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Críticas

Cineplayers

Imagens belas e um texto ruim.

5,0
Sem tanta empolgação, A Grande Muralha passou pelos cinemas. A formulação do visual faustoso adornou uma história vil. É um filme visualmente belíssimo, atento a arquitetura e orgulhosamente exibicionista, que busca mostrar a partir de panorâmicas bem orquestradas toda a concepção artística do universo em torno da muralha. Tal exposição não recorre a sequenciais cortes fáceis, assim o espectador tem real ideia da dimensão espacial do quadro. Isso é o que há de melhor! A direção notoriamente preza pela imagem, mas sofre para dizer algo com seu material. Isso é o que há de pior!

O trabalho do desenhista de produção é fornecido para apreciação e, não fosse esse investimento imagético, seria difícil chegar até os créditos finais. A história é simplória, traz dois ladrões europeus vagando pela China atrás de riquezas. Ouvem falar de uma substância que promete algum lucro: um tal pó negro, a pólvora. Ao chegar até a imensa muralha, encontram um exército colorido cuja disciplina irrepreensível segue a cartilha de manuais de guerra e livros de filosofia militar.

Dirigido por Yimou Zhang, o cara por traz do célebre Herói (Ying Xiong, 2002), A Grande Muralha acerta no que tange o espetáculo da ação, com memoráveis instantes de combate e nos recursos inventivos que visam fisgar algum interesse de seu público. O arsenal de guerra, as armaduras e as estratégias de defesa são elaborados com rigor. As cores, a câmera que sobrevoa o espaço e a luz são implementadas numa engrenagem prática promovendo um nítido espetáculo numa coreografia que se aproxima de uma apresentação circense. Zhang, todavia, não consegue ser feliz ao filmar o ineficiente roteiro. A plástica não encontra substância e o diretor explora uma jornada de um herói improvável que poderia ter sido abduzido de algum conto infantil. 

A impressão é de que alguém não revisou o roteiro. Os textos se repetem com os mesmos personagens e as soluções são tão óbvias que surpreendem por definitivamente serem exatamente conforme as previsões do espectador. Então a aparência não se sustenta o tempo inteiro, se desfazendo em meio a morosidade das tramas, ficando a cargo de seus competentes protagonistas darem alguma serventia aos pobres personagens. 

Vivendo o herói/ladrão William Garin, Matt Damon resgata credibilidade devido ao carisma, tendo ao lado um fiel (?) escudeiro, Pero Tovar (Pedro Pascal), que se responsabiliza por tiradas cômicas. O esquema de interação é o mesmo da maioria das grandes produções: a obrigatoriedade de uma atratividade pitoresca. E o veterano Willem Dafoe aparece numa inexplicável ponta. Metade de suas cenas devem ter se perdido na sala de edição. 

Sendo um filme metodicamente arquitetado, notamos a simetria de cada quadro e isso irradia até as consideráveis cenas de ação que são boas e por vezes empolgantes, com a beleza plástica herdada do cinema oriental e da própria filmografia de seu autor. As flechas que cortam o céu, os ataques ensaiados, as lanternas que brilham no meio da escuridão noturna, a marcha regular do exército. São todas cenas calculadas e caprichosamente arranjadas. A ordem intensifica cada detalhe e o filme deslumbra com uma sucessão de imagens poderosas contando uma história simplória que pouquíssimo faz jus a toda representação que o ótimo Yimou Zhang pintou como possibilidade. Uma triste insatisfação!

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