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Críticas

Cineplayers

A opacidade que esconde o vazio.

2,0

Alguns dos ingredientes que resultaram no excelente Drive (2011) estão de volta no último longa do dinamarquês Nicolas Winding Refn, mas com uma roupagem quase irreconhecível. Tudo no filme parece solto, sem liga – e, a meu ver, desprovido de interesse. Os 90 minutos parecem uma eternidade. O diretor aposta na força da fotografia monocromática, na potência de metáforas, na tragédia de um obscuro conflito familiar, no exótico cenário da Bangkok contemporânea e na construção de um personagem mitológico, justiceiro com as próprias mãos, lutador invencível que se julga Deus – e que, inexplicavelmente, não é o protagonista.

Os ambientes amarelos, vermelhos e azuis, ao invés de construir uma atmosfera particular, de dar forma a estados de espírito, nos sufocam. A fotografia publicitária e os primeiros planos de personagens silenciosos se assemelham a um ensaio de fotografia de moda temático. Os conflitos humanos estão ali em algum lugar, mas a plasticidade da imagem é tão espessa e opaca que não conseguimos alcançá-los. A mudez de Ryan Gosling, mais do que construir um mistério em volta do personagem que se expressa mais pela ação do que pelas palavras, parece uma falta do que dizer.

Refn queria fazer um filme que falasse de espiritualidade, ao trazer a história de um personagem perdido, em busca de seus valores e crenças. Queria evocar a tragédia grega ao instaurar um complexo triângulo envolvendo dois irmãos e uma mãe dominadora. E, claro, tudo embalsamado por uma violência pornográfica, que desafia o espectador a não desviar o olhar. O diretor disse também ter tido um processo criativo mais instintivo. Ele tentou não preocupar-se com a razão de suas escolhas. O resultado é um filme sem profundidade, sem substância. A sensação era mais de assistir a um cineasta expurgando seus próprios demônios do que a uma obra com qualidade cinematográfica.

Visto no 66º Festival de Cannes

Comentários (61)

Thiago Macêdo Correia | sexta-feira, 31 de Maio de 2013 - 07:10

Crítica de filme é segundo plano, já que podemos fazer a crítica da crítica. Exercício de metalinguagem, este post.

No final das contas, gostaria de me lembrar disso aqui e reler estes comentários quando vocês assistirem o filme. Na verdade, aqueles que conseguirem ver até o final.

Ana Paula | quinta-feira, 03 de Outubro de 2013 - 01:36

Não poderia concordar mais.

Helena Novais | sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015 - 22:03

Lygia, você realmente acredita que se um personagem aparece calado é porque não tem nada a dizer?! 😲
E diz o Daniel Dalpizzolo: "gente, cês já cobriram um festival de cinema? há muito pouco tempo pra se fazer 'puta análise maior' de qualquer coisa. esses textos aparecem com o tempo"... Bem, na dúvida é melhor não dizer nada ou ficar nos limites da resenha descritiva... Melhor para o público, para o crítico, para o site, para todo mundo...

Lygia Santos | domingo, 30 de Agosto de 2015 - 01:55

Helena, você realmente leu a crítica e entendeu que eu acredito nisso? 😲

Acho que, na dúvida, enunciar, pensar, discutir, escrever, discordar, rebater é sempre válido. E que triste seria se tudo fosse consenso. Pior para todos.

Mas pq você não diz o que achou do filme? Aí talvez dê para entender por que você ficou tão ofendida com o que escrevi.

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