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Críticas

Cineplayers

Não chega a ser uma bomba, mas não precisava existir.

5,5

A refilmagem do clássico A Hora do Pesadelo era, claramente, desnecessária. A história tinha seu grande trunfo justamente na originalidade da trama, algo que o novo filme jamais poderia ter a seu favor. Aqui, já se sabe de antemão toda a lógica da narrativa; então, restaria esperar apenas pelos bons sustos. Mas é frustrante, pois nenhuma passagem é capaz de provocar qualquer reação no espectador.

Os motivos são claros: a quase onipresente trilha sonora boicota a lógica de tensão dos filmes de terror – algo que o recente Atividade Paranormal, por exemplo, soube fazer com maestria ao optar pelo silêncio. Além disso, nos momentos mais críticos, a música faz questão de anunciar que o público deve se preparar na cadeira para a aparição de Freddy, já que o volume é elevado e a trilha tenta, a todo instante, ser a responsável pelos sustos com barulhos de impacto. Outro ponto problemático é a transição do real para os sonhos, já que a imagem sofre alteração na textura ou na cor para avisar os mais distraídos de que Freddy está vindo pegar sua próxima vítima. E também não é nada honesta a desculpa de que os jovens, após horas acordados, podem começar a misturar ficção e realidade de forma imperceptível, uma tática barata para sustos ineficazes.

A culpa destes detalhes é, obviamente, do inexperiente diretor Samuel Bayer, acostumado com videoclipes que obedecem a uma lógica muito mais dinâmica. E, claro, essa contratação deve ter sido indicação do produtor Michael Bay, maníaco por cortes rápidos e ininterruptos. Os roteiristas Wesley Strick e Eric Heisserer são mais eficazes que o comandante da produção, mas também cometem seus erros.

Os personagens importados da história original de Wes Craven perdem sua essência. Eles não representam geração alguma – naquele caso eram reflexo dos adolescentes dos anos 80 – e são caricaturalmente vazios e artificiais. Nenhum deles parece existir de fato, a impressão é de que vivem para dormir e fazer Freddy aparecer na tela.

O mistério acerca do passado de Krueger é ao mesmo tempo uma explicação bacana e um ponto sem eficiência. Por que eles não usaram logo a internet para descobrir a verdade? Porque se fizessem isso haveria menos história ainda, eu sei.

Contudo, existem sacadas bacanas – mas que não justificam uma refilmagem. Os sonhos são mais bem desenvolvidos do que no original. A versão de 1984 mostrava pesadelos que obedeciam a uma lógica, que aconteciam, geralmente, em um cenário fixo. Desta vez, por exemplo, o personagem abre a porta para sair de sua casa e ao entrar novamente se vê em uma pré-escola abandonada. Ou seja, não há sentido dentro do irreal, algo que faz esses momentos, até certo ponto, funcionarem.

O filme se mantém fiel ao original no que diz respeito às formas como as mortes acontecem. Existe o rapaz assassinado na prisão, a personagem que morre ao dormir no quarto com o namorado e a clássica cena da banheira. Só que o mistério acerca da personalidade de Krueger não é bacana, já que no primeiro sabia-se desde o início que o assassino dos sonhos era, quando vivo, um serial killer de crianças da Rua Elm e que, por isso, fora morto queimado pelos pais da vizinhança.

Aqui é resgatado com mais intensidade o tema da pedofilia – mas é tudo apenas sugerido, o que tira qualquer força que essa abordagem tão atual poderia conferir à história. E, assim, não há sequência marcante e até a derradeira cena perdeu seu sentido.

Freddy surge menos sanguinário, não há aqueles gigantescos banhos de sangue que pareciam afagar o ego do vilão. Isso não é exatamente um problema, já que as mortes, vistas sob a ótica do real, são mais plausíveis. O ponto negativo é o excesso de realidade de Krueger dentro de seu próprio mundo, o que limita sua personalidade a figura de um simples vingador. Falta sutileza. A mão pesada de Samuel Bayer é facilmente sentida.

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