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Críticas

Cineplayers

Preenchendo lacunas.

7,0
A companhia teatral paulistana Satyros criou seu braço cinematográfico em 2014 com o lançamento do longa-metragem Hipóteses Para o Amor e a Verdade. A companhia tem como característica a adaptação e o processo de criação dos filmes a partir do palco. A Filosofia na Alcova, segundo lançamento da Satyros, foge da fórmula que se espera de um projeto que parte do tablado. 

Longe dos moldes de Dois Casamento$ (Luiz Rosemberg Filho, 2014) ou No Lugar Errado (Ricardo Pretti, Luiz Pretti, Guto Parente & Pedro Diógenes, 2011), filmes que prezam pela abordagem teatral seja no formalismo ou no espaço filmado, A Filosofia na Alcova parece nascer para preencher lacunas. Um filme que está no limiar do barroco e do burlesco, do explícito e do manifesto. 

Dirigido por Ivam Cabral e Rodolfo García Vazquez, criadores da companhia, o filme emula nomes como Pasolini, Derek Jarman e Bruce LaBruce ao narrar a obra homônima de Marquês de Sade sobre a educação sexual de uma virgem ao encontrar um grupo de libertinos. A associação com o mundo contemporâneo reforça as influências cinematográficas e menos teatrais ao mesmo tempo em que questiona, literalmente, os valores de um mundo regido por líderes religiosos e políticos conservadores – sempre em algum lugar entre a coragem e a obviedade.

Se há aproximação do filme com o teatro, ela está no rigor da mise en scène que Cabral e Vazquez conduzem. Verborrágico, o filme passa pela necessidade de expressar cada vírgula deste manifesto, sempre colocando a força da imagem em cheque – o que é um equívoco, pois o filme visualmente é irretocável. O desejo de criar paralelos entre os dois fossos (palco e plateia e tela e plateia) fica mais claro nos limites dos espaços filmados que na forma engessada de representação.

Como um segundo passo, A Filosofia na Alcova pavimenta um caminho promissor para a produtora da Satyros. De certo que é uma lacuna preenchida no chamado Novíssimo Cinema Brasileiro, no qual nomes como Pasolini e Jarman pouco são lembrados – com exceção do novo filme de Tavinho Teixeira, Sol Alegria. Fica a curiosidade para o próximo passo e a torcida para que a singularidade continue intocável.

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