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Críticas

Cineplayers

AnnaBee.

6,5
David F. Sandberg é um jovem cineasta sueco cuja breve filmografia está totalmente enraizada no horror. Ficou mundialmente conhecido graças ao curta-metragem Lights Out (Lights Out, 2014), que viralizou nas redes sociais. Não demorou muito para conseguir oportunidade em Hollywood e lançar um longa baseado no seu próprio curta, intitulado Quando as Luzes se Apagam (Lights Out, 2016). Não foi tão aclamado por crítica e público, no entanto, ao menos mostrou que seu realizador conhece fórmulas do gênero e também que possivelmente seja um cinéfilo bastante atento a convenções. Isso lhe rendeu nova chance, dessa vez com o prequel do spin-off Annabelle (Annabelle, 2014), recentemente lançado no país, acompanhado de um subtítulo: A Criação do Mal.  

O filme se passa em uma fazenda durante os anos 50 e apresenta duas histórias unindo os mesmos personagens. A primeira traz um casal e sua adoração pela filha numa brincadeira íntima que ressalta costumes identificáveis do relacionamento entre ambos; a segunda, vários anos depois, mostrando o mesmo casal oferecendo a casa a um grupo de garotas esperando adoção. Há um tempo gasto preciosamente a fim de explanar o nível de relacionamento em ambos os casos, oportunizando, dessa forma, a construção de seus personagens para que de fato o espectador se importe com cada um deles. Em face de motivações declaradas e compreensíveis, mesmo no nível metafísico, a história ganha boas personas, sendo a maioria crianças e adolescentes vítimas de doenças e do desprezo. 

Com apelo a maldição de um brinquedo já conhecido desde Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), o roteiro não perde tempo explorando a boneca Annabelle, explicando vagamente a origem de sua gênese e partindo ao que interessa, a ação do horror. David F. Sandberg, num determinado instante, emula James Wan (diretor de Invocação do Mal) quando transita por cômodos num plano único, um balé alegórico ante os personagens, explorando o espaço físico de uma grande casa ocupada por um casal e memórias. Depois abre para seu interesse autoral: trabalhar com luzes; e a iluminação torna-se suporte de cenas angustiantes, relembrando clássicos filmes de fantasmas os quais assombravam na escuridão – vale atentar-se a boa cena envolvendo um lençol. 

Têm-se um casarão escuro, envelhecido e abandonado há quilômetros de qualquer cidade. É um contexto básico quando não se precisa de muito. Algumas noites numa casa estranha e um quarto ornamentado com restos de bonecas de madeira penduradas – pedaços de um serviço interrompido – realçam o clima opressor visado na arte do quadro, particularizando o sentido das vidas despedaçadas residentes dali, prostradas diante uma maldição. A história é simplória demais, porém funcional. Lembra de Bonecas Macabras (Dolls, 1987). E lembra também tantos outros brinquedos assassinos.   

Esses spin-offs, filmes derivados de outros, parecem ter se estabelecido com força entre grandes produções de Hollywood, tornando-se desejáveis fontes de receita. Annabelle 2 - A Criação do Mal vai um pouco além por ser um prequel, ou seja, uma sequência que antecede a história original. Um prequel de um spin-off que deverá tornar-se trilogia. Ao menos este segundo é feito dignamente, melhor comparado ao antecessor pela proposta e aclimação. E é surpreendentemente violento, como pouco vê-se hoje.  

Contudo é manjado. Os sustos, seu objetivo máximo, funcionam como alicerce ao que o público busca neste filme que felizmente não alivia na tensão. Essa falta de alívio faz muito bem a narrativa, imersiva em sua estrutura, peregrinando sempre a favor da curiosidade infantil e a sombra demoníaca despertada pela intromissão. O filme vive de sustos, mas também de inquietação, o que torna a experiência em conferir ao filme bastante atrativa a quem curte o estilo. Não foge as regras convencionais. Se passa num local isolado, é fotografado como se quisesse mostrar uma casa amaldiçoada, tem luzes que falham ou estouram e expectativas nem sempre são sanadas, favorecendo a espera do público por um sobressalto qualquer. Todos sabem o que acontecerá. Previsibilidade pouco importa quando a experiência concedida agrada.

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