"O que você procura é muito maior do que jamais imaginou. Sua alma nunca ficará tranquila até que encontre este lugar. É o seu destino."
É uma aventura, daquelas que coloca um personagem por anos enfrentando perigos em busca de algo. Mas é também um filme de James Gray, então ele começa e morre nos laços familiares (ou na falta deles).
A aventura, então começa (relutante, vejam só) e termina como uma forma do explorador britânico Percy Fawcett interpretado por Charlie Hunnam acertar contas com o passado, tanto quanto uma obsessão de encontrar a tal cidade perdida do título, que ele passa a chamar de Z. O protagonista se joga na floresta amazônica num primeiro momento para reparar a herança deixada por seus antepassados - "ele escolheu os ancestrais errados", diz alguém sobre o personagem logo no início do filme -, que o amaldiçoaram com uma posição social baixa que nem seu cargo militar relativamente alto consegue superar. E quando lá se embrenha pela última vez, já com os cabelos brancos que a idade trouxe consigo, acompanha o primogênito numa tentativa tardia, mas válida de se reaproximar de um rapaz - seu primeiro filho, interpretado nessa fase por Tom Holland - que, mesmo sem ter visto crescer por causa da distância que um oceano lhes trouxe, sabe conter muito de seus instintos aventureiros.
O "eu te amo" trocado perto do fim, com uma sinceridade que a narrativa não permitira até então, acaba não ser a Z esperada por exploradores e, talvez pelo público que ansiava pelo desfecho de filme/expedição, mas parece o natural em Gray. Troca-se o "Eldorado" por uma intimidade derradeira entre pai e filho que o protagonista jamais pôde ter com o seu velho - "conhecemos o seu pai", lhe diz alguém apenas para ouvir como resposta um "eu não" -, uma intimidade que parece ser sempre o desfecho para o qual as obsessões dos personagens de Gray parecem lhes levar: os olhares de um filho e sua mãe em Amantes; o abraço depois de tempos, fora do foco da câmera, no anterior Era Uma Vez em Nova York; e, claro, há a troca de "eu te amo" dos irmãos de Os Donos da Noite, finalmente do mesmo lado do jogo, que ecoa nos momentos derradeiros de Z.
Assim, por mais que evoque Conrad, Coppola, Herzog ou seja lá mais quem em certos pontos, Z é, definitivamente, um filme de James Gray, que não fica nem um pouco deslocado ao lado de seus antecessores. E ao que parece depois de seis filmes cada vez mais diferentes e similares entre si, não importa quantos mais ele faça, sua filmografia se manterá inabalável como uma das mais coesas e interessantes do cinema atual.
Belo texto, Pepe!