Saltar para o conteúdo

Críticas

Usuários

Diretor de Zumbilândia retorna com mais um filme que, mesmo com ressalvas, merece reconhecimento por suas boas qualidades.

0,0

Em Zumbilândia (Zombieland, 2009), a personagem de Jesse Eisenberg, Columbus, é um sujeito isolado e tímido que é obrigado a se virar em um mundo povoado por pessoas que foram transformadas em zumbis devido a um hambúrguer contaminado. Columbus desenvolve uma espécie de manual de sobrevivência, um caderno de regras que leva em consideração tudo o que vivera desde o início da contaminação. Zumbilândia é, por isso e por outros detalhes, um filme sobre experiências que pertencem a um processo de amadurecimento tão engraçado quanto inimaginável.

Em 2011, Ruben Fleischer retorna com mais uma aventura protagonizada por Eisenberg, que desta vez encarna uma personagem que deve roubar 100.000 dólares de um banco em vez de detonar um bando de mortos-vivos. Nick (Eisenberg) é um entregador de pizzas que trabalha para uma pizzaria que promete o envio de pedidos em até 30 minutos, caso contrário o cliente não precisa pagar. O filme inicia com Nick dirigindo em alta velocidade enquanto fuma um baseado e se livra de inúmeros obstáculos – fato que já evidência uma distância considerável do perfil inicial que temos apontado para Columbus. Ao chegar, fora do prazo, ao local onde deveria entregar a pizza, ele encontra dois garotos, protótipos nerds indiscutíveis, que tentam mostrar o quão espertos são. O rapaz, então, utilizando uma tática malandra, fala algo a respeito de cervejas que poderia comprar para os moleques e, conseguindo engambelá-los, fica com o dinheiro que iria para seu patrão.

Ao som de Sure Shot, dos Beastie Boys, observamos Nick sair e posteriormente se deliciar com a cerveja conquistada graças à lábia jogada para cima da dupla de paspalhos. Nota-se, como já disse, que a princípio ele pouco tem a ver com Columbus, pois parece ser mais descolado, mais firme diante das necessidades de se sobressair. Em Zumbilândia, por exemplo, sua personagem chega a ser ludibriado pelas irmãs Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin), mostrando assim ser apenas um aprendiz no meio da malícia daqueles que o cercam. Nick não é um nerd virgem; pelo contrário, é justamente uma transa uma das pautas da discussão que trava com seu melhor amigo, Chet (Aziz Ansari). Pode-se considerar 30 Minutos ou Menos (30 Minutes or Less, 2011), em alguns aspectos, uma Zumbilândia sem zumbis, já que, mesmo não sendo – aparentemente – Nick tão inexperiente quanto Columbus, a situação na qual se vê abruptamente envolvido não é menos complicada nem exige menos coragem, inteligência e audácia de sua parte.

O entregador é capturado por dois caras – Dwayne (Danny McBride) e Travis (Nick Swardson) – que exigem que ele realize um assalto a um banco para assim poderem pagar o assassinato do pai casca-grossa de um deles. Para isso, colocam em Nick uma bomba que poderá ser detonada a qualquer momento, caso ele não aceite colaborar. Sem ter escolha, ele vai até Chet e pede sua ajuda. Assim, se no filme anterior o diretor coloca seu protagonista em uma jornada pela sobrevivência dentro de um universo ficcional onde pode manter contato com um número restrito de pessoas, agora, ele põe sobre os ombros de seus heróis o peso de uma tarefa que os torna igualmente dependentes apenas de si próprios – ainda que não trate exatamente de uma realidade na qual a humanidade é dizimada. É importante frisar que temas como problemas interpessoais (presentes lá em Zumbilândia) também são encontrados em 30 Minutos ou Menos. Por exemplo, os pais de Nick, que são apenas citados durante o filme, se separaram por conta do adultério cometido pela mãe anos atrás – fato que também é discutido com a personagem de Ansari. Assim, durante esse dia tão alucinante, os dois amigos vão dissolvendo algumas diferenças. Eles parecem crescer, e em curto espaço de tempo.

Evidentemente, não podemos imaginar, pelo fato do filme não oferecer subsídios suficientes para isso, que Nick seja tão isolado quanto Columbus. Contudo, podemos inferir que essa seja uma característica dos dois (até certo ponto) vilões, Dwayne e Travis. A relação do primeiro com o pai mostra a que nível de carência ele está submetido. Sua amizade com Travis, que pode indicar uma aproximação homossexual dependendo da visão que seja lançada, é seu grande pilar. Voltando a Nick, uma coisa é certa: ele ainda tem muito o que provar aos seus amigos, especialmente por não possuir um emprego que lhe garanta maior estabilidade. Portanto, Fleischer usa mais uma vez como pano de fundo o contexto das relações interpessoais para construir mais uma divertida visão do mundo contemporâneo, assim como Greg Mottola em Férias Frustradas de Verão (Adventureland, 2009), só para usar como exemplo um bom filme dessa safra.

É preciso destacar, porém, que em Zumbilândia o diretor aproveitou melhor os recursos dos quais dispunha e se aprofundou mais na composição de suas personagens e na estruturação de sua narrativa. 30 Minutos ou menos não consegue ser desenvolto ao mesmo nível, parecendo, às vezes, mais entregue à balbúrdia dos momentos mais intensos do que ao que quer dizer de fato. Parece haver um pouco menos de asseio e, em alguns instantes, ausência da criatividade que nos foi apresentada em seu debute. Por outro lado, também não é interessante em todos os sentidos sujeitarmos esse novo trabalho a uma queda de braço com seu antecessor, uma vez que a necessidade de firmação de estilo sempre exige incursões diferentes, às vezes ousadas, por parte dos realizadores. Fleischer parece ter consciência disso. Acontece que a reflexão desenvolvida por ele, se não é menos instigante, é mais comum, menos intensa e bem mais fincada na superfície de uma boa ideia que na agudeza de um grande filme. Mesmo assim, é divertida e soma algo longe do negativo à sua carreira – sem falar que, a exemplo do supracitado Mottola, seus filmes parecem apontar para aquilo que no meio cinéfilo chamamos de “envelhecer bem”. Esperemos, então, para ver o que acontece a este aqui. Enfim, em um ano tão acre, algo, no mínimo, interessante.

Comentários (0)

Faça login para comentar.