VOZES ALÉM DA NOSSA COMPREENSÃO
O terror é um dos gêneros que mais geram expectativas quando um título é anunciado, devido ao grande número de fãs desta categoria. Geralmente frustradas, volta e meia essas expectativas são supridas com bons representantes do gênero. Vozes do Além (White Noise, 2005), filme que quase tirou Michael Keaton do completo ostracismo – quase – chegou surpreendendo a todos que duvidaram quando assistiram ao trailer, que não despertava maiores interesses.
Acertadamente se levando à sério até o último fio de cabelo, como todo bom filme de terror deve fazer, Vozes do Além já abre dando uma explicação científica do que seria o tal FVE (Fenômeno de Voz Eletronica), EVP (Eletronic Voice Phenomenon, no original), e citando Thomas Edson falando da possibilidade de se comunicar com os mortos através de equipamentos eletrônicos. Ora, quem contrariaria a palavra do Sr. Edson? Mais correto e eficaz ainda foi o susto inicial quando o nome do filme surge na tela, jamais esperaria por isso. Que susto!!!
O diretor Geoffrey Sax e o roteirista Naill Johnson investem sabiamente em soluções já vistas antes em outros títulos (o relógio pára justo na hora da morte de alguém, o rádio que liga e desliga sozinho, os chiados no celular), pois é melhor investir no seguro do que arriscar na originalidade. Ainda mais na primeira aparição ‘’daqueles que querem fazer o mau’’ – como nos são apresentados os espíritos – que, dado o enquadramento de Jonathan Rivers (Keaton) mais para a esquerda, com um espaço escuro e vazio sobre seu ombro esquerdo, já era esperado que algo surgisse ali, mas o dupla Sax-Johnson nos protege de maiores danos com a previsibilidade da cena. Não tem nenhum problema também o Reymond (Ian McNice) sair por aí falando pra quem quiser ouvir que ele se comunica com os mortos, afinal, isso é mais do que natural e o filme não pode perder tempo com construções muito elaboradas das situações e dos personagens, pois tem muito susto ainda pela frente. Por isso, Reymond não pára de entrar e sair da sala a todo instante sem a menor explicação, sempre deixando Jonathan ou Sarah sozinhos, pois assim fica mais fácil colocar o trio de fantasmas ao fundo e fazer a trilha subir ao máximo, gelando a espinha de qualquer espectador desavisado.
O comportamento inconstante e inconsistente dos personagens também é completamente aceitável, devido ao contexto ao qual estão inseridos. Por isso, é perfeitamente compreensível que Jonathan, mesmo após descobrir que espíritos malignos perambulam por aí e que não gostam de ser incomodados, chegando ao extremo de assassinar Reymond, monta um aparato idêntico ao do falecido em sua casa, mesmo na presença de seu filho pequeno. Atitude mais do que responsável de um pai.
Como é difícil explicar tudo o que estamos vendo na tela (como porque os espíritos andam livremente por aí, se pra se comunicar é um parto), devido a complexidade do assunto, o filme busca soluções em lados opostos ao da proposta inicial, pois mesmo dizendo-se científico e racional, Vozes do Além não encontra explicações lógicas para sua trama e acaba recorrendo à médiuns cegos que são capazes de ler mãos para explicar ao protagonista tudo o que ele não sabia. Saída mais do que inteligente do roteiro.
O roteiro ainda deixa no ar o porque de Jonathan receber mensagens de quem ainda não morreu e o porque de ‘’aqueles que gostam de causar o mau’’ (adorei isso!) precisarem de alguém para executarem seus planos, se eles mesmos o fazem em outros momentos. Da mesma forma, jamais saberemos como Jonathan conseguiu o telefone celular do detetive Smits ou como ele sabia seu nome, sendo que este não se identificou nem sequer deixou um cartão com o protagonista, mas com certeza esta foi uma opção para agilizar a trama. Não tenho dúvidas. Assim como o texto muitíssimo bem escrito, que possui diálogos que enriquecem ainda mais o filme como o seguinte:
- Jonathan Rivers: “Ela vai morrer!”
-Sarah: ”Você não sabe...”
-Jonathan Rivers: “Ela está na fita!! E vai morrer... porque está na fita... "
É muito gratificante ver um filme de terror que não invista apenas nas soluções visuais, mas também em diálogos refinados e inteligentes.
Com tantas qualidades, é fácil entender o status que o filme atingiu por aqui na época, mesmo sendo rechaçado lá fora. São filmes como esse que me fazem crer ainda mais nos rumos que Hollywood vem tomando.
Para quem assisti a monstruosa atuação de Keaton em "Birdman" nem acredita que o ator participou dessa bomba, provavelmente estava pagando a hipoteca... Possuí pouquíssimos momentos bons... Cristian e seus ótimos textos para filmes medíocres...
Como é que estes filmes fazem tanto sucesso por aqui é que eu não sei....
Valeu Lucas!!!!