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Críticas

Cineplayers

Um filme charmoso e cultuado pelos cinéfilos amantes do gênero terror.

6,0

Na década de 1950 o cinema de terror existia para assustar, e não para mostrar efeitos especiais e corpos sarados de adolescentes. Foi o auge do Cinema Fantástico, no início da Guerra Fria, dos filmes B de terror e ficção científica. Sempre renegados a serem conhecidos como “diversão descompromissada”, esses filmes têm, dentro de muitos cinéfilos, um lugar especial – não pelas atuações, direção e roteiro primorosos, que são elementos que definitivamente são raros nessas obras – mas porque remetem a um tipo de cinema que simplesmente não existe mais. Há alguns imitadores por aí, alguns deles até mesmo talentosos, mas os sustos e a sensação de diversão dessas imitações geralmente são mais nostálgicos que reais.

A Casa dos Maus Espíritos é um desses filmes. O seu diretor, William Castle, fez vários desses trabalhos entre as décadas de 1940 e 1960, sempre com resultados ordinários, tanto que esta aqui é considerada uma de suas melhores obras, mesmo sendo ela própria ordinária. Ainda assim é inconfundível, da época em que se conquistava os gritos das plateias através da elaboração de um clima tenso e assustador – algo que raros filmes de hoje em dia são capazes de fazer. E certamente sua refilmagem de 1999, muito inferior, não é um desses filmes. Acabou que devido aos bons sustos, o original fez um razoável sucesso financeiro e, pelo módico custo de US$ 200 mil, inspirou até mesmo Alfred Hitchcock a lançar, um ano mais tarde, uma de suas grandes obras-primas, Psicose, com um orçamento também bastante limitado, forçando ele e a produção a inventarem soluções inteligentes que não demandavam muito dinheiro.

A história é sobre um pequeno grupo de pessoas, aparentemente sem relação uma com as outras, que recebem um convite inusitado: quem passar uma noite em uma mansão com a fama de ser mal-assombrada receberá a quantia de US$ 10 mil ao amanhecer, uma soma respeitável para a década em questão. Quem promoveu o evento foi um milionário excêntrico e sua esposa – a enésima delas, já que seu histórico com casamentos era bem ruim. Claro que o espectador já sabe que aquele tom de brincadeira que há entre os participantes no início da noite não durará muito tempo, e é isso que ocorre após a meia-noite: os mistérios vão cercando cada vez mais cada um dos convidados, incluindo o próprio Frederick Loren, o milionário interpretado de forma divertida por Vincent Price.

A apresentação da história, onde Loren vira para a câmera e apresenta o enredo que veremos a seguir (algo que Zé do Caixão fazia também em seus filmes de terror), é um daqueles elementos que trazem um charme extra à obra. E por ter criado um filme de curtíssima duração, bem focado em momentos fantasmagóricos e dirigido de forma a trazer certo nível de tensão a seus espectadores, é que Castle entregou um filme limitado por si só (o número de furos no roteiro, depois do esperado final-surpresa, é relevante), mas quase sempre divertido. De forma geral, sua direção é bastante convencional, só que há momentos raros de qualidade superior, que quase conseguem tirar um frio da espinha mesmo de espectadores vivenciados no gênero.

Na época de seu lançamento nos cinemas, em algumas salas, esqueletos de mentira eram colocados em meio à plateia em uma cena em que Loren utiliza também ele um esqueleto de mentira para trazer terror a um de seus convidados. Esse tipo de imersão era algo razoavelmente comum, em uma época onde o modo como os efeitos especiais nos filmes funcionavam não era de conhecimento do grande público (mesmo que neste caso especial os cabos que transportavam o esqueleto fossem levemente visíveis). Certamente foi uma época mais mágica para se assistir a filmes de terror, já que os diretores não contavam com audiências tão céticas quanto nos dias atuais (outro motivo para esses filmes terem certo carinho de muitos amantes do cinema).

O DVD traz a obra colorizada por computador e, embora esse recurso possa ser interessante para motivar o público casual a assistir ao filme, é desnecessário, pois a obra não perde e nem ganha em qualidade, de forma geral. Os cinéfilos, é claro, preferirão sempre ver o original que, mesmo em preto-e-branco, proporciona um nível de suspense razoável. É difícil não cair no lugar-comum aqui, mas A Casa dos Maus Espíritos é bem isso, diversão descompromissada. As atuações são medíocres ao máximo, a reviravolta que ocorre no ato final é absolutamente primária, e mesmo os efeitos especiais são questionáveis. Mas há um charme prazeroso provindo daquela casa mal-assombrada, suas paredes misteriosas e locais secretos. Junta-se a isso o cenário noturno e uma grande e barulhenta tempestade, e temos um pacote que os verdadeiros amantes do cinema de terror dificilmente esnobarão por completo.

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