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Alien: Covenant

(Alien: Covenant, 2017)
5,5
Média
173 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

O vazio do espaço.

3,0
A inegável herança deixada por Alien, O Oitavo Passageiro (Alien, 1979) ao cinema foi mais bem aproveitada por filmes similares de terror no espaço ou que somente aprenderam de sua construção atmosférica do que assimiladas em suas próprias sequências. Por mais que Aliens - O Resgate (Aliens, 1986) seja um trabalho excepcional em que James Cameron soube partir da mitologia inicial de Ridley Scott e em cima disso configurar sua própria visão, trata-se em suma de um filme que se distanciou tanto do original que trabalhou no limite máximo das ligações entre os dois, focando-se muito mais na ação e na fuga do que no horror do enclausuramento espacial ao lado de um extraterrestre predador. A partir daí a franquia desandou em dois novos capítulos medonhos e só foi respirar novamente em Prometheus (idem, 2012), quando Scott voltou ao comando de sua história e lhe ofereceu uma perspectiva mais grandiosa, ainda que deficiente em muitos pontos. A distância dos anos nos permite uma óbvia conclusão: o filme original permanece num patamar inalcançável e essa é a maldição que assombra todas suas continuações, em especial esse novo Alien: Covenant (idem, 2017).

É muito provável que ninguém tivesse a remota expectativa de que após tantos anos o Alien de 1979 seria finalmente equiparado com esse novo de 2017, porém a questão aqui não é superar ou se equivaler a nada. O que mata Covenant é seu total despropósito dentro da mitologia. Se Prometheus, apesar de seu roteiro furado, ofereceu uma interessante ponte visual com o original (uma direção vintage, à moda antiga, física, artesanal, que se espelhava fielmente na atmosfera do Alien de 1979) e levantou a aposta ao questionar assuntos mais ambiciosos, como a origem da vida e os limites morais do homem diante do poder da criação, em Covenant nenhum dos atributos ganhou continuidade, apenas os defeitos foram ampliados. Burocrático, o Scott diretor não demonstra aqui o mesmo vigor que fez valer Prometheus apesar dos pesares, enquanto o roteiro consegue ser ainda mais banal.

Sem uma direção capaz de construir uma atmosfera envolvente e tensa – o forte de Alien e de Prometheus – as falhas de roteiro ficam evidentes a ponto de incomodar e estragar a experiência. A personagem feminina central, que sempre teve uma desenvoltura forte dentro da franquia, aqui é diminuída em uma figura insossa. Se pararmos para pensar que havia toda uma interpretação do combate de Ripley (Sigourney Weaver) x Alien como uma metáfora da insubordinação da mulher diante de uma criatura de visual fálico que a persegue numa tentativa de reprodução sexual forçada (frisando a heroína como diferente daquelas comuns em filmes de terror que sempre acabam subjugadas pela figura masculina dominante), em Covenant temos uma protagonista formal que jamais está à altura de seu predador, seja em inteligência ou em agilidade. O bizarro beijo gay entre dois clones talvez tenha sido uma tentativa de Scott em retomar algum tipo de metáfora, mas passa longe de achar algum respaldo que a torne significativa naquele meio.

A desculpa para recomeçar a correria também é requentada pela centésima vez: cientistas decidem abrir mão de sua missão espacial de suma importância, desviar a rota e pousar num planeta desconhecido atrás de um possível indício de vida atraí-los até lá (e, convenhamos, que esse plot nunca convenceu em filme nenhum). As atitudes deles dentro de território extraterrestre são inaceitavelmente burras e primárias, reduzindo-os a arquétipos de um filme slasher indo para o abate. O gancho com Prometheus é que lá eles encontrarão o robô David (Michael Fassbender), um dos dois únicos sobreviventes do filme anterior que agora está fazendo experimentos com espécies alienígenas e povoando o planeta com seus clones.

Os robôs sempre foram a questão moral na qual se centraliza a maioria dos conflitos na franquia. No primeiro Alien, havia um disfarçado de humano que sabota a própria tripulação em nome da ciência. No segundo, em contradição, o robô é do bem e essencial para a sobrevivência de Ripley. Em Prometheus, na ambição de Scott em fazer algo mais abrangente, David surgia como um androide de caráter dúbio, porém única mente pensante da tripulação e, mais interessante, único de fato consciente das questões sobre o poder criador, a origem da vida, os limites do homem sobre sua própria espécie. O interesse do personagem era justamente suas características mais humanas do que as de seus colegas imbecis e não à toa ele consegue sobreviver quando diante de uma ameaça alienígena, ao contrário dos demais. Ora, de coadjuvante de luxo que temperava a trama do filme anterior, David aqui vira personagem central e perde todo o seu apelo e sua lógica dentro da tradição dos robôs ambivalentes da franquia. Some-se isso a uma mocinha sem sal e Covenant não consegue manter sequer o que há de mais característico e funcional dentro do universo Alien. 

Todas as questões semeadas por Scott em Prometheus que deveriam germinar nessa continuação e expandir as fronteiras da franquia são sabotadas pelo seu próprio idealizador. Covenant é vazio em seu roteiro, em seus questionamentos, em sua tentativa de ir além e em sua direção. Temos muito sangue, muita verborragia chata e muitas ideias novas fracassadas, mas o que predomina é o vazio de uma iniciativa que rima com o vazio daquele imensurável espaço dominado por esse alien que quanto mais é explorado, menor e menos assustador ou interessante se revela.

Comentários (4)

Alexandre Koball | segunda-feira, 15 de Maio de 2017 - 09:50

Pôxa, Heitor, que nota baixa, e você gostou de Prometheus (7,5). 😕

Estava com muita expectativa do Ridley, adorei Prometheus.

Heitor Romero | segunda-feira, 15 de Maio de 2017 - 10:50

Eu achava que seria muito bom pq Scott nunca tinha errado dentro dessa franquia huahua, foi uma baita decepção.

Douglas Rodrigues de Oliveira | terça-feira, 16 de Maio de 2017 - 17:41

Parabéns pela crítica, inútil dizer, e mais inútil ainda, parabéns plea coragem de assistir isso.

Passo.

Robson Oliveira | segunda-feira, 04 de Fevereiro de 2019 - 14:41

Uma das maiores decepções que ja tive, não esperava que o retorno dos Xenomorfos viesse de forma tão ruim. Lamentável, em vista que o antecessor veio com tanta qualidade.

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