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Críticas

Cineplayers

Tecnicamente muito bem acabado, porém um filme frio e distante.

5,5

Em letreiros apresentados antes do início do filme, ficamos sabendo que não se trata de uma cinebiografia no sentido tradicional do termo sobre a famosa fotógrafa Diane Arbus (1923 – 1971). A proposta é nos levar até 1958, ano em que Arbus assume o controle criativo de sua obra, e apresentar ficcionalmente as transformações que a levaram a se tornar uma das mais respeitadas artistas do século XX.

Baseado na biografia lançada em 1984, escrita pela especialista Patricia Bosworth, o projeto de transformar o livro em filme ficou mais de vinte anos para sair do papel. Vários diretores e atrizes foram ligados ao projeto, e foi Steven Shainberg, que anteriormente tinha realizado o interessante Secretária, quem acabou efetivamente rodando a obra. Junto  a roteirista Erin Cressida Wilson, com quem trabalhara antes em seu longa-metragem anterior, Shainberg concebeu toda uma transição, mesclando realidade e ficção, entre a Arbus dona de casa, mãe e assistente do marido fotógrafo de moda e a Arbus em seu estado artístico pleno.

É na relação entre Arbus (interpretada com a competência de sempre por Nicole Kidman) e seu novo vizinho do andar de cima de seu apartamento que o filme sustenta a sua tese. A fotógrafa sente-se extremamente atraída por aquele homem, que se apresenta fartamente vestido e oculto através de uma máscara. Como em Alice no País das Maravilhas, ela adentra no mundo de Lionel, e se vê imersa em um mundo todo novo, cheio de descobertas, rompendo definitivamente a linha que separava sua existência anterior e a nova vida repleta de camadas que se abria para ela. 

Essa nova forma de enxergar a vida causará impactos profundos na fotografia de Arbus. Após a experiência com Lionel (um trabalho difícil para Robert Downey Jr.) e separação profissional do marido Allan (o excelente Ty Burrell, ator oriundo do teatro, visto recentemente em Amigas com Dinheiro), ela volta-se suas lentes para todo o tipo de pessoas marginalizadas – anões, pessoas com anomalias físicas, travestis e congêneres – até o seu suicídio. 

Fazendo referências a A Bela e a Fera, de Jean Cocteau, principalmente na concepção visual de Lionel, A Pele é um filme que peca por ser demais distante, por ser demais empolado. Enquanto a protagonista sofre uma explosão moral, o filme tenta a todo o custo manter distante o espectador da história, seja com o andamento lentíssimo, seja com a trilha sonora minimalista, seja com diálogos escassos. O diretor Shainberg tenta compensar esse distanciamento entregando um filme tecnicamente muito bem acabado, mas carente de paixão, algo que certamente jamais faltou ao trabalho de Arbus. E que resulta em um filme mais estranho do que realmente bom.

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