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Críticas

Cineplayers

Uma bela adaptação para o cinema de um dos mais famosos contos de Natal.

8,0

Quando chega o mês de dezembro, não há dúvida: tudo parece imbuir-se de uma aura natalina, do espírito das celebrações de fim de ano, daquela sensação de confraternização envolta pelo tema da festa do Papai Noel. Para quem gosta de cinema então, nada mais indicado do que um filme de Natal. É claro, entretanto, nem todos ligam muito para essas coisas, e há ainda aqueles avarentos que odeiam Natal e todo o clima já mencionado. Seja para esses corações de pedra, ou para quem adora enfeitar a casa com pinheirinho e meias vermelhas, uma boa pedida é o filme Adorável Avarento.

Trata-se de um tocante filme inglês de 1970 que é uma adaptação do conto “A Christmas Carol”, do escritor inglês Charles Dickens. A pequena fábula ganhou ao longo da história dezenas, ou melhor, centenas de adaptações para teatro, ópera, televisão e cinema (a primeira versão cinematográfica é de 1901!), sendo que esta em especial a qual esta crítica se debruça difere-se em alguns aspectos das demais versões – sendo talvez a melhor. O primeiro e mais marcante é pelo fato de estarmos diante de um filme que habilmente oscila momentos típicos de um musical e outros de narração tradicional, embora o filme freqüentemente seja classificado simplesmente como musical – inclusive sua estética lembra muito o ganhador do Oscar de melhor filme Oliver!, de 1968, igualmente uma produção inglesa, um musical e uma adaptação da literatura de Dickens. Outra característica marcante desta versão de “A Christmas Carol” que faz valer a conferida está nas marcantes atuações  de dois dos maiores atores da história do Reino Unido: Albert Finney e  Alec Guinness.

Adorável Avarento conta a história do velhinho tinhoso e arredio apegado ao dinheiro que abomina totalmente a festa do Natal. Finney vive o protagonista Ebenezer Scrooge, o velho suvina e endinheirado que maltrata o empregado, maldiz todos na cidade, cobra juros abusivos dos seus credores e não liga para nada nem para ninguém – o que dirá para confraternizações de fim de ano. Seu apego à fortuna é tamanho que justamente este personagem criado por Charles Dickens foi a fonte de inspiração para a criação do personagem da Disney "Tio Patinhas" (Uncle Scrooge McDuck). Mas algo de surpreendente naquela noite de Natal no ano de 1860 irá acontecer e mudar a visão de Ebenezer e sua atitude diante da vida para sempre. Seu falecido sócio, Jacob Marley (Alec Guinness) volta sob a forma de fantasma para assombrar a vida de Scrooge, alertando-o sobre a maneira errada a qual vem conduzindo sua vida e anunciar que naquela noite será visitado por mais três espíritos: o do natal passado, o do natal presente e o do natal do futuro. O filme, assim como outros clássicos do “cinema natalino” por assim dizer, leva a uma reflexão sobre os valores da vida e o real significado da festa.

Esta produção relativamente modesta dirigida pelo veterano Ronald Neame (que até a presente data está vivo, com 97 anos) teve resultados surpreendentes. Recebeu quatro indicações ao Oscar de 1971,  por trilha, canção original, direção de arte e figurino (e sem dúvida mereceria o prêmio pela fotografia). Recebeu também cinco indicações ao Globo de Ouro, incluindo Melhor Ator para Albert Finney, que merecidamente ganhou. É de embasbacar a versão que Finney criou do personagem Scrooge, que apesar de aparentar estar na casa dos 80 anos ao longo do filme, foi interpretado pelo ator que na época ainda estava em seus 34 anos! Chega a ser chocante como Finney foi capaz de tornar-se um idoso para este papel, repleto de trejeitos típicos de velhinhos turrões. E Alec Guinness, da mesma forma quase irreconhecível, dando “vida” a um sofrido fantasma que vaga pelo nada envolto por correntes que simbolizam o apego que teve aos bens materiais em vida.

Os mais céticos poderão achar o filme demasiadamente moralizante ou até mesmo maniqueísta, mas bons filmes de Natal tendem a ser edificantes inevitavelmente, pois evocam os melhores sentimentos em cada um, e, assim como acontece no enredo, pode converter alguém a admirar a celebração e entrar no clima de Natal, algo que para muitos deixa de acontecer a medida que a infância acaba. Se for esse o caso, Adorável Avarento pode ser uma excelente pedida, pois acima de tudo, é uma obra capaz de trazer à tona o mais genuíno espírito natalino.

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