito mais do que o desejo de dominar o mundo. As motivações, aliás, são uma constante aqui: se unirem-se para salvar o planeta é a motivação macro que une os Vingadores, no micro de cada um eles sempre parecem figuras prontas para romperem entre si, o que leva a criação de Ultron, claro, mas também aos lampejos que antecipam a já anunciada Guerra Civil. Daí a queda vir de dentro do grupo, pelas mãos de Ultron, símbolo das desavenças deles, e a recuperação vir de uma nova união onde todos se ajudam a superar os problemas individuais e como equipe.
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Tudo isso sem aquele peso excessivo que norteia o universo cinematográfico da DC desde seus primórdios (e que casou muito bem com os Batmans de Nolan, claro): os personagens fazem piada até quando estão a beira da morte, numa dinâmica que convence mesmo quando parece forçar a barra.
E se na hora do bicho pegar a coisa poderia desandar para um terceiro ato padrão de blockbuster, com uma batalha recheada de epicidade e efeitos especiais, mesmo ali Joss Whedon opta por um humanismo raro ao investir boa parte da ação na preocupação dos heróis em priorizar a vida dos civis, um conceito que amplia algo já visto no primeiro filme e que gerou muitas reclamações no concorrente Homem de Aço, onde o herói acabava matando mais inocentes que o vilão. Não que isso signifique que na hora do pau a coisa não esquente. Por que esquenta e muito.
Ver os heróis lado a lado tentando conter a fúria de Ultron (todo o terceiro ato em uma cidade que se transforma em um meteorito é de babar), a fúria uns dos outros (o Homem de Ferro trajando sua Hulkbuster para conter o Hulk é daquelas coisas que só podem ser descritas como um "orgasmo nerd") ou seus próprios medos (sempre que a Feiticeira Escarlate invade uma nova mente conhecemos mais de nosso heróis e eles próprios se conhecem) é empolgante como podemos esperar de um filme como Vingadores 2. E ainda há espaço para um romance dolorido entre duas figuras tortuosas que identificam muito de si um no outro e por isso mesmo temem ficar juntos.
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E no meio disso tudo, ação, comédia, drama, referências e preparação de terreno para o futuro (o Pantera Negra entra de vez no universo Marvel dos cinemas, e a cena pós-crédito [que, infelizmente, não traz o Homem-Aranha] deixa claro que tudo até aqui é só preparação para o que está por vir), há os atores que já agarram seus personagens de um jeito que fica dificil disassociar um do outro: os veteranos Robert Downey Jr. (Homem de Ferro), Chris Evans (Capitão América), Chris Hensworth (Thor), Scarlett Johansson (Viúva Negra), Mark Ruffalo (Hulk), Jeremy Renner (Gavião Arqueiro) e Paul Bettany (que até aqui era a voz de JARVIS e a partir de agora é o Visão), e os novatos Elizabeth Olsen (Feiticeira Escarlate) e Aaron Taylor-Johnson (Mercúrio) formam um elenco de peso que jamais decepciona. Divertem e emocionam uns aos outros e nós, espectadores.
E no meio disso tudo, há a alegria de ver a Marvel criando algo cada vez mais incrível nas telonas.
Valeu, Humberto 😁