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Casa do Medo: Incidente em Ghostland, A

(Ghostland, 2018)
5,8
Média
33 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um passeio no trem fantasma tão explícito quanto morno

4,0

O francês Pascal Laugier chamou a atenção para si no cenário internacional de cinema em 2008, com seu segundo longa-metragem Martyrs. Em meio à moda do torture porn iniciada por Eli Roth em O Albergue em 2005, o diretor foi um dos que chamaram a atenção para a França com filmes que recusaram a avacalhação e o humor negro de Roth e produziu um filme sério, sombrio e extremamente gráfico desde o início. O filme carimbou seu passaporte para o mercado internacional, dirigindo O Homem das Sombras em 2012, onde dirigiu Jessica Biel em um filme elogiado pela ambientação e criticado pelo roteiro. Nas bilheterias, também não se saiu bem: contra os 18 milhões de dólares do orçamento, o filme só fez pouco mais de 5 milhões de dólares.

Seis anos depois, Laugier entrega seu novo A Casa do Medo: Incidente em Ghostland, longa tradução brasileira do original Ghostland. E em relação a Martyrs, dá para ver que seu cinema ficou estacionado no controverso filme, não fazendo nada além de repetir os cacoetes de dez anos atrás.

No filme, vemos a história de Beth, que se muda com sua irmã Vera e sua mãe Pauline para uma antiga casa herdada da tia-avó. Já na primeira noite, o lugar é invadido por uma dupla de maníacos que quase matam Pauline, que acaba conseguindo dar cabo dos dois, mas a um preço: anos depois, quando Beth se tornou uma escritora de sucesso, se vê obrigado a visitar a família e chegar às raízes do trauma que perturba a irmã mesmo depois de tantos anos.

Laugier ainda é consciente do horror físico que chamou os holofotes para si. Ainda que se renda a alguns sustos, boa parte do filme é dedicada à repulsa ao toque e às consequências do abuso físico. Não ajuda muito, porém, que grande parte desse horror seja perpetrado por dois vilões completamente estereotipados, estereótipos ambulantes de filmes do gênero, o que pouco a pouco joga por terra qualquer suspensão de descrença.

O filme guarda em si um plot twist que, se de certa maneira é bem conceituado em sua tentativa de demonstrar as sequelas causadas por traumas, mas que também poderia ser melhor trabalhado. As melhores reviravoltas de roteiro guardam em si a possibilidade de ressignificar uma história e trazer elementos comuns sob uma nova luz, mas em Ghostland ele entra cedo demais, criando praticamente um segundo filme a partir do momento onde é estabelecido. Não ajuda nada também resgatar os elementos anteriores como uma subtrama à parte sobre superação, perdida em sequências oníricas carregadas de didatismo e explanação.

O fato é que Ghostland é Laugier à sombra de Martyrs, onde o diretor compete com uma obra do passado sem muito a oferecer além do tradicional choque estético que o próprio já entregou com um resultado mais bem resolvido. Aqui ele aposta em falsas catarses e escapadas falsas o tempo todo, reciclando truques já estabelecidos de sua própria carreira, e pior, dentro da própria narrativa, que se torna previsível e redundante.

Assim, sem muito a apresentar, A Casa do Medo: Incidente em Ghostland é Laugier fazendo a mesma coisa - e pior. Com seu carnaval de cenografia e figurinos com gigantes monstruosos, bruxas andróginas e bonecas esquisitas, é um passeio um pouco mais explícito no trem-fantasma, com algumas referências gratuitas aos universos e personas de Stephen King e H.P. Lovecraft no meio do caminho. Se ele sempre foi capaz de apresentar apenas isso ou foi a hiper-exposição e subsequente queda que lhe fez requentar o mesmo prato, difícil dizer, mas é um retrato bem simbólico de como a “Nova Extremidade Francesa” logo foi assimilada pela indústria e logo perdeu força e ineditismo. Certamente vale a pena ir procurar outros cinemas e novas reformulações de gênero, já que em meio à exaltação e controvérsia do post-horror, Laugier e sua geração já não apresentam mais frescor nenhum.

P.S.: A atriz Taylor Hickson foi desfigurada por irresponsabilidade da produção, quando disseram ser seguro protagonizar uma cena onde batia em vidro, sem uso de dublês ou materiais cenográficos. A produtora foi processada mas o filme foi lançado mesmo assim. Com consciência disso, o site condena a má conduta da produção e adverte que assistir ou não fica por decisão do espectador.

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