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Críticas

Cineplayers

O novo Freddy Krueger dá sono.

2,0

A ideia de ressuscitar Freddy Krueger, transformando-o em personagem de mais um terror teen cheio de adolescentes esculturais, entediados e ricos, redundou num dos piores filmes do ano: o novo A Hora do Pesadelo dá sono, vejam vocês. Freddy Krueger agora faz dormir o público.

Boa parte do fracasso do filme se deve mesmo ao diretor e roteiristas, nenhum deles em momento muito inspirado. A pior escolha foi, sem dúvida alguma, ressaltar a passagem do que é realidade para o mundo dos sonhos. A mistura dos dois era uma das melhores sacadas do filme original. Nesse novo filme, todo vez que um infeliz cai no sono, o diretor avisa, deixa bem claro, e Freddy Krueger aparece com mais luz e efeitos que a Madonna num concerto. Antes, Freddy aparecia em tudo quanto é canto. Sádico, adorava torturar suas vítimas até o final. No terror versão bombada, tudo é físico e óbvio: Freddy estraçalha todo mundo sem dó - parece um açougueiro que acabou de cheirar cocaína.

Toda cena tem música. Toda cena começa com uma sugestão e termina com uma aparição relâmpago de Freddy, uma lavadeira que não para de falar – o novo Freddy Krueger perdeu o sabão. O filme é esquemático e previsível: em dez minutos, uma das vítimas já está atrás de pistas para saber quem é Freddy.

Talvez o grande problema do filme seja esse: Freddy é conhecido demais, famoso demais. Nesses 25 anos desde a sua estreia, o monstro dos sonhos acabou se tornando um "chapa" da galera. A cultura pop o assimilou. Resultado: Freddy Krueger não assusta mais ninguém. Ao contrário: Freddy é "truta" (para ficar nas gírias dos anos 80).

Nos seis filmes da série, que começou em 1984, Freddy começou sinistro e assustador, mas aos poucos foi se tornando conhecido do público e não parava de fazer piadinhas infames. Chegou um momento que os adolescentes iam ao cinema para torcer a favor do Freddy. Quando ele ia matar alguém, muita gente começava a gritar “Morre, desgraçada! Cadela!”, e coisas do tipo. Descambou de tal forma que os filmes passavam na Sessão da Tarde e definitivamente não assustavam ninguém. Tornou-se camp. Até com seu rival, o Jason da série Sexta-Feira 13, ele andou se estapeando.

Se o novo Freddy usasse um chapéu cor-de-rosa, Freddy poderia tranquilamente participar de Rocky Horror Picture Show, a sátira dos filmes de horror dos anos 70 com Susan Sarandon.

Os novos produtores até que tentaram voltar ao Freddy do primeiro filme, mas o filme logo descamba para a filhos discutindo aos berros com os pais, gente dando murro em porta e clichês de amargar. Afinal, que tipo de medo ou culpa intrínseca os adolescentes dos filmes de terror teen poderiam ter, exceto engordar?

Freddy antes significa isso, a culpa. Funcionava com os adolescentes dos anos 80. Exemplo: amedrontada, a adolescente pede para o namoradinho dormir com ela na cama – os pais viajaram. No filme original, era o coitado do Johnny Depp, em seu primeiro filme, que terminava no banho de sangue. Hoje em dia, todo mundo dorme com todo mundo, transa com todo mundo, inclusive com os pais dentro de casa. Culpa de quê? Não tem mais religião enchendo a paciência da galera, nem professor azucrinando sobre os malefícios da masturbação. Até as drogas, se não são largamente utilizadas, são de sobejo conhecidas. Sem Deus, punheta, maconha e até virgindade para atazanar o subconsciente, não há Freddy Krueger que sobreviva.

Daí que o Freddy Krueger teve de ser transformado em assassino serial. No meio do filme você já saca tudo, até porque 500 filmes com o mesmo enredo foram feitos nas duas últimas semanas. Nem a cena em que eles descobrem como matar Freddy funciona. De tão ruins, algumas são risíveis. A única coisa que se salva é o ator, Jackie Earle Haley, o maníaco da vez (o diretor e roteirista Wes Craven, que criou o monstro, já deu entrevista espinafrando o remake).

Enfim, Freddy Krueger é um produto dos anos 80, por isso veio à tona como parte desse revival, que já trouxe o constrangedor Fúria de Titãs, e tem engatilhado Piranha 3-D, Tron Legacy (não por acaso, os trailers que passaram antes do filme) e uma série de outros filmes (até Wall Street vão refilmar). Entendo a vontade do público em reviver a ingenuidade cafona da década perdida, sufocado que está pelo cinismo e esnobismo dos tempos atuais. Mas até agora, esses dois filmes resultaram tão ridículos como as franjas e as ombreiras daquela época.

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