Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Leve em sua essência e pesado em suas abordagens.

8,0
A Polônia é um dos países com mais qualidade cinematográfica da Europa, e vem demonstrando uma vertente artística bastante elevada desde o final da Segunda Guerra. No cinema, vários nomes se destacaram e entraram para a história como Andrzej Zulawski, Krzysztof Kieslowski, Andrzej Wajda e muitos outros que contribuíram de forma direta para o enriquecimento cultural do país. Estes produziam filmes geralmente com viés político e metafórico, porém, com a experimentação liberada, usavam ou criavam linguagens que entretinham e, ao mesmo tempo, peregrinavam por gêneros variados. No entanto, com o passar do tempo, a maioria desses realizadores, principalmente em terras brasileiras, receberam o controverso rótulo de "cult" e o cinema polonês caiu no ostracismo perante o grande público.

A Atração (Córki dancingu/The Lure, 2015) talvez seja um respiro desse estereótipo de cinema entediante que essa parte da Europa recebeu equivocadamente. Com um enfoque muito claro, o filme conta a história de duas sereias que acabaram se tornando cantoras de uma banda em uma boate, numa Polônia socialista. Entretanto, as metáforas e críticas sociais são deixadas de lado e o puro entretenimento se mostra forte. O longa não tem medo de arriscar: as músicas, com uma mensagem curta e objetiva e geralmente com letras melancólicas, criam um paradoxo de ideias quando misturadas com uma batida dançante; e em letras mais alegres o folk entra em cena para reforçar este contrassenso.

As criaturas marinhas esbanjam vozes deslumbrantes e logo conquistam o afeto do público. Prateada e Dourada – como gostam de ser chamadas – são encantadoras e mesmo todos sabendo que elas são sereias, o entusiasmo cresce continuamente. Prateada, com seu caráter meigo e inofensivo, se apaixona pelo baixista da banda e cria um conflito com sua irmã que, em um nítido estado de inveja, se faz contra esta paixão e mostra sua personalidade fria e abusiva. Alicerçado em um argumento digno de conto de fadas da Disney, o filme se inicia, mas, diferente dos contos atualizados como Malévola, o musical não tem medo de explorar a essência do ser mitológico. A estranha forma de contar uma história misturando músicas semelhantes à High School Musical (ou qualquer outro musical adolescente) com momentos de nudez e violência explícita faz com que a desconstrução do gênero fique cada vez mais divertida no decorrer da projeção.

Sem muitos recursos, Agnieszka Smoczynska fez de seu filme de estreia uma legítima pérola visual, tanto nas cenas musicais com uma forte aplicação de neon que daria êxtase a qualquer entusiasta do trabalho de Nicolas Winding Refn, quanto em cenas de desenvolvimento narrativo e de personagem. As coreografias, levemente sensuais, reforçam o mérito da diretora e seu bom trabalho; cada olhar tem um motivo para ser posto em cena; não há um movimento desnecessário, e as sutilezas das atuações, principalmente das protagonistas, são cada vez mais evidentes conforme o progresso narrativo, chegando ao ponto de, com apenas um simples gesto, já sabermos exatamente o que a personagem quis dizer e o resultado que isto poderá causar. A obviedade, neste caso, é um ponto positivo e bem usado quando conversa pontualmente com a história e utiliza de técnicas que apenas a sétima arte consegue realizar para coalizão.

Embora A Atração passe longe do público casual por problemas de logística, há alguns dos requisitos necessários para fazer sucesso com o mesmo. O ritmo, muito bem conduzido, dialoga com a atmosfera tocante e sombria e este mesmo ambiente cria uma imersão contundente. As músicas em sua maioria são dançantes e melodicamente animadoras, e as mais calmas se assemelham às baladas populares norte-americanas, sucesso nos anos noventa. Quanto ao tempo, o filme desdenha da congruência temporal e utiliza o moderno para dar liga em momentos cabíveis; o sintetizador não aparece em cena, mas, prestando atenção na sonorização, conseguimos ouvi-lo, assim como a dança, que se demonstra bem contemporânea para a época retratada. 

Smoczynska não se preocupa com significados, mensagens relevantes ou críticas a algo maior. Seu conteúdo, ainda que questione o âmago de um ser e sua natureza antropomorfizada, anseia por algo cômico, divertido, emocionante. O intuito é o mais simples: entregar um autêntico entretenimento a quem assiste. Assim como faz Olivier Assayas e sua não prolixidade autoral, a polonesa alastra os diversos gêneros abordados no filme, mas sempre visando algo o mais sucinto possível.

Visto na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Comentários (9)

Felipe Ishac | quinta-feira, 27 de Outubro de 2016 - 01:10

"O Ishac é gente fina."

O feitiço virou contra o feiticeiro

Darlan Pereira Gama | quinta-feira, 27 de Outubro de 2016 - 16:16

Parei de ler no Leve, como um cara de 140 kg começa com Leve pqp! #ForaLipe

Felipe Ishac | quinta-feira, 27 de Outubro de 2016 - 18:28

hahahahahahahahaha

darlan genial!

Francisco Bandeira | quinta-feira, 27 de Outubro de 2016 - 19:21

É isso aí, Fefe. Trouxe um peso para a equipe.

Faça login para comentar.