“Eles querem nos curar. Mas eu digo pra vocês, nós somos a cura!”
X-Men: O Confronto Final, desfecho da trilogia dos mutantes da Marvel é tido por muitos como o mais fraco exemplar da série, não raramente sendo acusado de afundar o trabalho estabelecido por Bryan Singer nos filmes anteriores. Discordo completamente disso, não apenas considerando esse longa tão consistente quanto os dois primeiros capítulos, mas também como o melhor da franquia estrelada por Wolverine (Hugh Jackman), Professor Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen) e outros personagens interessantes, desenvolvendo seus protagonistas e apresentando ação digna das figuras que o estrelam.
Iniciando onde X-Men 2 parou, O Confronto Final mescla duas das mais famosas narrativas dos quadrinhos dos mutantes em uma única e épica trama. De um lado temos a adaptação da saga da Fênix, onde descobrimos que Jean Grey (Famke Janssen) não morreu no filme anterior, retornando com uma nova, perigosa e descontrolada personalidade (a tal Fênix) e revelando poderes maiores que os de Magneto e Professor Xavier. Do outro temos a revelação da cura para a mutação, algo que divide os mutantes em dois grupos – aqueles que buscam tornar-se pessoas “normais” e claro, os que se opõe percebendo o perigo de um novo holocausto por trás da ideia (“Já fui marcado uma vez, não irão me marcar de novo.”, diz Magneto ao comparar a situação com sua prisão em um campo de concentração nazista). Conforme a trama avança, ambas as narrativas resultam em um único e impactante desfecho, deixando pelo caminho baixas de personagens importantes e reservando emoções fortes aos espectadores.
Aprofundando os personagens apresentados nos longas anteriores e acrescentando novas figuras (com destaque para o Fera (Kelsey Grammer), um mutante de aparência animal, mas que revela-se inteligente e diplomático), O Confronto Final por diversas vezes foge da ação para focar-se em seus personagens e seus dilemas. Assim, podemos contar com belos momentos intimistas, como ao vermos a Vampira (Anna Paquin) desejosa pela cura mutante para finalmente se sentir como uma pessoa normal, já que seu poder a impede de tocar as pessoas sem feri-las. Da mesma forma, é interessante constatar como mesmo pronto para iniciar a guerra entre humanos e mutantes, Magneto permanece respeitoso ao amigo Xavier (e não leia o restante desse parágrafo caso não queira receber um spoiler), lamentando que o companheiro tenha que ter morrido para que pudesse seguir com seus planos.
Sendo assim, mais do que personagens prontos para serem explorados em explosões e lutas, os X-Men são pessoas complexas e tridimensionais. Não há vilões em O Confronto Final. Se Magneto e sua irmandade de mutantes se posicionam contra os “mocinhos” isso se deve muito mais ao instinto de sobrevivência do que ao simples ódio desmedido, já que percebem que serem forçados a cura pode ser apenas questão de tempo, como as armas com a vacina evidenciam. Da mesma forma, o próprio conceito de mutantes ansiando por uma cura, mesmo após anos de auto-aceitação, revela apenas o quanto humanos são, afinal quem não gostaria de nunca precisar se preocupar com diferenças sendo apontadas constantemente? E é interessante perceber como os personagens parecem negar que curar-se de suas mutações não os torna automaticamente “aceitos” por toda a sociedade, já que a discriminação poderia continuar pela cor da pele, sexualidade ou religião.
Não se esquecendo, no entanto, de tratar-se de um filme de ação, O Confronto Final entrega as melhores cenas do gênero presentes na franquia. Acertando o tom e escala que nos filmes anteriores constantemente parecia abaixo do que os personagens e seus poderes poderiam render, diretor Brett Ratner (substituindo Bryan Singer, que comandou os anteriores) entrega batalhas impressionantes e que envolvem dezenas de personagens com as mais variadas mutações. Assim, se assistir Magneto movendo uma gigantesca ponte por si só impressiona, a batalha que segue essa sequencia eleva ainda mais o status da produção, culminando em um combate que encerra em grande estilo as aventuras dos mutantes – apesar de em alguns momentos resvalar em efeitos visuais pouco convincentes.
Mantendo o ótimo trabalho do elenco recheado de nomes de destaque (entre os quais Hugh Jackman e Ian McKellen permanecem como os melhores), O Confronto Final se revela um desfecho excelente para sua franquia – algumas pontas em aberto evidenciam que as coisas não acabam por aqui, provavelmente sendo retomados em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido – e ainda consegue, em retrospecto, tornar os longas anteriores ainda melhores.
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