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Críticas

Cineplayers

Ainda que pouco acrescente ao que foi apresentado na produção anterior, novo James Bond é um eficiente filme de ação.

6,0

Após décadas sendo fiel à mesma fórmula, a série 007 entrou em um novo momento em 2006, quando os produtores decidiram partir do zero e reinventar completamente o personagem. Claramente influenciada pela trilogia Bourne, a franquia apostou, em Cassino Royale, em uma trama mais realista e violenta, além de transformar o herói intocável James Bond em um espião de carne e osso, repleto de falhas. O resultado foi um dos melhores filmes – se não o melhor – e a maior bilheteria mundial de toda a história da série.

007 – Quantum of Solace é uma continuação direta da produção anterior, começando poucos minutos após o encerramento de Cassino Royale. Agora, Bond, ainda sofrendo pela morte de Vésper, toma conhecimento de uma organização poderosíssima chamada Quantum, que não apenas esteve por trás dos acontecimentos do primeiro filme, como também possui interesses obscuros em um golpe de estado na Bolívia. Enquanto busca sua vingança, o agente une-se à bela Camille para se aproximar de Dominic Greene, um dos líderes da Quantum.

Desta vez, quem assume o comando do navio é Marc Forster, cineasta tão talentoso quanto versátil, responsável por produções com temáticas distintas como A Passagem, Em Busca da Terra do Nunca e O Caçador de Pipas. Arriscando pela primeira vez no gênero ação, Forster demonstra novamente sua capacidade, entregando um filme ágil e eficiente, ainda que possua sua parcela de problemas. Quantum of Solace é uma produção que funciona sozinha, mas perde quando comparada à aventura anterior dirigida por Martin Campbell.

A grande surpresa fica por conta das ótimas cenas de ação. Em momento algum, Forster demonstra inexperiência no assunto, criando momentos intensos e que exploram o caráter bruto do novo James Bond. A escolha em utilizar cortes rápidos e tomadas com a câmera na mão pode ser perigosa, mas em Quantum of Solace a opção realmente funciona de forma a aumentar a tensão e refletir a urgência das situações – algo semelhante ao que Paul Greengrass fez nas duas últimas produção de Jason Bourne. Como resultado, é impossível não grudar as unhas nas poltronas do cinema na perseguição de Bond pelos telhados ou aplaudir a excelente seqüência passada na ópera.

Além disso, Forster imprime um ritmo verdadeiramente intenso a Quantum of Solace. Quando não está correndo, dirigindo ou explodindo coisas, Bond está conseguindo novas informações que fazem a trama andar. Deste modo, a história nunca fica parada. Não há um mero momento de descanso ou tédio no filme. Pelo contrário, o espectador é jogado de uma cena de ação para a outra sem tempo para respirar, tendo que ficar atento para não se perder no desenvolvimento do enredo.

Este, porém, não é tão elaborado quanto em Cassino Royale. Escrito pelos mesmos Paul Haggis, Neal Purvis e Robert Wade, o roteiro de Quantum of Solace não reserva grandes surpresas e é simples em seu desenvolvimento, optando por não explicar muito sobre a Quantum – o que provavelmente será realizado no(s) próximo(s) filme(s). Esta opção, aliás, resulta em um momento tanto arriscado como estranho, quando Forster opta por não mostrar o interrogatório de Bond com um dos vilões, quando ele revela informações sobre a organização. É, de certa forma, uma sacanagem com o espectador, pois os personagens terminam o filme sabendo mais sobre a Quantum do que a platéia.

O roteiro peca também no desenvolvimento do personagem. Ainda que Daniel Craig continue perfeito no papel, combinando o aspecto irascível e frio com certa vulnerabilidade emocional, a trama de Quantum of Solace não acrescenta muito ao novo Bond. Há, claro, a questão da busca pela vingança e do ressentimento pelo que aconteceu com Vesper, mas isso é apenas mencionado por outros personagens três ou quatro vezes, sem qualquer reflexo efetivo no personagem. Bond continua muito mais humano e falível do que em obras anteriores – agindo por impulso, errando com freqüência e sempre prestes a explodir –, mas essa percepção ainda é resquício do que conhecemos no filme anterior. Quantum of Solace não leva o personagem adiante.

O mesmo vale em relação aos outros personagens. O roteiro ainda tenta trazer uma história de fundo para Camille, mas essa é tão clichê que só resta mesmo se impressionar com a beleza de Olga Kurylenko. Enquanto isso, Mathieu Almaric não tem muito sobre o que trabalhar, uma vez que o desenvolvimento do seu personagem é fraco, e a também bela Gemma Aterton é um artifício totalmente dispensável à trama: sua presença existe unicamente para ir para a cama com Bond e para uma interessante (e atualizada) homenagem a 007 Contra Goldfinger.

Por outro lado, Quantum of Solace acerta ao dar um passo à frente na construção do relacionamento entre Bond e M, algo que já havia sido “anunciado” em Cassino Royale. Como é dito no próprio filme em certo momento, a dinâmica entre os dois é quase de mãe e filho. M recrimina Bond, ele não dá a menor bola e os dois continuam se amando como antes. A relação entre eles resulta em alguns dos melhores momentos de Quantum of Solace – e não deixa de ser interessante ver uma personagem hermética como M em casa passando creme no rosto.

Abordando ainda um contexto político sobre o petróleo e o papel dos EUA nos regimes ditatoriais sul-americanos, Quantum of Solace é um filme com seus próprios méritos, mas pálido em comparação ao seu antecessor. Possui bons diálogos, cenas de ação bem realizadas e um ótimo protagonista, mas nada acrescenta ao que havia sido apresentado dois anos atrás. Se Cassino Royale foi uma revolução na série, a nova produção não passa de simplesmente mais um – ainda que eficiente – exemplar.

Comentários (2)

Matheus Duarte | domingo, 11 de Dezembro de 2011 - 00:39

Crítica perfeita, Silvio! A mesma visão que eu tive do filme, com todos os pingos nos "is".

Vinícius Oliveira | segunda-feira, 22 de Abril de 2013 - 03:17

Também achei o vilão de "Quantum of Solace" inexpressivo em todos os sentidos, pois mais parecia um capacho tentando ser o manda chuva do que qualquer outra coisa. Filmes assim precisam de um antagonista com muita presença em cena, como se apenas sua imagem mostrasse que é perigoso e que não pode ser subestimado. "Dominic Green" em nenhum momento chega a ser sombra disso, e 007 em sua nova filosofia, só conseguiu um inimigo a altura, somente em "Operação Skyfall", sendo que L'e Chifre em "Cassino Royalle", lembrou, de certa forma, os sempre peculiares inimigos de James Bond.

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