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Críticas

Cineplayers

Filme de tom completamente equivocado.

5,0

Amor e Outras Drogas tinha tudo para ser uma boa comédia romântica. Bons atores, diretor relativamente interessante e premissa fértil. Mas não deu certo. À exceção dos protagonistas, nada se salva.  A química de Anne Hathaway e Jake Gyllenhaal impressiona e, assim, o casal tem a seu favor a complacência do público para os momentos em que a breguice impera. 

O espectador é apresentado a Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) durante seu dia de trabalho em uma loja de eletrônicos e, dessa forma, já se constata a principal característica do rapaz: ser bom de lábia. Mas, por também ser iguamentel hábil - e até demais - com as mulheres, é demitido da empresa e, por indicação de seu caricato irmão, consegue emprego na indústria farmacêutica Pfizer.

A apresentação de Jamie na nova empresa escancara o equivocado tom empregado pela narrativa. Exagerada, a intenção de passar a mensagem de que os funcionários da empresa são tratados como um exército em preparação para ir à guerra parece artificial, por mais que esse seja o espírito desses profissionais. 

É já em campo de batalha, ops, trabalho, ou seja, no lobby juntos aos médicos, Jamie acaba por conhecer Maggie Murdock (Anne Hathaway), que tem mal de Parkinson ainda na juventude. Ele, um liberal nato que nunca pensa em relacionamentos, encanta-se com o estilo de vida descompromissado da garota. É curioso notar a forte química existente entre Hathaway e Gyllenhaal, responsáveis por manter algum interesse na história que, quando não está focado no relacionamento previsível dos dois, está sempre fora do tom.

Isso porque o roteiro parece querer desviar qualquer pegada mais séria que a trama, ao abordar os podres das poderosas indústrias farmacêuticas, poderia oferecer. O toque cômico do diretor Edward Zwick, exageradíssimo por sinal, não cai bem e não faz rir. Faltou bom gosto nas piadas e nas gags visuais.

E os equívocos do frágil roteiro não param por aí. Diversos elementos convencionais de comédias românticas estão presentes, mas o pior é que na tentativa de ser menos superficial do que seus pares de gênero, o longa se torna sem graça e não se livra dos clichês. Está lá, por exemplo, o irmão/amigo disfuncional e sem tato para mulheres do personagem principal que, por algum motivo, divide seu apartamento com o parente/colega escatológico.

Ainda neste caso específico, o irmão passar a morar com Jamie é uma forçação de barra, já que não havia o menor motivo para que isso acontecesse. Afinal, o caçula fora traçado pouco antes como alguém financeiramente independente e mais bem resolvido do que o irmão mais velho. Por mais que fosse só aparência, é muito artificial Jamie aceitar a presença do caçula com tamanha naturalidade, principalmente dada as características dele que, convenhamos, deixaria qualquer um louco. Aqui, não há conflitos, apenas uma briga a certa altura que, claro, vira motivo para o riso e não para o drama.

Além disso, está lá também o concorrente de Jamie no universo profissional, que faz lobby para outra indústria farmacêutica, retratado como um verdadeiro vilão, portanto, como alguém unidimensional incapaz de parecer real aos olhos do público. A necessidade de trabalhar com extremos e de deixar muito claro quem é quem e o que é o que enfraquece a história.

Fora as cenas de extremo mau gosto em todo o contexto de retratação do sucesso do Viagra, incluindo a tentativa grosseira de tentar fazer rir com uma cena de médicos praticamente atacando Jamie para conseguir o remédio, opção patética para estabelecer na cabeça do espectador um contraste entre as dificuldades de vender o concorrente do Prozac e a facilidade para desenvolver o mesmo trabalho com o remédio para impotência.

O resto é muito quadradinho. Alguém esperava que o caminho tomado pelo relacionamento dos dois fosse diferente do que aconteceu? Se fosse de outra forma, no máximo teríamos semelhanças com Doce Novembro (Sweet November, 2001) e Um Amor Para Recordar (A Walk to Remember, 2002), o que não melhoraria em nada. Afinal, quando desfechos piegas como esse acontecem, fica difícil apontar qualidades.

Comentários (1)

Flavia Cristina | quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014 - 16:07

Crítica perfeita. Bem sinceramente eu esperava mais do filme. A premissa era boa, muito interessante, ainda mais se tratando de um casal tão fofo quanto Anne Hataway e Jack Gyllenhal. Mas no fim, tudo não passou de uma comédia romântica boba, com personagens secundários bobos, de mau gosto, a ótima Judy Greer desperdiçada num papel que qualquer uma faria. O \"lado sério\" da história foi mandado pro espaço. Enfim, a trama tinha potencial, mas tudo caiu num belo clichê destas comédias românticas. Acho que esperava ver algo como Despedida em Las Vegas......

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