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Críticas

Cineplayers

Um divertido suspense quebra-cabeças, não abusa da inteligência mas também não é pretensioso. Um pequeno prazer.

7,0

Marc Forster, o excepcional diretor de A Última Ceia e Em Busca da Terra do Nunca, retorna com um filme cabeça, que já pode ser encontrado nas locadoras. Aparentemente bem cerebral, consegue fugir do estereótipo de auto-importante ao saber unir entretenimento e roteiro sem ser pretensioso demais nem estúpido demais. A Passagem é uma agradável surpresa que, por motivos óbvios (que serão vistos aqui logo logo) teve uma bilheteria horrenda, mas pode ser indicado para todo mundo que quer fugir do lugar-comum do cinema de suspense monótono dos dias atuais.

Não pretendo contar o final aqui (há um parágrafo separado para isso mais para frente), mas com pouco tempo dentro do filme percebe-se que um quebra-cabeça está sendo montado e tudo será explicado quando o filme terminar. Com semelhanças aos trabalhos de David Lynch, porém de forma bem mais acessível ao público “normal”, Foster dirige um roteiro quebrado, com personagens anormais e acontecimentos cada vez mais sem sentido. Porém, ao contrário das histórias de Lynch, há uma explicação mais fácil e coerente no final, que não precisa de nenhuma peripécia ou invencionismo para ser alcançada.

Obviamente o público casual vira a cara para esse tipo de trabalho, mas há um bom nível de suspense nele e algumas cenas muito (mesmo!) bem dirigidas para fazer com que ele seja merecedor de sua atenção. Algumas dessas cenas possuem um ar assustador, e algumas aparições esquizofrênicas dos personagens – sempre com bom gosto – montam um clima perturbador, que tem um valor próprio independente do que o espera no final. Obviamente isso não é trabalho original e sequer especialmente inteligente, mas não se pode negar que há uma boa chance de você achar tudo divertido caso não seja um espectador muito acomodado.

As atuações do elenco predominantemente jovem, em especial McGregor, trazem bom valor ao filme, e ter Naomi Watts entre os atores sempre é algo que adiciona ainda mais pontos a qualquer filme. Uma trilha sonora eficiente, que cria um ar tenso no background dos acontecimentos é outro aditivo interessante. Finalmente, a ótima montagem, cuidadosa que só vendo para não entregar o grande segredo do filme antes do tempo certo, faz com que tecnicamente este seja um trabalho de boa impressão. O orçamento realmente ficou um pouco grande para um filme sem ação e sem elenco estelar: US$ 50 milhões.

Está aí uma boa recomendação. É só não esperar algo muito sofisticado ou muito cerebral ou, por outro lado, não assistir ao filme passivamente, que A Passagem pode se tornar uma boa sessão de cinema. Especialmente em uma época que filmes ruins devastam as locadoras, não se deve denegrir o valor de uma pequena pérola como esta. Uma curiosidade: David Fincher foi cotado para dirigir o filme, seria bem a cara dele mesmo.

Uma pequena explicação do que acontece no filme – somente para quem já assistiu e tem dúvidas sobre o que diabos se passou.

Muitas pessoas que viram o filme e tentaram analisar ele fizeram isso de forma um tanto quanto exagerada. Na realidade o que acontece é bastante simples, e o que parecia ser incompreensível é explicado de forma extremamente clara nos últimos cinco minutos de A Passagem. Tudo o que aconteceu no filme até aquele momento não passou de uma grande alucinação (em uma espécie de coma) de Henry, que associou as pessoas que vira durante seus poucos momentos de lucidez pós-acidente a esse sonho. Como em todo sonho, não há necessidade de haver lógica nos acontecimentos e lineariedade. Isso explica as repetições de cenas e ilogicidades da história. Nem mais, nem menos.

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