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Críticas

Cineplayers

Um belo exemplar de animaçãoo por Tim Burton, só peca no roteiro por demais linear.

7,0

Tim Burton está de volta. E, com ele, toda sua excentricidade, aqui expressa em tonalidades mórbidas e uma técnica de animação já conhecida por muitos, mas muito bem realizada. A mente particular de Burton, muitas vezes, guarda surpresas de que nenhum espectador desconfia - mas seu estilo próprio é facilmente identificável. Burton, como o reverenciado cineasta que é, marcou A Noiva Cadáver com suas características mais deliciosas, que são praticamente só suas e que ninguém tasca.

Baseada em conto do folclore russo, a história aborda o casamento entre Victor Van Dort (voz de Johnny Depp) e Victoria Everglot (voz de Emily Watson). Ambos são tímidos e contidos em gestos e palavras, e vêm de famílias financeiramente decadentes. O matrimônio é um evento arranjado, na verdade, porque cada família pensa que a outra é imensamente mais rica. A situação desvia-se completamente quando, por engano, Victor evoca uma noiva que fora assassinada no dia de seu casamento. Agora, ele deve decidir-se entre Victoria ou a noiva-cadáver.

Transitando entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, o enredo do filme constrói paradoxos interessantes (embora na execução da premissa seja extremamente linear). O mundo dos vivos, por exemplo, é o apogeu da morbidez: os cenários transitam entre o cinza-claro e o cinza-escuro. O mundo dos mortos, por outro lado, é um universo inteiramente alegre, colorido e agitado.

A movimentação cadenciada do stop-motion é especialmente justificável no mundo dos vivos, onde tudo é muito sincopado num ritmo exato e mecânico, conforme evidencia a sequência que abre o filme e conforme ressalta o aspecto retilíneo dos edifícios, sempre semelhantes a caixotes. A movimentação torna-se extremamente mais fluida no mundo dos mortos, onde há maior dinamismo entre o cenário e aqueles que interagem com ele. Apesar de cenários sempre palatáveis, com uma iluminação sombria que se dirige apenas para algumas porções da paisagem, deixando evidentes as sombras, é o imenso leque de expressões faciais que fascina o espectador. As personagens possuem traços exagerados e muito marcantes, que lembram as bizarras figuras de Bicicletas de Belleville, mas a movimentação e a expressividade em muito remontam a O Estranho Mundo de Jack (impossível não mencioná-lo).

Ao mesmo tempo em que trabalha com uma temática complicada, o dilema entre o carnal e o eterno e os questionamentos que isso provoca, Tim Burton encontra espaço para ironizar e romantizar. O lirismo melancólico encontra seu espaço em várias cenas da película, especialmente quando há melodias em piano para sustentá-las. O filme permite-se exibir várias cenas musicais, em que os trocadilhos intraduzíveis vêm com uma ironia impagável.

Aliás, a parceria Johnny Depp - Tim Burton é tão indissociável quanto a união Tim Burton - Danny Elfman. Se por um lado Elfman mostra-se um compositor sempre talentoso e de repertório às vezes eclético, com músicas que se adequam ao filme, por outro ele pode parecer repetitivo e já cansativo.

O filme termina de maneira seca e direta, não menos imprevisível, e conclui uma trama que, mesmo inusitada, poderia ter sido menos linearizada. Ainda assim, é inegavelmente um espetáculo de talentos, que se distribuem entre o técnico e o artístico. Matrimônio que, quando funciona, ninguém derruba.

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