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Críticas

Cineplayers

Um filme que não é ruim, mas que não traz nada de novo ao público e tenta emocionar a cada segundo de forma forçada.

6,0

Filmes de boxe costumam se dar bem no Oscar, vide Rocky, Um Lutador e Menina de Ouro, principalmente quando concentram seu foco não na ação do combate, e sim no trabalho psicológico dos personagens para vencer algo maior do que uma simples luta.

Tendo plena consciência disso, a Miramax lança a sua aposta para o início do ano que vem: A Luta Pela Esperança, drama sobre a vida do boxeador Jim Braddock, que venceu os grandes obstáculos de uma era sombria da história norte-americana pelo amor à sua família e ao esporte. Além do tema, o estúdio reúne ainda a dupla vencedora do Oscar de 2002, o diretor Ron Howard e o colossal ator Russell Crowe, que juntos fizeram o vencedor Uma Mente Brilhante - outro trabalho com fórmula pré-Oscar, o que comprova ainda mais as intenções do Estúdio.

Tudo se passa em uma era pós-depressão, com Jim sendo apenas mais um perante à grande crise que abalou todo os EUA, quando a bolsa de valores de Nova Iorque quebrou, em 1929. Tentando a todo custo alimentar sua família, ele vê novamente no boxe a oportunidade não só de conseguir aquecer e dar o que comer aos seus filhos, como também reviver um grande sonho. Só que a segunda chance de Jim serve como estímulo àqueles que não têm mais nada, que estão desesperados em uma era onde morrer talvez não fosse má idéia, trazendo a esperança para todos que estão na mesma situação.

A fotografia fria e as músicas sentimentais retratam o clima pesado da época, com um competente casal de protagonistas que nos fazem realmente nos preocupar com os rumos que aquela história pode tomar. Russell Crowe é um monstro de interpretação e está entre os melhores atores da atualidade. Sua suavidade na hora de reagir aos mais diferentes tipos de situação, desde singelas expressões às maiores explosões de raiva, ajuda muito a nos manter dentro da história que Howard quer contar. Zellwegger deixa de lado a voz irritante de Cold Mountain para assumir uma mãe de família não menos guerreira que sua personagem anterior, mas também não menos chata. As crianças, para variar, fazem qualquer uma das novelas da Globo sentirem vergonha de se acharem artistas.

Só que toda essa pretensão traz problemas. Fica extremamente explícito – e, portanto, artificial – a intenção dos produtores de causar lágrimas no público. De todo o filme, cito apenas uma passagem como forte e que realmente funcione, que é quando Braddock coloca seu chapéu em mãos (não contei nada demais). Nem mesmo a luta final consegue emocionar, pois Rocky já havia feito algo maior e melhor trinta anos antes. O combate simplesmente acontece, e a purificação do então vilão da história (sempre há um) é até irritante de se ver. Ele não entendia as motivações de Jim, e não seria depois de levar um monte de murro na cabeça que ele iria entender.

Com tanta concorrência no mercado, A Luta Pela Esperança acaba deixando a desejar. É um filme bacaninha, bonito, bem interpretado, mas que não adiciona nada de novo a um gênero tão bem representado. Comparações são inevitáveis. O realismo seco de Balboa dá um nocaute impiedoso no sentimentalismo forçado de Howard. Talvez se este filme fosse lançado nos anos 50, com um autor que deixasse a emoção partir da situação, não querendo que ela nos fosse importa, o resultado pudesse ser muito mais impactante. Hoje faltou o sal.

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