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Críticas

Cineplayers

Um filme do qual se poderia esperar muito denuncia-se uma decepção por ter um argumento tão fraco.

5,0

Esperava-se muito deste que é o sexto filme da diretora argentina Lucrecia Martel. Os motivos eram muitos: a excelente recepção ao seu filme anterior, “O Pântano”, por parte da crítica especializada – sendo inclusive considerado por vários como um dos dez melhores filmes do ano passado; a produção por parte de ninguém mais ninguém menos que Pedro Almodóvar; a seleção do filme para a competição oficial do Festival de Cannes ano passado; e a própria fase atual do cinema argentino, que vem entregando obras magníficas, como “9 Rainhas”, “Plata Quemada”, “O Abraço Partido” e tantos outros exemplares.

A sinopse, se não era algo inovador ou excitante, pelo menos era adequadíssima ao estilo e proposta de Martel. Amalia (a estreante María Alche) é uma adolescente de dezesseis anos que mora em um antigo hotel junto à mãe, Helena (Mercedes Morán, que participou de “Diários de Motocicleta” junto a sua colega de elenco, Mía Maestro). Amalia divide o seu tempo entre os estudos, às aulas de religião e as dependências do hotel, no qual a mãe recém-divorciada é a gerente. Seus princípios mais pueris vão se conflitar quando ela recebe, furtivamente, uma carícia sexual no meio de uma multidão por parte de um dos médicos que estão em conferência no hotel, o Dr. Jano (Carlos Belloso). Amalia passa então a se sentir sexualmente atraída pelo maduro médico, ao mesmo tempo em que coloca em dúvida os seus preceitos católicos. A mocinha, que até então se achava uma missionária de Deus, passa a ter esse conflito interno, que é o mote principal do filme que, para tornar mais complexa a trama, ainda cria uma atração de Helena pelo médico, forçando um triângulo amoroso anticonvencional (eu diria desnecessário, também).

Uma pena que o argumento seja tão fraco, o que é determinante para diminuir a força do filme. Martel usa todo o seu inegável talento tentando disfarçar as deficiências do roteiro, impondo à sua película um clima inquietante, soturno, sempre querendo criar um incômodo no espectador com tudo o que é apresentado na tela. Criando sempre uma áurea de suspense, Mortel aguça os sentidos do espectador, mas acaba caindo na armadilha da convenção. Seu filme é esquemático, quadradinho demais e, por vezes, entediante. Até mesmo soluções criativas, como o uso do poder da sugestão, acabam não funcionando como deveriam. As questões que o filme gostaria de debater, como o a relação entre sexo e religião, acabam sendo diluídas pelo roteiro pouco ambicioso (que é da própria diretora), tornando o filme perfeitamente esquecível.

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