Fãs de filmes de super-heróis, por um momento esqueçam Marvel, DC, Fox e a discussão de que as linhas temporais de X-Men são bagunçadas e não fazem sentido algum. Desde o reboot da franquia, com o filme "X-Men: Primeira Classe (2011)", sob o comando do diretor Matthew Vaughn, a história tomou um novo rumo que se preocupava em contar a origem dos personagens como o primeiro filme não havia feito.
A verdade é que temos que respeitar muito a trilogia original, especialmente os dois primeiros filmes, dirigidos por Bryan Singer em uma época onde não se fazia filmes de super-heróis em grande escala como se faz hoje, mas é compreensível essa necessidade de modernização da história, pois "novos tempos, novas tendências".
Sendo assim, o saldo da nova trilogia estava muito positivo, com "X-Men: Primeira Classe" muito elogiado pelo seu tom mais sério e sua abordagem mais "realista", construído nas entranhas do horror de Auschwitz, enquanto "Dias de um Futuro Esquecido (2014)" foi recebido com opiniões mais mistas, pela tentativa de corrigir algumas pontas soltas e perguntas que haviam ficado no ar.
O segundo filme - já novamente sob o comando de Singer na direção - embora funcione muito de forma individual, pecou por ainda estar preocupado em amarrar tudo já mostrado até então sobre os X-Men no cinema e causou ainda mais confusão e perguntas que precisariam ser esquecidas no novo filme da nova franquia: "X-Men: Apocalipse".
Neste terceiro episódio, como já havíamos visto na cena pós-créditos do filme anterior, a figura de Apocalipse, idolatrada no Egito sob o nome de En Sabah Nur (Oscar Isaac) é ressuscitada em 1983 e começa a reunir forças que se tornariam seus "Quatro Cavaleiros do Apocalypse" para ajudá-lo a destruir a civilização como conhecemos, para que ele possa reinar no seu mundo apenas com os sobreviventes, as criaturas mais poderosas.
Vale lembrar que após os eventos do filme anterior, os mutantes já são mais aceitos e Raven, ou a Mística (Jennifer Lawrence), por ter salvo a vida do presidente, acabou se tornando heroína e o símbolo a ser seguido pelos mutantes escondidos pelo mundo.
"X-Men: Apocalypse" atinge um equilíbrio muito interessante por ser divertido sem ser bobo e por ter um clima tenso, onde vidas realmente podem ser perdidas, mas sem ser excessivamente sério. Entre erros e acertos, podemos destacar no roteiro de Simon Kinberg e na direção de Singer um prólogo sensacional sobre as dádivas e suas maldições, algo como "dê a alguém asas, e ele pode querer voar muito perto do sol; dê a alguém o poder de ver o futuro, e ele pode ficar com medo de saber o que vai acontecer; e dê a alguém poderes ilimitados, e ele pode acreditar que nasceu para dominar o mundo".
Esse texto, que traduz de maneira fantástica a questão central do filme, que é a de um ser que acredita que é dono do mundo pelos poderes que tem, é intensificado com uma sequência sensacional de abertura, que mostra como Apocalipse consegue viver por tanto tempo e como adquire seus poderes, auxiliado por uma trilha sinistra de John Ottman, que dá um toque religioso muito semelhante ao que o grande Jerry Goldsmith fez na magnífica trilha de abertura em "A Profecia (1976)".
Por mais que o filme funcione como um todo, o roteiro de Kinberg é mais uma vez seu calcanhar de Aquiles. Convém lembrar que ele foi o responsável pelo criticadíssimo roteiro do problemático "Quarteto Fantástico (2015)", uma das maiores decepções do ano passado. Aqui em "Apocalipse", Kinberg comete o mesmo erro do filme anterior, que é prolongar demais a origem dos personagens, o que influencia diretamente na desnecessária e excessiva duração do filme (2hs e 24min!).
Considerando que os filmes anteriores já vinham explicando origens e desenvolvendo o conflito entre a relação "mutantes x humanos", seria mesmo necessária mais uma hora de filme para continuar a preparação até o desenvolvimento da história? Neste aspecto, o filme "Capitão América: Guerra Civil", que apresentou no mínimo dois personagens novos de forma muito sucinta, poderia ser um exemplo a ser seguido pelos responsáveis por este filme. A origem de Scott Summers (Tye Sheridan) como Ciclope foi muito boa, mas já a do Anjo (Ben Hardy), Noturno (Kodi Smit-Mcphee), Tempestade (Alexandra Shipp) e a de Jean Grey (Sophie Turner), ou ficaram muito longas e desnecessárias, ou ficaram aquém do esperado, deixando o desenvolvimento dos personagens meio de lado.
Além do problema da excessiva demora para o filme desenvolver sua trama e gerar conflitos que realmente coloquem o mundo em risco, mais uma vez o personagem Magneto (Michael Fassbender) tem um papel de grande importância para o filme. Na verdade, imprescindível, pois além de ser a principal peça recrutada por Apocalipse, o filme tem a preocupação em dar muito mais minutos de cena a ele do que ao próprio vilão vivido por Oscar Isaac, por exemplo.
Mas vale ressaltar que o núcleo que envolve seu arco no filme apela muito para ao que chamo de "conveniência da ocasião", ou seja, tanto a nova família dele como seu novo emprego são usados de uma forma muito manipuladora no espectador, sem sutileza alguma e com diálogos até bregas. Alguns pontos também são subaproveitados, como a agente da CIA Moira Mactaggert (Rose Byrne), o surgimento de um culto que quer ressuscitar Apocalipse, mas principalmente os efeitos visuais, que nas cenas principais de ação são muito bem utilizados, como na cena da mansão ou na abertura do filme, mas que em outras cenas menores, beiram a qualidade de "Sharknado", sem exagero algum da minha parte.
Quanto à contribuição do novo elenco e já falando dos pontos positivos do filme, todos os novos atores que entram se mostraram boas escolhas. mas naturalmente alguns se destacam mais que outros. A surpresa é Olívia Munn como Psylocke, enquanto os experientes James McAvoy e Fassbender, como Prof. Xavier e Magneto, respectivamente, visivelmente são melhores atores e conseguem preencher melhor seus personagens com sua capacidade dramática.
Outro grande ator, Oscar Isaac, é muito prejudicado pelo visual do seu personagem, que realmente fica meio estranho e não tão ameaçador como deveria. Já Sophie Turner e Tye Sheridan também merecem elogios e causam boa expectativa pelo futuro de seus personagens. Outro aspecto legal de "X-Men: Apocalipse" é que o filme tem um visual e atmosfera únicos, equilibrando como eu mencionei no início um tom mais sério com uma trama divertida e o principal, o estúdio parece ter aprendido a lição de se fazer um filme de super heróis com cara de super heróis, ou seja, proporcionando interação entre a equipe (algo que parece óbvio, mas foi completamente negligenciado em "Quarteto Fantástico").
Noturno tenta ser um alívio cômico, mas quem realmente faz rir é Mercúrio (Evan Peters). Ele rouba a cena mais uma vez, e tem um momento de grande destaque no filme, Stan Lee faz sua participação mais "séria" no cinema até aqui, e algumas piadas funcionam bem, como a piada do terceiro filme, por exemplo. Há até uma espécie de humor negro dos realizadores em terminar este filme de forma muito semelhante ao que fizeram com - mais uma vez - "Quarteto Fantástico", mas curiosamente, o que ficou ridículo naquela oportunidade, aqui funciona muito bem.
A direção de Bryan Singer funciona aqui mais uma vez, mas já demonstra indícios de um certo "cansaço" das suas narrativas longas e lentas, isso já é recorrente desde seus sucessos antigos como "Os Suspeitos (1995)" e fracassos como "Superman: O Retorno (2006)". Talvez seja hora de um novo nome na direção, que consiga dar uma cadência mais ritmada aos próximos filmes.
Finalizando, "X-Men: Apocalipse" entrega o que promete, é mais um filme no mesmo nível dos seus dois antecessores da nova franquia. Apesar dos problemas mencionados aqui, de modo geral a experiência de assistir ao filme é divertida, e no fim das contas, é isso que importa em um filme de super-heróis.
O ponto principal deste filme é que ele tem momentos memoráveis, como as já mencionadas cenas da mansão e a abertura, além do confronto final que também é impressionante e a cena da participação do Wolverine. A Fox merece elogios por ter aprendido com seu erro nos filmes passados e pelo fato de não ter tido qualquer intenção de "copiar" tanto Marvel quanto DC, entregando um filme com identidade própria. Apesar do roteiro fraco de Kinberg, com diálogos expositivos e mais uma hora de origem desnecessária, o filme acerta no equilíbrio entre violência, seriedade e diversão, e mesmo que não signifique muito, Apocalipse acaba sendo o melhor vilão do ano até aqui.
http://www.loucosporfilmes.net/2016/05/critica-2-x-men-apocalipse.html#.V0MftvkrLIU
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