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Críticas

Cineplayers

Após reinvenção da franquia no ótimo Cassino Royale, 007 passa a ser outro filme de ação pós-trilogia Bourne.

5,0

Não existe verdade que contradiga a máxima de que James Bond é o mais clássico dos espiões do cinema. Tendo protagonizado 22 filmes, Bond passou por diversas mudanças, incluindo as físicas, já que seis atores no total interpretaram o charmoso agente. Quando Daniel Craig entrou na franquia, o primeiro espião loiro da série, muito foi falado e criticado antes mesmo de que algo fosse visto. E com 007 - Cassino Royale, de 2006, aconteceu a renovação da série, que acabou por agradar fãs e ainda agregou uma grande parcela de público que nunca havia visto uma aventura sequer de Bond anteriormente. Com Quantum of Solace ("quantia de consolo", em tradução literal), esse público que desconhecia o passado do espião até então pode ficar bastante satisfeito, porém quem espera que a série siga a evolução do personagem, levando em consideração seu passado, deve estar preparado para se decepcionar quando for assistir ao novo filme.

Quantum of Solace se inicia exatamente onde o anterior terminara, o que o faz ser a primeira seqüência direta de um outro filme da série 007, e que conseqüentemente exige do espectador uma maior interação nos fatos ocorridos no filme de 2006. Com a morte de Vésper Lynd, Bond está dividido entre seguir com sua missão ou se vingar daqueles que mataram sua amada. Quando descobre um agente infiltrado na organização que trabalha, Bond segue uma série de informações que indicam as intenções de uma poderosa companhia chamada Quantum, que nem o Mi6 ou a CIA conheciam.

O roteiro do trio Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis, responsáveis pelo texto de Cassino Royale, não funciona como deveria em um filme que pretende seguir com o que já fora apresentado anteriormente. Funciona para Bond, que com a ajuda de Daniel Craig passa a deixar transparentes as inquietações que passaram a atormentá-lo após a morte de Vésper, embora continue frio e muito sério. M, interpretada pela excelente Judi Dench, interessantemente passa a ter mais tempo de tela, o que desmistifica a personagem e a humaniza um pouco mais. 

Já os novos personagens não são tão memoráveis como tantos que passaram anteriormente pela franquia. Aqui temos Camille como uma esquecível bondgirl, que mesmo com a beleza e esforço da ucraniana Olga Kurylenko, é uma personagem que fica desinteressante por sua história extremamente clichê e descartável, que existe apenas para criar certa empatia e identificação com Bond e o momento conturbado que está vivendo. Gemma Arterton aparece e sai da história tão rapidamente que nem se pode julgar sua personagem, a não ser pela falta de necessidade da mesma. Quanto ao vilão Dominic Greene, outro personagem pouco desenvolvido, fica o pesar pela má utilização do grande Mathieu Amauric, que entrega uma interpretação correta, por menos tempo de tela que possa ter.

Intencionados a deixarem o personagem mais moderno, os roteiristas escreveram um filme seguindo os passos de outro agente que fez muito sucesso nos últimos anos: Jason Bourne. Antes de Cassino Royale o que poderia ser comparado entre os espiões eram apenas suas iniciais, J.B., porém agora é fácil que se identifique uma série de semelhanças entre ambos, ainda mais quando a trama de vingança pela morte de uma mulher passa a fazer parte do que os impulsiona a agir. Vale para justificar tal afirmação ainda a participação de Dan Bradley no filme, diretor de segunda unidade de A Supremacia Bourne e O Ultimato Bourne, que dirigiu algumas seqüências de ação no projeto. Infelizmente, não com a mesma competência apresentada nos filmes do Bourne.

Ainda sobre direção e as seqüências de ação do filme, grande parte do demérito de Quantum of Solace é ocasionado pela entrada de Marc Forster no comando da produção, escolha que gerava curiosidade desde que fora anunciada, ainda mais quando se analisava a filmografia de Forster, repleta de dramas e filmes psicológicos. É correto afirmar que o que falta a Forster é a experiência necessária para comandar algo do gênero, ainda mais em um filme que delega tanta importância às suas cenas de ação. As seqüências também são prejudicadas pela montagem frenética de Matt Chesse, colaborador habitual do diretor desde sua estréia em Gritos na Noite, e Richard Pearson, editor que dentre seus trabalhos, não por acaso, tem A Supremacia Bourne. Os montadores inserem uma infinidade de cortes nas cenas mais ágeis, as deixando praticamente ininteligíveis, o que pode ser identificado já na seqüência inicial do filme, onde ocorre uma perseguição de carros na Itália. 

Deixando de lado a elegância e alguns maneirismos do personagem, além de situações clássicas que sempre estiveram presentes nos filmes anteriores, como a frase "Meu nome é Bond, James Bond", a renovação das aventuras do espião no novo filme continua a ser interessante, porém quando comparada a seu antecessor deixa muito a desejar. É um exemplo do caso comum de que quanto melhor se faz, mais se espera do que ainda será feito.

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