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Críticas

Cineplayers

Soderbergh em mais um trabalho de pura picaretagem.

5,0

Depois de alcançar a equivocada fama de cult entre boa parte dos críticos com o sucesso de Sexo, Mentiras e Videotape (Sex, Lies and Videotape, 1989), Steven Soderbergh aproveitou esse status para colocar em prática o que viria a ser o seu verdadeiro cinema, que consiste basicamente em escalar um elenco descolado que esteja na moda em Hollywood para comandar histórias extremamente simples e formulaicas. Seu foco a partir deste momento foi o de brincar de fazer cinema de gente grande, desconstruindo gêneros e divertindo a si mesmo a cada novo trabalho. É por conta disso que seus filmes parecem sempre tão rodeados de uma atmosfera cool, despojada, que nada mais faz do que maquiar um cinema puramente comercial e na maioria das vezes vazio – mas não por isso menos divertido.

No caso de seu mais novo trabalho, A Toda Prova (Haywire, 2011), a brincadeira é mais ou menos essa. Querendo apostar nas premissas dos típicos filmes de espionagem, com direito a agentes duplos e traições profissionais, o cineasta escala um elenco de peso e surpreende por colocar Gina Carano encabeçando o cast. Para quem não sabe, Gina Carano é uma lutadora profissional de MMA nos Estados Unidos, e não uma atriz. Pode parecer estranho, e até levemente feminista, ver Gina no comando de uma história co-protagonizada pelo ator-sensação do momento, Michael Fassbender, e por nomes já respeitados como Ewan McGregor, Michael Douglas e Antonio Banderas. Até porque a parte da pancadaria, da ação e da brutalidade fica toda por conta dela, e faz os seus companheiros de elenco parecerem uns fracotes em sua presença.

Na trama de A Toda Prova, Carano dá vida a Mallory Kane, uma agente de segurança de um grupo privado estrategista militar, que é passada para trás pelos seus próprios colegas de trabalho, decidindo sair em busca de vingança.  A partir de então, a brutamontes terá de impedir uma catástrofe de proporções internacionais enquanto dizima todo mundo que aparece na sua frente – um trabalho que exige mais os músculos de uma lutadora de MMA do que o talento de uma atriz profissional, por isso não espere uma atuação decente da parte de Carano.

Essa ideia de escalar uma lutadora ao invés de uma atriz rende o maior interesse do público pelo filme, e momentaneamente nos desvia a atenção da condução da historinha pífia e clichê – uma picaretagem das boas que já havia sido usada quando Soderbergh escalou uma atriz pornô para viver uma prostituta no filme Confissões de Uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, 2009), ou quando colocou Julia Roberts, no auge de seu estrelato, para comandar uma história não muito comercialmente viável em Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich, 2000), fazendo do filme um sucesso estrondoso de bilheteria. Quanto ao resto do elenco estelar, é apenas para fazer volume e barulho, chamando a atenção para si e encobrindo o roteiro esburacado.

E apesar de não possuir nenhum talento cênico e nem ao menos certa dose de carisma para uma possível conexão com o público, Carano dá conta de comandar as quase ininterruptas cenas de ação, com direito a muito tiroteio e muito barulho, numa versão feminina de Sylvester Stallone, só que temperado por sua sensualidade apelativa, que garantirá a atenção do espectador do início ao fim. Uma boa opção para quem curte filmes de ação descontrolada, mas uma armadilha para quem procura encontrar um pouco do requinte de Soderbergh, que aqui assume de vez seu lado mercenário.

A Toda Prova é, portanto, nada mais que um belo filme de pancadaria e violência, de viés feminista, e revestido por uma roupagem de trabalho experimental descolado e diferente. Ou seja, um resumo do próprio cinema de Soderbergh, que nunca passou de uma sucessão de mentiras bem contadas e bem maquiadas por um elenco carismático. Se na maioria das vezes esse tipo de brincadeira funcionou graças ao elenco, como é o caso do divertido Onze Homens e um Segredo (Ocean’s Eleven, 2001) e suas continuações, no caso de A Toda Prova, essa opção parece um tanto insuficiente e acaba fazendo o feitiço virar contra o próprio feiticeiro, expondo sem dó a condição profissional atual de Soderbergh, e provando sem deixar dúvidas que ele sempre foi um grande picareta – um esperto e talentoso farsante.

Comentários (3)

Cristian Oliveira Bruno | sexta-feira, 22 de Novembro de 2013 - 14:12

A Ação do filme é muito boa e tem alguns planos e cenas muito interassantes, principalmente a de Mallory sendo seguida na rua. Mas não é indispensável não. Até por que tem Bill Paxton. Nossa Como esse cara é ruim!!!

MAURICIO ALVES DA COSTA | domingo, 22 de Junho de 2014 - 15:58

Eu prefiro definir Mallory Kane como uma versão feminina de Jason Bourne.

MAURICIO ALVES DA COSTA | domingo, 22 de Junho de 2014 - 16:19

Eu prefiro definir Mallory Kane como uma versão feminina de Jason Bourne.

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