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Críticas

Cineplayers

Uma evolução se comparado a 'O Código da Vinci'.

6,5

A primeira sensação após a exibição de Anjos e Demônios é que Ron Howard, junto com sua equipe, conseguiu olhar os erros cometidos em O Código Da Vinci e se esforçou para não repeti-los. Nesse sentido, é possível dizer que obteve êxito.

A trama do filme, baseada no famoso livro de Dan Brown, é calcada no desafio imposto ao professor Langdon: quatro candidatos ao posto de papa foram sequestrados, com ameaça de morte em menos de 24 horas. Para completar, o oponente tem na mão a “antimatéria”, algo capaz de uma explosão gigantesca, com consequente destruição em massa. Assim, cabe ao professor decifrar os códigos por trás das mensagens enviadas pelo inimigo e, assim, conseguir salvar os cardeais sequestrados – e, claro, a humanidade. E, para aproveitar o lugar-comum disso tudo, “antes que seja tarde demais”. O que acontece, a partir daí, é uma enorme gincana, que leva o professor e seus coadjuvantes de pista em pista na busca dos criminosos.

Apesar de ser quase insuportável ter que aceitar uma trama que tem como cerne “salvar a humanidade” (não no sentido figurado, mas sim de uma explosão), pode-se dizer que o enredo não se resume a isso. A busca pelo significado das mensagens e a própria trajetória da igreja católica se fundem em um passeio histórico pela cidade; além disso, sobra espaço até para uma rápida discussão sobre religião e ciência. O que fica de curioso é o deslocamento do centro das atenções: enquanto normalmente a ameaça (de terroristas, vilões e malfeitores) se dirige a Nova Iorque (ou aos Estados Unidos em geral), aqui a desgraça aflige Roma (o que inclui o Vaticano). É evidente que isso ocorre em função do caráter religioso da obra; de qualquer forma, é algo interessante.

Depois de um início em que demora a engrenar, sobretudo pela enfadonha sequência em volta da antimatéria, a trama se torna envolvente. O mérito disso está no roteiro, principal ganho em relação ao primeiro filme. Dessa vez, parece ter sido trabalhado com mais cuidado e menos pressa. Como resultado, o filme apresenta um argumento consistente, que tem o ritmo certo (e não uma quantidade excessiva de “conclusões por minuto”). Fica bem mais fácil para os não-leitores de Dan Brown acompanhar os pormenores da trama, as conclusões do professor, enfim, os detalhes – e há detalhes – que compõem todo esse jogo armado em volta do Vaticano e da sucessão papal.

Do ponto de vista técnico, o visual é ótimo. A direção de arte é competente, e a fotografia de Salvatore Totino (apesar do nome, americano) consegue dar o tom sombrio – necessário ao clima de suspense – nas cenas internas (sobretudo dentro de igrejas) e, ao mesmo tempo, mostrar com cor e vida a cidade nas externas (afinal, mostrar que Roma é um lugar humano é fundamental para a história). Além disso, a câmera bem posicionada é capaz de captar ótimos ângulos da cidade na perspectiva histórica e cultural.

Em termos de atuação, o elenco deixa a desejar. A parceira de Tom Hanks (a israelense Ayelet Zurer) é inexpressiva e insegura – e sequer tem beleza suficiente para justificar isso. O próprio Hanks exagera nas expressões do professor. De resto, o elenco todo parece preso, pouco natural (a única exceção, talvez, fique por conta de Armin Mueller-Stahl). Como consequência disso, muitas falas parecem mais ser citadas do que ditas.

Para finalizar, é preciso mencionar a virada que acontece no fim. Isso deixa no público alguns pontos de interrogação, o que não é muito bom (o ideal, quando há esse tipo de recurso, é que reste um pensamento de “agora, tudo faz sentido”). Assim, pode ser tida como artificial e gratuita a reviravolta. De qualquer forma, a única maneira de obter melhor entendimento é ver o filme novamente.

No fim, Anjos e Demônios funciona como uma aventura de entretenimento cujo elemento histórico e cultural oferece um contraponto ao vazio normalmente associado ao gênero. E, embora a igreja não aceite essa teoria, o filme prova que – ao menos para Ron Howard – existe, sim, evolução.

Comentários (1)

Fernanda Pertile | sexta-feira, 28 de Outubro de 2011 - 21:11

O roteirista de Anjos e Demônios também foi o Akiva Goldsman? Ele tem talento, embora tenha cometido alguns erros em O Código Da Vinci...

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