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Críticas

Cineplayers

Um bom trabalho, resultado de uma idéia complexa, mas de resolução bastante simples e eficiente.

7,0

Se alguém procura um exemplo para ilustrar cinema como arte, 1,99 Um Supermercado que Vende Palavras é a própria definição do termo. É complicado falar sobre esse filme, pois não é um comum qualquer. É algo como apreciar música clássica, arte moderna, pratos exóticos, etc., ou seja, exige um certo grau de refinamento. Pois se trata de um filme reflexivo, em que tudo possui um significado. Alguns pontos exibidos de forma explícita; outros, nem tanto.

O supermercado vende necessidades? Vende fetiches? Ou vende a necessidade de fetiches?

É com frases como essas que temos a ilustração de vidas frias, fechadas, centradas em um consumismo ditado por moda e marketing. Apresentado na forma de curtas histórias, temos visões interessantes sobre a vida, convivência, violência e outros aspectos da sociedade moderna.

Um dos pontos que achei mais interessante mostrava uma espécie de pico, onde uma pessoa subia e via o histórico das marcas que fizeram parte de sua vida, desde a infância e adolescência, onde vemos marcas como Nestlé, Disney e Nintendo,  até sua mocidade e maturidade, onde as marcas mudam para Nike, Mastercard, Armani... Esse é um dos ponto de fácil assimilação, já outros pontos não são tão evidentes e, em alguns casos, um tanto confusos e sem sentido.

Praticamente nos são apresentados apenas dois ambientes. Um supermercado totalmente branco, com caixas e mais caixas rotuladas apenas com slogans, marcas, sensações, desejos e sentimentos. Povoado por personagens que não falam, e quando o fazem é com sons embaralhados, não identificáveis. O outro que é fora do supermercado, onde pessoas vagam de um lado para outro, como se buscassem alguma coisa.

É interessante notar que os modismos são acompanhados por todos, tanto os de dentro do supermercado quanto os de fora dele. Por exemplo: em um certo momento, é como se fosse uma hora de ginástica, em que todos os personagens se exercitam; outra hora, todos recebem ligações em seus celulares; e por aí vai. Como se todos seguissem o que é definido pela sociedade.

O filme foca o desejo e as angústias das pessoas, que circulam de um lado para o outro, procurando alguma coisa que parece não estar lá. E nisso seguem em seu consumo desenfreado, abrindo caixas sem encontrar o que desejam. É um retrato da banalização de tudo, inclusive do sexo, onde o vemos interessantemente retratado até mesmo no ato de sacar dinheiro em um caixa eletrônico.

É também o retrato do desemprego, da falta de oportunidades, da exclusão daqueles que não podem participar do consumismo. Que circulam de um lado para o outro, aguardando uma oportunidade de fazer parte dessa sociedade. Mas é interessante verificar que mesmo quando conseguem fazer parte dessa sociedade, pouca coisa muda. As pessoas continuam sem rumos, ainda sem encontrar o que desejam.

Em 72 minutos, Marcelo Masagão cria uma pequena obra prima que somente é recomendada aos que sabem apreciar. Caso contrário, tudo o que vai se ver é um filme confuso e tedioso. Particularmente, acho que o filme cairia melhor como um curta, ou em último caso, um longa dividido em partes distintas. Mas quem sou eu para achar alguma coisa? Ainda estou no começo de uma longa caminhada na estrada do refinamento da 7ª arte.

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