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Críticas

Cineplayers

Sem carisma e esquecível.

5,0

A Lenda dos Guardiões (Legend of the Guardians: The Owls of Ga'Hoole, 2010) chegou aos cinemas do mundo com certa expectativa, carregando nas costas o peso de ser o novo filme de Zack Snyder. O diretor, que estreou em Hollywood em 2004 com Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004), reflmagem do filme homônimo de 1977, viu sua carreira propulsar com sua seleção de filmes cult-pop, baseados em HQs famosas e que conquistaram um status diferenciado pelo cuidado, efeitos e demais plasticidades que o deslocou do lugar comum - foi assim com 300 (idem, 2006) e Watchmen – O Filme (Watchmen, 2009).

Seu próximo filme, Sucker Punch, também carrega este hype gerado pelas escolhas feitas até então, que mostram ser Snyder um entendedor do pop, da cultura nerd, revelando aptidão para lidar com os difíceis e exigentes fãs da categoria sem precisar copiar o estilo de Tarantino, outro representante da classe. Por causa de todo este rebuliço em torno de seu nome, Snyder também se viu escolhido para tentar corrigir o desastre de Bryan Singer e seu Superman – O Retorno (Superman Returns, 2006) com Superman: Man of Steel, que já está em fase de pré-produção e tem agenda para Dezembro de 2012.

Entre trabalhos lançados e seus futuros projetos encontra-se este A Lenda dos Guardiões, seu filme mais diferenciado até então. Claramente direcionado ao público infantil, se inspira nas fábulas grandiosas, no escolhido, no grande feito, na epopeia de um herói. É o resgate do mito em uma geração lotada de anti-heróis e sequências. Baseado no romance de Kathryn Lasky, conta a história da pequena coruja Soren, que após ser sequestrada por uma gangue que faz lavagem cerebral em outras corujas para que elas trabalhem a seu favor, foge em busca dos lendários guerreiros das histórias de seu pai, os Guardiões de GaHoole, buscando salvação para sua espécie.

Snyder filma com mão pesada, exibicionista, gosta de dar espetáculo, com excesso de câmeras lentas, lotado de violência sem sangue, mas com uma montagem que parece sabotar a proposta, claramente de metragem capada para ter uma duração menor para agradar aos baixinhos. Se em certo momento um personagem fala “quando tiver voado o mais longe que puder, ainda estará na metade do caminho”, há uma incongruência com um corte seco para uma sequência onde eles já chegaram justamente ao local que, pelo diálogo anterior, deveria estar muito mais longe do que é exibido. Falta fluência e, principalmente, lógica nesta montagem apressada, estabanada e sem emoção, que vai contra a ideia de Snyder de criar algo épico, grandioso.

Já as imagens, geradas pela mesma empresa australiana que deu vida ao oscarizado Happy Feet: O Pingüim (Happy Feet, 2006), são um espetáculo a parte. O nível de detalhe nos personagens é absurdo, principalmente nos closes e nas cafonas câmeras lentas, que parecem ter sido escolhidas apenas para realçar esta beleza que se passa tão rápida nos frames agitados de uma cena de ação em tempo real. Cada expressão, cada movimento, cada pena, tudo é criado com um cuidado tão magistral que a tênue linha que separa realidade do imaginário começa a ficar turva – sim, certos momentos as corujas parecem ter vida.

É uma pena dizer então que a arte não acompanha a inspiração da composição visual. As corujas parecem demais umas com as outras, com apenas alguns detalhes as diferenciando, como altura, peso ou cor (principalmente as brancas). Não se sinta constrangido se por um momento ou outro você não souber quem é quem na tela: falta personalidade à arte, que acaba transferindo este defeito aos seus seres – e, o pior, dificultando a identificação com os ‘mitos’. Tudo fica ainda mais agravado quando as corujas se preparam para a batalha, pois além de aumentar significativamente o número de personagens parecidos em quadro, as máscaras as deixam ainda mais uniformes.

Há também uma falha na construção de suas personagens. Se a ideia de se criar algo grandioso esbarra na necessidade de ter um herói forte, inspirador e invejado, não vai ser em Soren que as crianças encontrarão o espelho para sua fantasia – e não é pelo fato dele ser uma coruja, já que há inúmeros exemplos de animais que são bem sucedidos nesta categoria, como O Rei Leão (The Lion King, 1994) e A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp, 1955). Há pouca magia naquilo que o envolve, e a falta de carisma o torna um pouco antigo, afastado – sua época já passou mesmo antes dele ter existido. Falta comicidade, que geralmente é uma fórmula para atrair o público para o lado da obra, e ao mesmo tempo falta também algo novo, que saia do convencional em um trabalho que é redondinho demais, previsível e datado.

Não funciona e não empolga, escondendo (e esquecendo) toda a beleza da computação gráfica em uma história sem sal, sem graça, batida e desinteressante. É um filme para nos lembrar que Zack Snyder tem talento, mas assim como outras promessas recentes de Hollywood, não deve ser tratado como um Deus que não erra. A falta de empolgação dos pequenos no feedback só prova de que o filme não casa bem sua conduta entre ideia e público-alvo. É um grande vazio embalado com um perfeito papel de presente, que assim como uma das grandes epopeias em que fora inspirado, vai funcionar como um cavalo de Tróia para uma sessão que tem um recheio bem menos divertido do que se propõe.

Comentários (1)

Vinícius Aranha | sexta-feira, 03 de Agosto de 2012 - 22:02

O principal erro do Zack Snyder, fazer 300

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