A Disney regressa às origens e recupera um dos seus maiores clássicos, contando neste filme o atribulado percurso da adaptação de Mary Poppins para o grande ecrã. A atriz Emma Thompson brilha como P.L. Travers, a difícil e sarcástica autora da personagem que saltou dos livros para a magia do Cinema.
Ao Encontro de Mr. Banks é a história da atribulada relação entre Walt Disney (Tom Hanks) e a autora P.L. Travers, criadora da célebre Mary Poppins. Querendo cumprir o desejo das suas filhas de fazer um filme a partir do livro, Disney não descansou até conseguir obter os direitos, numa jornada de quase 20 anos que foi marcada, na pré-produção da obra, pelas exigências minuciosas e compulsivas da autora, que não quis que a sua personagem fosse deturpada pelos estúdios. Ao mesmo tempo, em flashback, o filme conta-nos as origens de Travers e as razões reais que originaram a personagem tão amada pelos leitores da sua época.
Pode ser caracterizado pela sua demasiada simplicidade melodramática (mais patente nos momentos de flashback) e pelos pequenos momentos cómicos que adocicam a tensão entre Walt Disney e P.L. Travers, mas se compararmos Ao Encontro de Mr. Banks à maioria das produções que têm saído dos estúdios da Disney nestes últimos anos, poderemos perceber que temos aqui uma bela surpresa.
Pegando num dos filmes mais icónicos da infância e do crescimento de várias gerações de espetadores, e que é uma das fitas mais conhecidas do imaginário Disney, Ao Encontro de Mr. Banks é um dos projetos mais bem conseguidos dos estúdios nos últimos anos, não só por retratar fielmente (apesar de haver algum floreado inevitável na construção do Walt Disney de Tom Hanks) todo o processo criativo e ético que conduziu à concretização de Mary Poppins e de todas as suas inesquecíveis performances e as músicas da trama, como também por contrapor os mistérios e o sarcasmo que rodeiam a personalidade de P.L. Travers e as dúvidas da escritora em relação aos preparativos para a adaptação.
O paralelo entre o passado e o presente de P.L. Travers explica-nos porque é que a autora protege tanto a sua personagem, e se o filme peca por possuir uma estrutura que é apenas competente, essa mesma estrutura sai valorizada pelas interpretações e pela construção da história de making-of. A lamechice pode ser difícil de suportar nos dilemas da infância da autora, mas Emma Thompson segura o filme e a sua personagem com garra e criatividade. Para quem espera uma experiência inovadora com Ao Encontro de Mr. Banks, esquece-se certamente que nem todas as fitas devem ser vistas da mesma maneira, e, apesar das falhas, este é um filme singular e com o seu quê de delícia cinéfila e emotiva. Mas só a interpretação da atriz torna esta fita inesquecível.
Com uma banda sonora cativante que recupera não só as sonoridades originais da adaptação de Mary Poppins como adiciona composições que captam bem a aura de magia e fantasia que sempre associámos à Disney, Ao Encontro de Mr. Banks perde por ser demasiado exagerado nas emoções, e excessivamente fofinho e bonitinho, mas ganha por nos contar uma história invulgar e surpreendentemente interessante.
A fiabilidade do argumento é grande, principalmente nas cenas em que se discute nos estúdios o processo criativo da narrativa (P.L. Travers insistiu que todas as conversas fossem gravadas – e um pedacinho de uma das gravações reais pode ser ouvida enquanto passam os créditos finais, vale a pena esperar mais um pouco na sala), e a batalha de exigências da autora não deixa de cativar o espectador, pela persona difícil e pouco amigável que Thompson tão bem representa.
A realização pouco imaginativa e minimamente cinematográfica de John Lee Hancock (talvez alguns se lembrem do injustamente nomeado para Oscar Um Sonho Possível) fica protegida por esses valores mais altos do filme. Afinal, numa película que, aparentemente, cumpre apenas parâmetros, também pode haver lugar para a surpresa, e neste caso a maior de todas é mesmo a senhora Emma Thompson.
E Tom Hanks não está nada mal como o Walt Disney que, apesar de ser demasiado perfeito para ser real (e um protótipo de auto-publicidade à própria marca), desvenda um pequeno véu de um dos traumas da sua vida (um daqueles que a Companhia quis sempre esconder). Talvez este possa ser um pequeno passo para a Disney conseguir ser um pouco mais liberal em relação à vida do seu criador. De referir também as personagens secundárias de Paul Giamatti, Jason Schwartzman, Bradley Whitford e B.J Novak., que aperfeiçoam o olhar dos bastidores de Mary Poppins.
Além de um filme que recria a realidade que levou à criação da ficção, Ao Encontro de Mr. Banks faz também um paralelo entre a persistência dos sonhos e a dureza da realidade, que quer impedir que os desejos de cada um de nós não se possam concretizar. Os filmes ajudam os espetadores a voar mais alto, tal como a fantasia musical de Mary Poppins, uma das mais deslumbrantes produções da Disney aqui recordada e reforçada para uma nova geração e para todos aqueles que, independentemente da idade, tenham curiosidade em descobrir, ou redescobrir, as aventuras cinematográficas da personagem interpretada por Julie Andrews. Uma delícia que toca no lado infantil de cada um de nós.
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