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Críticas

Cineplayers

Um documentário sobre a reprodução sofrida destas aves tão maravilhosas: os pingüins.

7,0

Pensar em passar uma hora e meia em um cinema gelado para ver pingüins se reproduzirem pode parecer, à primeira vista, uma loucura. E de certo modo é, mas uma loucura deliciosamente artística, prazerosa de se acompanhar. O diretor estreante Luc Jacquet aproveitou sua experiência com as aves e fez um documentário bastante divertido em seu filme de estréia, informativo, bonito, mas só para aqueles que já tem certa afeição pelo animal. Isso porque, com a maior sinceridade do mundo, apesar do imenso esforço que os pingüins fazem para se reproduzir, digamos que tudo não seja lá muito interessante.

O grande mérito, em ser interessante o filme, é do diretor. Captando com uma sensibilidade incrível todo o processo de marchas dos pingüins, que vai desde sua reunião para uma gigantesca caminhada em conjunto (nesse momento, destaque para o movimento de câmera panorâmico, que dá dimensão à ocasião) até o retorno ao mar, com os filhotes já crescidos e se aquecendo por si sós, tudo fica mais interessante e cativante devido ao preciso trabalho técnico da equipe.

Digo isso em um importante âmbito geral, uma vez que as precisas imagens nos ajudam a apaixonarmos por um dos piores lugares do mundo. Elas captam detalhes impressionantes, como os pequenos gestos, praticamente despercebidos por olhos comuns, e que têm o mérito de serem filmados de modo perfeito, no momento certo. O diretor sempre está presente nesses momentos, não os deixando escaparem ou ficarem mal-feitos – uma qualidade importantíssima para que o seu filme funcione. É impressionante como nos divertimos com as quedas dos pingüins, como torcemos por seu sucesso, como ficamos emocionados quando algo de ruim acontece; e por aí vai, em uma infinidade de sentimentos que o trabalho consegue nos causar.

O som é outro ponto especialíssimo para o bom-funcionamento geral. A qualidade com que sons quase mudos são captados em meio a uma sujeira sonora é impressionante: mesmo com o vento, a nevasca, diversos gritos, tudo o que o diretor quer nos mostrar está em alto e bom som no filme. A edição também tem um papel especial, uma vez que o lento processo tem que ser acelerado de maneira considerável para caber em um filme sem parecer chato (já disse, o processo, por si só, é um porre; a equipe é que tem méritos por tornar tudo interessante).

Agora a narração, muito elogiada por muitos, é que ficou incrivelmente ruim. Tentando deixar tudo mais dramático, o texto até que é bom, mas tem uns pontos desnecessários, que ficaram ainda piores nas vozes dos atores brasileiros (Antônio Fagundes e Patrícia Pillar). A passagem de tempo, por exemplo, quando um repete a frase do outro, é quase motivo de risos. Chega quase a ser uma ofensa perante às belas imagens e sons que o filme apresenta, uma vez que tentam adivinhar o que os pingüins estão pensando, romantizando tudo. O processo, por si só, já é belo. Ver o que os pais fazem pela vida não precisava de uma narrativa à lá National Geographic para tentar deixar tudo melhor. Há algumas frases boas (como as dos pingüins jovens), mas são poucos momentos perto de todo o texto apresentado.

Agora, depois de se assistir ao filme e ver o que os pais passam por instinto para dar continuidade à vida, e pensar que esse mesmo processo se repete por milênios, sempre com a mesma precisão, sempre no mesmo lugar, isso sim é uma mágica. E aí não poderia deixar de concordar mais com a narração do trabalho, afinal, é exatamente isso que parece ao pensarmos mais a fundo sobre o processo. O filme irá crescer dentro de você com o tempo, acredite em mim.

Obs: é impressionante o número de pessoas que levaram seus filhos à sessão. Acredito que ele tenha sido vendido um pouco errado para as pessoas, uma vez que elas devem ter ido, inclusive, achando tratar de uma animação, filme infantil ou algo parecido. É apenas uma curiosidade que gostaria de compartilhar com nossos leitores. Se você é um desses pais, aviso: não leve o seu filho à sessão. Ele vai te agradecer sem ao menos saber o porquê.

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