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Críticas

Cineplayers

Um filme que até tem boa técnica e uma atriz principal que segura a barra, mas só isso mesmo.

3,0

Demorou, mas finalmente chega aos cinemas Aeon Flux, versão para as telonas do desenho de sucesso de 1995. O projeto, que de 2003 para cá passou por maus bocados e quase foi cancelado de vez, tem como um dos responsáveis a MTV Films, confesso desafeto do meu gosto artístico cinematográfico. Pior foi quando o autor da obra original, Peter Chung, revelou não estar tão convencido quanto ao resultado final, por preferir uma animação a um filme com atores reais – mas, no fundo, percebemos que a falha não foi quanto a sua estética, e sim quanto ao péssimo acabamento e ao roteiro extremamente ridículo e cheio de situações bacanas, mas muito mal resolvidas.

A história passa-se 400 anos no futuro, quando um vírus exterminou a população do mundo, menos a cidade de Bregna. Lá, vivem-se confinados em torno de um gigantesco muro as últimas pessoas do mundo, sob um forte governo ditador, que faz algumas pessoas simplesmente sumirem quando lhe é conveniente. Para combater tal governo, existe um grupo de resistência chamado Monican. Aeon Flux (Charlize Theron) é sua melhor agente, portanto, a encarregada de uma importante missão: assassinar o líder do governo. Porém, durante sua caçada, ela descobre diversos segredos, que a fazem pensar melhor sobre seus conceitos.

É inegável que há matéria-prima abundante para um filme. O universo é fascinante e cheio de detalhes; perceba, por exemplo, como tudo no ambiente se encaixa tão bem dentro de sua utilização. Porém, as situações resolvem-se de maneiras simples demais, sempre clichês, sem nunca inovar. Depois de apresentar um mundo tão bacana e bem realizado (a arte e a fotografia são fantásticas), é até ridículo parar para pensar nas soluções que a obra te dá. Tudo é muito artificial, não preparando um bom background para o que vem a seguir, acarretando uma enorme bola de neve de erros que, no final, contam como um grande fiasco.

O roteiro é muito ruim. A história geral é boa, mas com tantos furos que fica impossível levar a sério a trama. A direção é ridícula e não consegue transmitir emoção nem nas forçadas cenas de ação que o roteiro arruma para atrair o público. Como o final sugere, é como se tudo rodasse em torno de boas cenas de ação, e não de uma boa história – e, quando fico com essa impressão, costumo odiar o trabalho. Não é possível sentir emoção, estamos sempre deslocados, apesar de todo o esforço da parte técnica em manter tudo sempre crível (os efeitos especiais são fantásticos, com uma escorregadinha ou outra do chroma key).

Pelo menos Charlize Theron prova que é realmente uma das melhores atrizes da atualidade e faz o que pode para sustentar sua personagem em meio a tanta baboseira. Seu esforço físico é visível, pois sem o auxílio de dublês, ela consegue dar um ar incrivelmente verossímil à personagem - muitas mulheres, quando encarnam papéis que exigem físico, acham que fazer caras e bocas é o suficiente para convencer (vide Michelle Rodriguez; que, por sinal, esteve cotada para o papel). O resultado? Além de convincentes acrobacias, tiros e etc, um pescoço torcido e um mês de atraso nas filmagens (a roupa colada fica para os mais assanhados de plantão).

E, sinceramente, não consigo lembrar mais nada de bom. Espero que da próxima vez desenvolvam melhor a boa essência da história do que ficarem se preocupando qual seria a melhor maneira de Charlize cair na porrada em uma roupa colante.

Furos graves do roteiro – leia apenas se você já tiver assistido ao filme ou assuma a responsabilidade sobre informações relevantes da trama reveladas.

- O filme diz que, após a clonagem, demora-se nove meses para que um novo ser humano nasça. Porém, a irmã de Aeon Flux morre cedo, e logo após já tem um bebê com o mesmo DNA dela. Como pode isso?

- Como, na cena da invasão, podem tantos sistemas defensivos serem soados e, por incrível que pareça, nenhum alarme alertar às pessoas de dentro do complexo que há um intruso tentando passar pelo local?

- Meu Deus, será que é mesmo necessário terminar tudo com algumas pessoas fuzilando um número dez vezes maior do que eles e, no final, só sobrar o casal principal? Há algo mais ridículo nesse mundo em um filme que se leva a sério?

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