Saltar para o conteúdo

Argo

(Argo, 2012)
7,6
Média
668 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Quando a realidade é bem mais interessante que a ficção.

8,5

Em 1979, 52 empregados da embaixada americana foram feitos de reféns após os Estados Unidos concederem asilo político ao Xá do Irã, um dos maiores tiranos da história do país. Para complicar ainda mais a situação, 6 funcionários conseguiram sair pelos fundos, e se esconderam na casa do Embaixador do Canadá, sem conhecimento dos revolucionários, e sem ter como fugir dali. Esta premissa, por si só, originaria mais um filme sobre as intervenções dos americanos no Oriente Médio, como tantos outros já produzidos, com maior ou menor sucesso. O que diferencia a história contada por Ben Affleck são os detalhes que permaneceram desconhecidos por quase duas décadas. Em 2001, os arquivos sobre a operação de retirada dos 6 americanos "desgarrados" vieram a tona, mostrando que um agente da CIA, se fazendo passar por um produtor de cinema, escoltou-os para fora do Irã, como parte de sua equipe, procurando locações para a filmagem de Argo (idem, 2012), um filme de ficção científica que nunca existiu.

O principal trunfo de Ben Affleck é poder contar uma história baseada em fatos reais, com elementos e situações que todos conhecem, mas com um desfecho ainda pouco conhecidos do grande público. É um daqueles casos em que a realidade é muito mais surreal do que qualquer roteiro, e sem a validade que o real lhe traz, dificilmente o roteiro conseguiria passar essa história como algo sério, crível. Em contraponto, o que provavelmente é fictício se torna o ponto fraco da narrativa, e simboliza o que é desnecessário. O personagem Tony Mendez, interpretado por Ben Affleck, por exemplo, é um acúmulo de clichês. Agente da cia, problemas de bebida, um desejo enorme de romper o sistema, salvar o mundo e voltar pra sua família partida. É como se ao desenvolver o roteiro, tudo de genial e essencial pertencesse ao mundo do real, e pra costurar a história, e torná-la um filme mais tenso, quase de ação, as vezes, fosse necessário adicionar algumas pitadas de clichês.

O filme consegue se manter interessante graças à boa direção de Ben Affleck. Muito melhor como diretor do que como ator, ele consegue se destacar por saber ser comedido quando precisa, e nos momentos mais banais, lugares-comuns, ser tão eficiente a ponto de não nos importarmos de estar vendo algo que acontece em tantos outros filmes. É a velha questão dos clichês que acontecem por um bom motivo, e que se bem feitos, não incomodam.

Vale lembrar aqui a presença de um grande elenco. A dupla John Goodman e Alan Arkin, mais presentes no primeiro terço do filme, se destacam, tendo as melhores tiradas do roteiro. A química entre eles, e os seus momentos mais inspirados, ajudam a nos fazer acreditar nos momentos mais loucos da história, como convencer o mundo que uma super produção de ficção-científica está sendo desenvolvida. Bryan Cranston, como o superior de Affleck no FBI, e Victor Garber, como o embaixador canadense, também merecem elogios.

Para quem se preocupa com o excesso de nacionalismo e patriotismo, uma boa notícia: o roteiro não alivia a barra dos americanos. Os agentes do governo que aparecem discutindo o caso citam constantemente a participação dos americanos nos fatos ocorridos que desencadearam a revolta no Irã. Admitem que por culpa deles o Xá entrou e permaneceu no poder, citando inclusive seus métodos de tortura. Em relação ao conflito EUA x Irã, em momento algum os Estados Unidos são considerados heróis. Do ponto de vista da política externa, são arrogantes e isso não e maquiado. Apenas de um ponto de vista humanista, onde eles estão tentando salvar a vida dos funcionários da embaixada, em contraponto com a pena de morte iraniana, é que a coisa se complica, e novamente temos um americano superando obstáculos para salvar o dia.

Argo, no final, é um filme de muitos acertos, tem bastante emoção, e consegue agradar um grande público, mesmo tratando de questões espinhosas como política internacional, Oriente Médio e terrorismo. Prova que não é o tema que está esgotado, mas a forma de se contar a história.

Comentários (10)

Adriano Augusto dos Santos | sábado, 23 de Fevereiro de 2013 - 09:49

A situação dos reféns e a ideia pra retirá-los de lá é ótima mas há pouco a ser visto.

Renata Correia Nunes | segunda-feira, 08 de Abril de 2013 - 22:11

Tirando algumas tosqueiras, e o sempre evitável Ben Affleck atuando, ele dirigindo não foi mal, mas poderia ter tirado um pouco do tom sem noção do filme. É tudo tão incrível, que realmente não dá pra acreditar. Me lembro de assistir à sequencia do aeroporto pensando: "ah fala sério, agora ele (Affleck) viajou... nunca que poderia ter sido desse jeito." No final das contas o filme é bom, mas é meio forçadinho.

Matheus Veiga | segunda-feira, 22 de Julho de 2013 - 19:00

não é forçado, é baseado em fatos reais.

Faça login para comentar.