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Críticas

Cineplayers

Despretensioso e divertido, filme escrito e dirigido por Richard Shepard vale uma conferida.

6,0

Em A Caçada, Simon Hunt (Richard Gere) é um repórter que, juntamente com o cinegrafista Duck (Terrence Howard, apenas correto), já fez a cobertura de inúmeras guerras. Após presenciar um massacre na Bósnia, porém, Simon surta numa transmissão ao vivo, sendo despedido. Anos depois, endividado ao extremo, ele reencontra Duck na mesma Bósnia e o convence a sair em busca do Raposa (Ljubomir Kerekes), maior criminoso da guerra local, cuja prisão vale cerca de US$ 5 milhões. Auxiliados pelo jovem Benjamin (Jesse Eisenberg), Simon e Duck partem atrás do criminoso e de um furo de reportagem.

Interpretando um personagem muito afinado com o filme, Richard Gere é sem dúvida o destaque do elenco, uma vez que, ao assimilar corretamente a figura "enrolona" de Simon, o ator entrega uma atuação magnética: sua postura em cena (o olhar, o andar) é sempre direcionada à construção do personagem, de maneira que é fácil para o espectador se relacionar com o mesmo. Nem de longe Gere lembra a canastrice em Dança Comigo?, ou o piloto-automático no recente Noites de Tormenta.

O roteiro, escrito pelo próprio diretor Richard Shepard (O Matador), além das tiradas cômicas de Simon - que despem o filme de uma carga dramática possivelmente invasora e, assim, cansativa -, consegue ser eficiente por tratar a tal caçada do título de forma despretensiosa e divertida. Mesmo que em um punhado de momentos a trama se torne mais carregada (à medida que os jornalistas se aproximam do Raposa, por exemplo), somente em poucos instantes as coisas parecem fugir do controle dos protagonistas. Dessa forma, o barato aqui é encarar a trajetória deles como uma grande aventura, com todas as (muito bem-vindas) surpresas que essa opção traz ao filme.

Dirigindo com muita simplicidade, Shepard decide não ousar na narrativa de seu filme: muitas cenas se resumem a planos básicos, e os flashbacks seguem o manual aceitável de apresentação dos fatos de uma trama, fazendo A Caçada soar mais esquemático do que deveria (a cena que mostra o motivo predominante de Simon querer tanto pegar o Raposa, um diálogo entre Duck e Benjamin, ilumina essa questão perfeitamente). Mas o problema mesmo é que essa falta de ousadia amarra demais algumas seqüências, tirando delas boa parte da sensação de urgência que deveria estar permanentemente presente (o clímax é um exemplo disso). Ainda assim, o diretor merece um desconto por nos poupar das irritantes invencionices fílmicas tão comuns entre os jovens cineastas.

A Caçada foi inspirado em um artigo, publicado na revista Esquire, escrito por Scott Anderson. Talvez por esse motivo o filme quase sempre caminhe na tênue e interessante linha que divide a ficção do documentário, resultando aqui em um acabamento bastante diferenciado do que vemos no atual cinema americano. Há, inclusive, críticas negativas, ainda que demasiadamente satíricas, a algumas entidades internacionais (ONU, OTAN etc.) e ao governo norte-americano. Vale conferir.

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