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Críticas

Cineplayers

Muito a dizer. Pouco a acrescentar.

6,0

O diretor francês nascido no Marrocos Philippe Faucon especializou-se em abordar a intimidade e o lado introspectivo do povo árabe que resolveu viver fora de seus países natais. É este o assunto dos seus dois filmes mais conhecidos, Samia (idem, 2000), que retrata o sofrimento de uma menina residente da periferia da Marselha em crescer sufocada pela fé conservadora da família, e Duas Senhoras (Dans La Vie, 2007), sobre duas senhoras – uma judia e uma árabe – que se tornam amigas íntimas apesar da rivalidade entre seus povos. E é também sobre isto o que trata seu filme mais recente, A Desintegração (La Désintégration, 2011), agora tocando em um assunto ainda mais incômodo: o fanatismo extremista que resulta em atentados terroristas.

Não é o primeiro filme sobre o tema. Entre os conhecidos, há o filme palestino Paradise Now (idem, 2005), que fez sucesso ao abordar o lado humano de um homem-bomba, contestando a impressão muitas vezes preconceituosa de que não passavam de autômatos sem consciência. Outro filme é o curioso Quatro Leões (Four Lions, 2010), uma corajosa (ainda que irregular) comédia de humor negro dirigida pelo inglês Chris Morris que faz piada com o fanatismo religioso para justamente reforçar o lado trágico. E a  lembrança dessas duas obras é, justamente, para reforçar que A Desintegração não traz muitas novidades ao debate tão em evidência desde o início da década de 2000, pós-11 de setembro.

Há dois tipos de personagens diferentes no filme: o protagonista é Ali, um jovem muçulmano que mora em uma região pobre e mesmo com o esforço que emprega nos estudos não consegue um emprego melhor do que o de trabalhar em um depósito, acaba se revoltando e, junto com outros jovens, é seduzido pelas idéias de Djamel, um muçulmano radical que não concorda com a visão tolerante de mundo que os outros árabes da região tem. Do outro, está justamente a família de Ali, uma família que tenta se integrar à França – inclusive, seu irmão está prestes a se casar com uma francesa e sua irmã trabalhadora já é adaptada aos costumes – inclusive estéticos - da França.

Em sua curta duração, menos de uma hora e vinte, Faucon arquiteta de forma envolvente a desintegração do título: Ali, no início, é um jovem esperançoso, que manda seus currículos insistentemente para várias agências diferentes, trabalha e é um dos alunos mais aplicados do curso. Através de várias elipses, é explicitada a frustração cada vez mais crescente do jovem que, pouco a pouco, cai num inferno destrutivo que acaba sendo canalizada pelas idéias destrutivas de Djamel, que encarrega o jovem de junto com seus companheiros, explodir uma embaixada.

De narrativa com um ritmo preciso e que não perde tempo após a introdução dos personagens, Faucon dirige com bastante maturidade dentro do norte autoral que escolheu seguir. Por mais que não tenha uma assinatura própria, esteticamente falando, o diretor usa composições de quadro que, em sua duração, valorizam a fluidez e a tensão dos diálogos entre os atores – diálogos esses não tão naturais assim. Mas dentre todos os seus filmes, talvez seja aquele que mais se encaminhe para o terreno no didatismo. Mesmo que o filme se preocupe em mostrar o cinza entre o preto e o branco e não retratar todos os muçulmanos como um exército de fanáticos ensandecidos por qualquer comentário ou estranhamento o tal processo autodestrutivo do protagonista, apesar de prender a atenção, passa longe de ser o comentário social mais profundo.

Com pouco tempo à disposição, temos apenas duas vias pelas quais enxergar – o lado da família ainda pouco desenvolvido, e a relação dos árabes com a cultura francesa muito superficial. Dá para se entender e, em certo nível, até sentir o conflito e a angústia do personagem principal. Mas em menos de uma hora e vinte vemos apenas a ponta do iceberg, motivos apontados aqui e ali, mas nunca um comentário social que seja incisivo o suficiente ou que traga novas facetas. Uma vez que a revolta começa, Ali torna-se um personagem praticamente chapado – justamente o contrário de Paradise Now, onde a a consciência dúvida sempre existiam.

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