Há dias em que uma pessoa não deve escrever comentários. Eu, quando escrevi o meu comentário a este filme, estava numa época da minha vida em que estava zangado com ele, e por isso o meu comentário ficou muito afiado e nem sequer expliquei bem o que tinha contra o filme. Mas, por vezes, é mesmo assim: se um Bernardo Gavina (WALL.E) é responsável pela eliminação (não obtenção de um Óscar) de um Fábio Mouzinho (Kung Fu Panda), uma pessoa fica revoltada e espera que todas as outras pessoas o fiquem. É o que é normal acontecer. Mas e se as pessoas não ficam indignadas? E se as pessoas apoiam o que aconteceu? E o pior: e se as pessoas ficam indignadas não com o facto de Fábio Mouzinho ter sido eliminado e sim com o facto de Bernardo Gavina quase ter sido eliminado? Aí, a pessoa entra em parafuso, começa a sentir uma raiva profunda em relação a Bernardo Gavina e chama-lhe todos os nomes que há, por sentir falta que as outras pessoas lhe chamem também.
Nota: não é suposto entenderem esta metáfora.
Mas seria este filme uma obra tão horrível como eu antes disse? Certamente que não. WALL.E é uma obra-prima da Pixar. Facto. Mas não funcionou comigo. Também facto!
Durante muito tempo me perguntaram qual era o meu problema para com este filme. Como na altura só saíam frases com rancor, não soube responder como deve ser. Agora que já passou, posso fazê-lo. Ora aí vai (AS PESSOAS QUE MAIS TEMEM O FUTURO NÃO DEVEM LER O RESTO DO PARÁGRAFO!):
Vivo numa época meio malfadada. Apesar dos avanços da medicina, dos robôs que fazem tarefas domésticas e dos novos planetas descobertos, todos os adultos nos fazem perceber que o mais provável é que o futuro da minha geração seja só um: a morte prematura. Se repararem bem, ouvimos falar disso em todo o lado. É 2012, é o meteorito que pode destruir a Terra em 2029, é o acelerador de partículas (que, por sinal, é uma das obras mais estúpidas alguma vez realizadas pelo Homem) que pode criar um buraco negro, é a falta de água, são as horríveis pandemias que podem vir a surgir…meu Deus! Já me chega! Sei que todos caminhamos na mesma direcção, mas caramba, tenho planos para a minha vida! Antes de partir gostava de fazer várias coisas e, quem sabe, deixar a minha marca. Mas como posso tentar construir o meu futuro se só me fazem vê-lo negro?
Essa foi a principal razão porque não gostei deste filme. Detesto filmes que me dêem tiros na alma. Só para terem bem noção, o filme Uma Verdade inconveniente, para mim, funcionou como um terror. E WALL.E, por muito que seja um filme de animação, é um filme do género “fim do mundo aos saltos”. Assusta a sério. E aquele final do género “Não entres em pânico!” não funcionou.
Devido a isto, percebi logo que o filme não poderia jamais receber de mim uma nota superior a 7.0. Tentei então ver se o filme teria qualidades que fariam por compensar o quão mórbido ele próprio é. Bom, não encontrei muitas. A animação era primorosa, mas o que mais se fazia notar eram os outros defeitos do filme, em especial aquele de o personagem principal, o robô WALL.E, ter sido moldado como uma personagem que devia obter a comoção de toda a gente. Afinal, deram-lhe olhos-binóculos muito grandes e límpidos, de fazer as meninas guinchar “Ai, que fofinho!”, puseram-lhe uma cara muito tristinha, fizeram-no falar pouco, estar ferrugento, ter pena da baratinha e apaixonar-se por uma robô (pouco) bonita sem ser correspondido. Para mim, essa moldagem funcionou ao contrário. Achei que tanta coisa já era exagero, e não criei muita simpatia pelo personagem. Tudo bem, o robô era simpático, mas inocente demais.
E há ainda o problema de a primeira parte do filme ser quase muda, o que não permitiu quase nenhuma piada. Estou habituado a que os filmes de animação tenham várias piadas por minuto. Estes elementos da história costumam garantir que o filme nunca perde o ritmo e suportá-la até às cenas mais importantes. Além disso, gosto muito de rir. É, senti falta das piadas, porque várias partes do filme não se suportaram sem ela.
Todavia, a uma certa altura do filme surge algo novo: uma nave onde vivem os humanos que esperam, um dia, poder voltar à Terra. Esta nave trouxe uma data de cenas que me impediram de sair do cinema com a sensação que havia perdido duas horas da minha vida inutilmente. A nave mostrou uma sociedade muito curiosa com robôs que fazem tudo pelos humanos, personagens um pouco mais interessantes que um robô ingénuo e trouxe a parte que eu achei mais memorável do filme: a luta dos humanos contra os robôs. A cena em que o capitão “parte o pescoço” ao robô-leme é uma das cenas que melhor me lembro deste filme que só vi uma vez (não vou ver muitas mais vezes; não sou masoquista). A luta contra a máquina foi muito ritmada e divertida. Gostei tanto dessa parte que cheguei a esquecer-me da Eva e do WALL.E por algum tempo. Pois, esses dois robôs não seguraram o filme.
Alguns meses se passaram desde que vi este filme. Continuo com medo de ficar deprimido (ou algo do género) ao vê-lo. E continuo convencido que Kung Fu Panda é melhor. WALL.E ficou, portanto, marcado na minha cabeça como um filme de terror involuntário, com apenas algumas partes inspiradas, que cometeu uma injustiça no Óscar e que é adorado por imensa gente. E, quanto mais elogios exagerados a este filme ouço, mais resmungo com ele e mais apoio “Kung Fu Panda”. Isso cria mais elogios por parte das pessoas que adoram WALL.E, e tudo recomeça num ciclo vicioso. Enfim, WALL.E é uma obra-prima devido à animação exemplar, à mensagem transmitida (eu não gostei, mas é um mérito conseguir transmitir uma mensagem tão importante num simples filme de animação) e à história única, mas eu não gostei muito.
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