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Críticas

Cineplayers

2 Filhos de Francisco mostra que o Brasil sabe fazer cinema, apenas não sabe onde colocar o seu talento ainda.

4,0

2 Filhos de Francisco marca o amadurecimento total do cinema nacional como indústria. Em sua terceira semana nas bilheterias, este já é um sucesso imenso, graças ao boca-a-boca muito positivo que começou assim que saíram as primeiras críticas, onde o que "era para ser" um filme muito ruim acabou ganhando status de – vejam só! – obra-prima para muitos. Aconteceu algo semelhante ano passado com Olga, que também era tecnicamente primoroso (este é melhor e é mais cinema) e também foi um grande sucesso de bilheterias. Uma pena que a história seja tão fraca e desinteressante. Toda essa recepção positiva mostra-se, então, no máximo curiosa.

Tecnicamente, repito: é um trabalho primoroso. Melhor que a média dos filmes que vêm dos Estados Unidos. A fotografia, sobretudo, do campo no interior de Goiás é linda. Mesmo depois quando este vira um filme urbano ela consegue continuar agradando e sendo aprazível. A qualidade sonora também é de se destacar. O cinema nacional está cada vez mais audível – pelo menos para os maiores filmes já foi-se o tempo em que a necessidade de legendas era presente. Mesmo com sotaque do interior os personagens podem facilmente serem entendidos.

A trilha sonora é baba! O que é óbvio. Um filme sobre cantores sertanejos tem uma trilha sertaneja. Aqui ela é muito variada (dentro de seu próprio gênero) e, a menos que você desgoste totalmente do gênero (é brega, mas é brega audível ao menos) tem boas chances de se ouvir cantando junto enquanto o filme passa.

As interpretações também são muito boas. Os atores mirins que interpretam as crianças (não somente as duas principais) não fazem feio e mostram-se competentes. Sempre é perigoso ter muitas crianças em um filme. A maioria delas não tem um ritmo adequado e não são suficientemente naturais. A produção de 2 Filhos de Francisco soube dosar muito bem esses problemas com atores competentes que não só complementaram o trabalho dos atores “profissionais”, como igualaram-no.

Infelizmente, não vejo motivos suficientes para esta história ter sido lançada tão cedo nos cinemas. São cantores populares mas não são legendas para a cultura brasileira. São pessoas jovens que ainda terão muita história para ser contada. E se for considerada a história contada até o final do filme, ela é simplesmente desinteressante – caso você não seja fã da dupla, obviamente. São pessoas que conquistaram o sucesso com luta, sorte e dedicação, como milhares de outras. Suas vidas não proporcionam, em quase nenhum momento (a seqüência meio cômica no final seria uma das poucas exceções), justificativa para ser criado um roteiro para ser transformado em filme. Creio que a desculpa seja o tal “exemplo” de vida, o que, para mim, não é suficiente. Seria mais interessante utilizar o talento por trás da realização desse filme em obras de ficção não-policiais e não-românticas, ou seja, tudo o que o cinema nacional ainda não possui e poderia ser bem melhor vendido para o exterior. Um filme como esse não vende lá fora.

Desnecessário todo o desfecho de 2 Filhos, mostrando como um documentário os cantores na vida real revendo os lugares de infância e, o pior, cantando em um show real (cena que abre o filme também, mas de forma bem rápida). Poderia ter ficado para o DVD. Mostra, agora sim, maus hábitos do cinema brasileiro ao tentar colocar artistas populares dentro do filme, quando são coisas totalmente diferentes. O merchandising cara-de-pau que foi colocado também foi de uma infelicidade imensa – um logotipo atual de um banco aparecer em uma cena de década atrás. São detalhes que não fazem o filme ser ruim, mas tampouco não ajudam ele a ser bom.

De qualquer forma, não adianta continuar falando muito. Estou ilhado em minha opinião. O filme é campeão de bilheterias (pelo menos em 2005 no Brasil), está tendo uma incrível recepção e, com a popularidade que Zezé Di Camargo e Luciano já tinham anos antes dele ser lançado, isso era bem previsível. Recomendo para quem quer ver um filme tecnicamente muito competente, apenas não espere uma história muito interessante caso não seja fã de qualquer elemento presente no filme, sejam os cantores ou o próprio gênero musical. Vale lembrar que a mesma história já foi contada várias vezes pelos próprios cantores em programas de auditório na televisão aberta. Ao final, fica o gostinho de talento desperdiçado. Pelo menos, dessa vez (e ao contrário de Olga), é talento real.

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