"O mundo precisa dos X-Men."
A saga dos X-Men no cinema sempre foi a mais conturbada entre as franquias de super-heróis, muito em função dos fãs da mesma que, ainda que conscientes de que os filmes contam com diversos pontos altos - e sempre é bom lembrar que um deles foi ser o pioneiro desse tsunami de adaptações de quadrinhos que aumenta a cada ano -, sempre fizeram careta para defeitos que talvez nem importassem tanto, como os uniformes excessivamente escuros, padronizados e sérios, que nada lembravam os coloridos individuais de cada herói e vilão das origens literárias, ou a linha do tempo confusa do universo mutante nos cinemas - como se não soubessem que a coisa só foi expandida depois do final de um planejamento inicial de três filmes e, claro, tomando a liberdade de ignorar que nos quadrinhos a coisa toda é ainda pior, mas enfim. Aí que anunciaram esse X-Men: Apocalipse e prometeram solucionar boa partes dos "defeitos" da franquia, incluindo-se aí evitar a overdose de Wolverine (papel que Hugh Jackman defende aqui em uma quase ponta) e focar nos outros importantes mutantes da equipe, como Ciclope (Tye Sheridan) e Jean Grey (Sophie Turner), que aqui, com a ação passando-se nos anos 80, são jovens com poderes recém descobertos.
E que de cara precisam lidar com o grande vilão dos X-Men, o que por si só torna o filme idiota pra caramba, afinal, tenta estabelecer Apocalipse (Oscar Isaac se esforçando inutilmente atrás da maquiagem pesada) como o "vilão definitivo", o ser mais ameaçador de toda a franquia, mas o colocando em rota de colisão com diversos heróis ainda longe de seu potencial máximo. O que ao vermos o tal do "primeiro mutante" sendo derrotado de maneira quase casual em meio a uma incompreensível destruição mundial criada com excesso CGI só deixa tudo pior, claro.
Esse excesso de CGI, aliás, é símbolo de um dos grandes problemas de X-Men: Apocalipse: A série que tanto no cinema como em sua origem sempre foi simbolo da luta das minorias por seus direitos civis, aqui se torna apenas um filme de ação qualquer, mais preocupado com a dimensão das explosões do que em criar um drama consistente para dar suporte às cenas onde o bicho pega. Mesmo a interação entre os diferentes mutantes, poderes e personalidades vistos ao longo da excessiva duração do longa é deixada de lado, impedindo-se que assim possamos ver cenas interessantes que humanizem boa parte daquelas figuras, algo que podia ser notado com destaque em X-Men: Primeira Classe, X-Men: DIas de um Futuro Esquecido e mesmo no criticado X-Men: O Confronto Final, que trazia muito dos dilemas fundamentais dos quadrinhos ao confrontar os mutantes com a possibilidade da cura para seu gene X.
Aí sobra para Michael Fassbender segurar sozinho qualquer identificação que possamos ter com a extensa galeria de personagens do filme com seu Magneto. Que o mutante é um dos personagens mais ricos saídos dos quadrinhos para o cinema já havia ficado claro na primeira trilogia, quando ainda era interpretado por Ian McKellen, mas o ator parece torná-lo ainda mais interessante ao deixar sempre claro o drama de um homem que cada vez que tenta se reaproximar de sua humanidade é forçado pela raça humana a abraçar seu lado mais monstruoso, o que rende o grande (e único) momento dramático do longa. Além disso, é sempre um prazer ver o ator contracenar com James McAvoy e seu Professor Xavier, a única figura que parece entender o adversário/amigo - o que torna uma pena o fato de o personagem de McAvoy ocupar menos tempo de tela do que poderia, já que é raptado pelo grande vilão para servir aos seus planos.
Se fica devendo no drama, ao menos X-Men: Apocalipse oferece duas grandes cenas de ação, uma delas trazendo um aperitivo do que virá a ser a última aventura solo do Wolverine nos cinemas, dessa vez com a classificação indicativa mais alta e, finalmente, uma dose minimamente aceitável de sangue para um personagem que ataca seus adversários com garras de adamantium. A outra, uma versão 2.0 do grande momento de Dias de um Futuro Esquecido, traz Evan Peters e seu Mercúrio novamente roubando a cena com sua irreverência e velocidade em um resgate que ao trazer como acompanhamento "Sweet Dreams (Are Made of This)", do Eurythmics, deixa ainda mais difícil de esquecer a cena após os créditos já que a canção fica martelando na cabeça junto trazendo mesmo que involuntariamente as imagens da ação. É uma pena, então, que o filme fique devendo um clímax desse nível, ainda que, novamente com o Mercúrio, tente criar uma cena catártica para nos fazer esquecer disso.
Se colocando envergonhado na posição de filme mais fraco da franquia dos mutantes - apenas como equipe, claro, se formos contar aquela coisa com o Wolverine e "Deadpool" a parada fica desleal -, X-Men: Apocalipse deixa várias pontas soltas para resolver em suas continuações, como a entrada de Tempestade (Alexandra Shipp, que até se esforça, mas precisa abraçar uma personagem que é mera capanga de um vilão fraco) para a equipe, o relacionamento de Ciclope e Jean e, claro, a revelação para Magneto de que Mercúrio é seu filho, algo que já ficava sugerido no filme anterior. Fica assim a possibilidade que a franquia reencontre seu rumo, de preferência se preocupando mais em contar com um roteiro bem escrito do que em agradar os fãs com uniformes coloridos que remetam aos quadrinhos.
Concordo com cada vírgula de seu texto. Que filme chatinho! E olha que adoro X-Men. Só acrescentaria que o vilão, além de ser mal construído e unidimensional, ainda tem aquele velho e batido plano de destruir a Terra, que já não não tem mais graça nenhuma.
Tentaram agradar os fãs na base da gambiarra, colocam uniformes coloridos pra dar aquela empolgação no final mas põem a Mística como mentora deles. E o que vem agora? A molecada já começou a primeira missão vencendo o vilão mais poderoso.
Bom - ou péssimo? - ver que não fui o único BEM decepcionado com o filme, pessoal...